O NOSSO 700º “POST”

Este é o 700º texto que publicamos neste nosso despretensioso blogue. Iniciei esta aventura em 2017, sozinho, sem compromissos de prazos nem de temas e sempre sob o lema de “liberdade para escrever”. A experiência demonstrou-me, em função do caminho que estava a percorrer, que se tornava necessário trazer outros companheiros para esta aventura, parceiros com quem me identificasse em termos de amizade e de complementaridade de vidas e pensamentos. E foi aí que surgiram os nomes do Frederico Fonseca Santos, do Rui Frias e do José Aparício. Grandes Amigos a quem a vida, na sua incessante erosão, foi trazendo desgastes e alguns recolhimentos dolorosos. Continuamos ainda a participar, mais uns do que outros, mas sempre com a alegria imensa de dizermos o que nos apetecer e o que podemos, sem sentimento de frustração e com a inalienável esperança de que um dia, sabe-se lá quando, outros virão, se o desejarem, dar continuidade a este sonho já materializado. São assim as aventuras: sabemos quando começam não sabemos quando acabam.

Relembrando um pouco a história do nosso blogue é indispensável referir a edição do livro “Escrito nas Estrelas e o Vento que Passa”, no início de 2019, integrando a maior parte dos textos desde o primeiro em 2017 até aos últimos de 2018. Foi um livro editado pela Colibri, com apresentação pública, e que mereceu razoável atenção por parte do público leitor. Publicámos, mais tarde, um livrinho mais pequeno, com os principais textos de 2019. Vamos continuar com a publicação dos livros relativos a 2020, 2021 e 2022. É fundamental também referir a participação e dedicação permanente da Cristina Marques da Silva no desenvolvimento e aperfeiçoamento de muitos detalhes do blogue. Foi ela a nossa patrona incansável na elaboração das entrevistas filmadas a diversos convidados cujas conversas se podem ainda apreciar, em qualquer altura, no YouTube.

Mas hoje o que mais nos interessa é celebrar esta já vetusta etapa recordando os textos iniciais dos quatro aventureiros que, ainda sob uma expectativa hesitante do que seria o futuro, escreveram um pouco o que lhes ia na alma. Vamos começar pelo preâmbulo do livro “Escrito nas Estrelas e o Vento que Passa”, escrito pelo José Aparício, e que, relendo-o, facilmente se percebe porque tanto nos estimulou na altura e nos continua a estimular agora. Depois dos textos do F. Santos e do Rui Frias acabaremos com o poema de minha autoria que, por sorte e sem expectativas especiais, acabou por ser retomado por gente das artes e transportado para outras alegorias com que nunca teria sonhado. Por todas estas razões compreender-se-á que o texto seja, hoje, um pouco mais longo. Vantagens ou inconvenientes de uma celebração.

Vamos, então, a essa recuperação celebrativa à luz dos “Ventos que já Passaram “.

Comecemos pelo texto do José Aparício que serviu de prefácio ao livro acima indicado:

Nos idos de 1964/65, em comissão militar nas chamadas “terras do fim do mundo”, na extremidade SW de Angola, no cruzamento das fronteiras com a Zâmbia (W) e com a atual Namíbia (S), vivi uma experiência inesquecível de que vou descrever alguns aspetos relacionados com o título desta pequena crónica. Logo ali chegados a primeira impressão foi a de que nos encontrávamos numa terra sem gente. Em redor não se viam povoações indígenas nem áreas cultivadas; confrontávamo-nos apenas com grandes espaços, uma vegetação rasteira num solo de areia, que os ventos traziam no ar em permanência e que se infiltrava em tudo. Em volta, apenas muitos e variados animais selvagens, de pequeno e grande porte, como pequenos e vários antílopes, mas também elefantes, rinocerontes, hipopótamos e leões; inicialmente, um pequeno grupo de girafas ainda nos fez companhia, mas cedo abandonou a zona, seguramente incomodadas pela proximidade de humanos barulhentos e que não eram dali. Após a primeira semana de permanência, um dia aproximou-se do acampamento um velho bosquímano que apresentava uma ferida numa perna que as “mézinhas” do feiticeiro do seu grupo não tinham conseguido debelar. Veio sempre acompanhado de elementos desta etnia tão especial que hoje ainda vagueia pelo sul de Angola, Namíbia, Botswana e África do Sul. Para além da sua típica linguagem única, aos estalinhos e sons guturais, a segunda língua do velho bosquímano era o inglês, pelas passagens por outros países da região e também pela convivência tida com os clientes estrangeiros das coutadas de caça existentes na zona onde eram pisteiros reputados. Tendo já antes tido contacto com várias etnias africanas, nunca tinha visto nada igual. Estaturas de cerca de um metro e meio, tez clara acastanhada, olhos oblíquos, na cabeça uma carapinha curta em pequenos tufos. Curada que foi a ferida que apresentava, continuou a visitar-nos com alguma frequência. Acompanhei-o várias vezes em boas e longas caminhadas. Via no chão sinais e indícios que eu não conseguia de todo ver, e ensinou-me coisas espantosas sobre plantas e árvores que víamos em redor, como pequena plantas cujos caules quando dobrados deixam cair , cada um, uma pequena gota de água (um tesouro nos bordos do deserto do Kalahari). Uma noite convidou-me a acompanhá-lo. Longe do acampamento e do barulho, deitados na areia que nos circundava, para olhar em boa posição para o céu, deu-me uma verdadeira e espantosa lição de astronomia. Dando nomes às estrelas e mostrando-me os alinhamentos para destinos onde nunca tinha ido, como Windhoek, Luanda e as então chamadas Serpa Pinto, Moçâmedes e Sá da Bandeira. Contou-me muito das suas tradições, dos valores que não mudam, da existência de um Deus todo poderoso que criou tudo quanto existe, o Céu, a Terra, os homens e os animais. Da Lua só conheciam a Lua Nova e a Lua Cheia. Das estrelas brilhantes do Céu davam particular importância à estrela Canopus onde viam , por exemplo, sinais de caça favoráveis para se movimentarem para outras paragens. No seu quotidiano, outro elemento muito relevante, e em constante observação, era a interpretação dos sinais do vento que ali sopra em permanência com maior ou menor intensidade. A caminharem estavam permanentemente a agarrar a areia do solo que depois deixavam cair para ver de que lado soprava o vento. Sabiam assim como se deslocar, para não serem detetados por outros humanos ou animais, ou para descobrirem a caça, mas também para detetarem perigos próximos. Sendo um povo de tradição oral, transmitida entre eles ao longo dos séculos, gabava-se que a sua etnia deixou sinais da sua presença na terra desde há 20.000 anos aC, como as gravuras de Drakenberg na RAS demonstram. Contou-me imensas e deliciosas histórias sobre a vida, os animais, as plantas, os remédios para as suas doenças, e também os venenos que usam na caça e na luta contra inimigos, e que ainda hoje não têm antídoto eficaz. Todo o ser vivo que for atingido pelas pequenas setas portadoras de veneno não morre logo, mas morre de certeza ao fim de algum tempo. Pensando nos tempos de hoje, vivemos uma época onde são dominantes a pressa e a dispersão. Estamos submergidos na instantaneidade das notícias, mas também da existência das “fake-news “ e das modas do momento. Vivemos assim o presente e as modas correntes a que naturalmente nos adaptamos. O que não é mau, evidentemente; mas não é de uso corrente olharmos para as estrelas ou para sinais que interiormente por vezes sentimos. Apesar de nos devermos adaptar à modernidade, afinal ao “vento que passa “ , em várias direções e com diferentes intensidades, nunca devemos esquecer os valores essenciais que parmanecem, afinal o que de fundo aprendemos dos nossos ancestrais, e os “sinais das estrelas” que, inconscientemente, todos por vezes sentimos quando paramos para pensar, ou algo de nos atinge. (José Aparício)

Vamos relembrar o primeiro texto do Rui Frias. LER É UMA PAIXÃO. Todos sabemos que ler é uma paixão. Não apenas um vício sublimado pelo cheiro mágico dos livros. Talvez escrever seja também a vontade de contar algo que não desejaríamos deixar esquecer, na imensidão deste mar em que vivemos, que tudo leva na ressaca da baixa-mar. Apenas o gosto de comunicar com a outra margem, de quem lê e gosta de imaginar. Bem no recanto de uma pequena propriedade rural, onde me aventurei a viver os meus finais de século fui, de repente, desencaminhado (vejam bem o que ainda nos pode acontecer com esta idade) pela dinâmica de um nosso amigo e partilhar a feitura de um livro, com mais dois extraordinários companheiros. Pequenos apontamentos ou ideias, sem qualquer outra intenção que não seja a de tornar este mundo mais unido e fraterno. Um mundo onde nos apeteça viver. Antecipadamente o meu bem-haja. (Rui Frias)

Agora o primeiro texto do F. Fonseca Santos. PALAVRAS INICIAIS. As razões da publicação deste livro, bem como a origem do seu título, estão explicadas nas introduções dos meus companheiros de escrita. Não tendo que explicar o que já foi explicado e sentindo- me na obrigação de dizer algumas palavras aos leitores, que gostaríamos tivesse, na sua maioria, à volta dos 20 anos, resolvi partilhar algumas reflexões que julgo importantes . Os grandes desafios que se apresentam a um jovem europeu no tempo presente são, penso eu, os seguintes: i) Manter e se possível melhorar a vivência democrática no seu país, na Europa e no Mundo. ii) Salvar as condições de vida no planeta Terra para que a raça humana não se venha a extinguir por culpa própria. Quando digo vivência democrática quero dizer um modo de vida onde todos tenham as mesmas oportunidades de realização à nascença, onde os fortes protejam os fracos, onde a riqueza não esteja mal distribuída, onde as pessoas sejam solidárias com o seu semelhante, quando este precise, onde todos tenham o direito de contribuir para a escolha dos seus dirigentes políticos. O mote de atuação deve ser: não faças aos outros aquilo que não gostarias que fizessem a ti. E finalmente um conselho: desde novo ganha o hábito de praticar um desporto, ou vários, para que consigas chegar a idoso em boas condições físicas e mentais. É evidente que só o desporto não basta, mas ajuda muito. (F. Fonseca Santos)

E agora o que eu próprio escrevi para iniciar o blogue. AS ROSAS QUE TU ME DESTE

Havia amendoeiras em flor
Naquele janeiro distante
No teu Algarve,
Todo em flor,
E com o mar, muito mar,
Teu companheiro e amante
Aquele para o qual
Sempre gostaste de olhar
E ao qual te fui roubar.
E quando, por esse tempo,
Decidimosjuntar
As nossas aspirações
Os nossos sonhos
As nossas paixões
Não suspeitámos
Como seriam importantes
As nossas decisões,
Como seriam marcantes
Os árduos caminhos que percorremos,
Longos e tortuosos,
Mas adoçados, sempre adoçados
Pela paixão de uma Rosa
Temperamental, lutadora,
Inquebrantável, formosa,
Segura de si, eu seguro nela,
Nessa espantosa Rosa amarela.
Rosas que vão florindo,
Uma a uma, todos os anos,
Até às com que agora te brindo.
Amante, professora, marinheira,
Mais tarde engenheira,
Porque no meio das intempéries
Sempre vi chegar, para me libertar,
Essa visão tão bela ,
Deslumbrante, inspirada,
De uma Rosa Amarela.
Por isso estas rosas que te dou
Não são mais que o respeito
O meu amor e o dos teus filhos
Que se revêem em ti,
Que te seguem, que te ouvem, que te envolvem,
E que te dão também as suas rosas,
Maravilhosas
Pelas quais vives, te encantas e sofres.
Que pena eu tenho
De não te poder jurar
Que sempre te hei-de dar
Rosas, muitas rosas,
Todas amarelas
Até o mundo acabar.

Poderia haver muitas outras maneiras de festejar o nosso texto número 700 mas estamos convencidos que esta não desmerece o entusiasmo com que começámos e a força com que ainda o continuamos.

Muito obrigado para todos os que nos acompanham.

VAMOS FALAR DE AMIZADE?

O termo Amizade talvez seja fácil de definir em termos gramaticais mas mais difícil de interpretar em termos práticos da vida real. Não me interessa particularmente enveredar pelas raízes históricas ou ortográficas da palavra, mas mais tentar compreender o que para cada um de nós a Amizade pode significar no mundo de relações que, ao…

Classifique isto:

Sublime recordação

Lembras-te ? Era um dia cheio de luz…! Ao longe, algumas nuvens brancas espreitavam o sossego do campo onde se ouvia os chamamentos das aves, trazida pela aragem vinda de Sul. Recordo bem ! Era a Primavera… ! Lentamente aproximei-me de ti, ali sentada naquele banco do jardim, onde calmamente costumavas ler os teus livros…

Classifique isto:

ESCREVER UM POEMA

Estava decidido a passar para o blogue um poema de minha autoria, que tenho guardado há algum tempo, quando me cruzei, não sei bem porquê, com a tradução portuguesa de um poema de Neruda que me foi facultado por um amigo. Parei a minha primeira intenção e resolvi incluir o poema de Neruda neste texto.…

Classifique isto:

Deixe um comentário

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s