OS SEMÁFOROS E O CIRCO

É muito frequente para muitos de nós que se deslocam nas vias públicas de Lisboa sermos, obrigatoriamente,parados nos semáforos vermelhos das centenas de cruzamentos da cidade. Até aqui nada de novo.

O que mais me tem chamado a atenção desde há uns tempos são os inúmeros praticantes de artes circenses que nos entretêm com habilidades fantásticas de muito difícil execução.As massas indianas são as mais frequentes mas já tenho visto exercícios arriscados com argolas, com 4, 6 ou 8 bolas, tudo aquilo a ser manipulado com agilidade, por mãos de quem sabe e tem escola para o fazer. Bem recentemente vi um rapaz e uma rapariga, cada um com uma escada de mão de um só lance, a subir a escada, equilibrando-se perigosamente, claro, e já lá em cima, jogando meia dúzia de massas indianas. Fiquei, eu e os outros automobilistas, espantado com a qualidade daqueles intérpretes das artes do circo e não me eximi ao facto de lhes dar uma pequena moeda que eles sempre procuram nas correrias entre o fim das suas exibições e o aparecimento do semáforo verde. Mas tenho ficado a pensar. Porquê estas atividades de rua e que relação têm elas com o circo em Portugal?

Desde miúdo que gosto de circo. Na época do Natal os meus pais levavam-me ao Coliseu onde me deliciava com as arriscadas habilidades dos trapezistas, com a aparente ferocidade dos leões (já amestrados, claro), a destreza dos cavalos e o roncar dos ursos, tudo isso atualmente proibido por mor da violência animal, com os trapezistas que saltavam de um trapézio para outro onde os esperavam as mãos seguras de um companheiro. Por baixo havia uma rede mas (bolas!) aquilo era arrepiante. Mais tarde passei a levar filhos e netos mas os tempos passaram e os interesses pelo circo também. Há hoje experiências talvez muito mais apelativas para a juventude.

Procurei informar-me sobre o panorama do circo em Portugal. Há escolas de circo e que papel desempenham? Verifiquei a existência do já famoso INAC – Escola Nacional de Artes de Circo, localizada em Vila Nova de Famalicão. Apresenta bons métodos de trabalho, incluindo artes de circo e ofícios circenses. Entre os seus alunos incluem-se 72 estrangeiros de 22 nacionalidades.

Em Lisboa continua a existir o famoso Chapitô que trabalha nas mesmas áreas e prepara as suas escolas para animações particulares, em empresas e organizações diversas, em Portugal e no estrangeiro.

No que respeita à atividade propriamente dita verifica-se haver poucas empresas circenses. A mais conhecida é o Circo Vitor Hugo Cardinal que tem conseguido manter a sua atividade em termos familiares. Por outro lado o Coliseu do Porto prevê a realização de 150 espetáculos em 2023.

Será tudo isto suficiente para todos os jovens que enveredam por esta esperança de vida? Claro que não. Por isso muitos deles tentam encontrar lugares em circos estrangeiros. Mas entre os 10 maiores do mundo está um no Brasil, o de Moscovo, o da Austrália, um em Inglaterra, o da China, um em Espanha e outro em França. Para não falar no internacionalmente famoso Cirque du Soleil, com sede administrativa no Canadá, que se passeia pelo mundo e nos tem visitado algumas vezes. As exigências dessa empresas são, no entanto, enormes. Os candidatos têm que se exibir com extrema perícia na sua especialidade e apresentar irrecusáveis inovações nas suas apresentações. E isso, claro, é extremamente difícil. Não admira, portanto, a escassez de lugares para todos os alunos que passam pelas nossas escolas e pelas dos outros países.

Nós somos contemplados pelo Circo de Mónaco, pela televisão, na época natalícia, que nos faz reviver um pouco a nossa juventude.

Será que já existe algum plano no âmbito da Cultura em Portugal que contemple este difícil exercício de oferta e procura numa arte tão exigente? Talvez. Mas se não houver ou os resultados não forem suficientes restar-nos-á aproveitarmos os semáforos e pedir às autoridades que prolonguem mais um bocadinho a luz vermelha.

Do que havia de me lembrar…

Um pensamento sobre “OS SEMÁFOROS E O CIRCO

  1. Também já me tenho deparado com os artistas de circo que actuam junto aos semáforos. Não tenho tido a sorte de ver números de grande qualidade, mas não deixo de contribuir com a desejada moeda.

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