BEM, MÉDIO OU MAL PASSADO?

Está não será uma questão shakespireana mas tem feito parte das vidas de muitos apreciadores de carne por todo o mundo. O bife, do lombo ou da vazia, sempre nos têm acompanhado nesta nossa vida gastronómica, para quem gosta, claro. Há quem tenha horror, desde sempre, a esses menus e se incline definitivamente para o peixe ou saladas. Sempre se disse que seriam soluções muito mais saudáveis, mas parece que a vida atual nos arrasta para essa icónica verdade, mesmo que seja um pouco contra vontade.

Se há país que se pode e deve dar como exemplo de gastronomia e riqueza económica da carne é a Argentina. A Argentina é famosa pelo seu gado e tem sido o quinto maior exportador de carne para todo o mundo. Em 1956 cada argentino comia, em média, 100 kg de carne por ano. Os seus bifes são considerados os mais suculentos, mais apetitosos e macios do mundo.

Quem resistiria a este bife de lombo?

Mas esses hábitos começaram, desde há anos, a serem contestados por Movimentos de Salvação Animal, por Organizações de Defesa do Meio Ambiente e o consumo de carne começou a decrescer drasticamente. Os argentinos, em 2021, já só comiam uma média de 73,4 kg de carne por ano, o que não impede que o negócio da carne ainda seja importante para o país. Nas famosas pampas argentinas ainda pastam cerca de 53 milhões de cabeças de gado – número que se tem mantido estável nos últimos 50 anos – num país cuja população não ultrapassa os 45 milhões de pessoas. Inevitavelmente os adeptos do vegetarianismo têm vindo a ganhar importância nas economias dos países e, sobretudo, na saúde dos cidadãos. Seguiu-se depois a escola do veganismo, ainda mais restritiva e dogmática em assunto alimentares. Todos estes novos movimentos baseiam o seu ideário, e com razão, nas situações climáticas mundiais.

Um dos argumentos é que a cultura de soja em todo o mundo se destina à alimentação do gado. Milhares de hectares de floresta terão sido cortados por essa razão. Tanto na Argentina, como em qualquer outro país, nenhum restaurante se dispensa de apresentar a sua ementa natural, incluindo as diferentes espécies de carne, bem como apresenta os menus vegetarianos e veganos para quem os desejar. Por tudo isto, atualmente, o consumo de carne tem vindo a diminuir significativamente, comendo cada britânico, por ano, uma média de 18 kg de carne, contra os 26 Kg consumidos pela média americana. Apesar das emissões de carbono com origem animal ter vindo a decrescer para bem da humanidade (dizem) muitos países e apreciadores continuam a não dispensar o “bifinho com batatas e o molho da casa”.

Não se conhece, com exatidão, o consumo de carne em Portugal mas as derrapagens têm-se mantido como nos outros países. Há mesmo partidos políticos que defendem acrisoladamente a proteção animal e a redução do seu consumo, a favor de tudo o “que for verde”. Alimentos vegetais que, para serem economicamente viáveis, têm que ser explorados com aditivos que se infiltram no solo e acabam por trazer outras preocupações.

É claro que a redução de produção de carne vem encarecer (na Argentina parece ter quadruplicado) o seu preço de venda.

Pelo que me diz respeito continuo a ser omnívoro (uns tipos antigos que comem de tudo) mas mantenho-me fiel, ocasionalmente, às idas às três ou quatro “catedrais” onde, em Lisboa, se comem bifes tão bons como os argentinos. Desculpem lá este desabafo que, ainda por cima, não tem nada a ver com a política. Experimentem-no, “bem, médio ou mal passado”, peçam sempre o molho da casa e há quem o peça com ovo a cavalo…

2 pensamentos sobre “BEM, MÉDIO OU MAL PASSADO?

  1. CARO MANUEL JOSÉ. também me considero omnívoro, mas de todas os pratos possíveis não há nada que chegue ao ao bife mal passado, com molhos, acompanhado de batatas fritas aos palitos e ovo estrelado ! Posso parecer um primitivo, mas não sofisticação que me convença. Espero bem que a proibição de comer carne de bovino ainda tenha um muito longo caminho para percorrer

    Liked by 1 person

  2. A falta de apetite, que a idade, tantas vezes agrava a minha dificuldade de escolha, leva-me a recordar os belos tempos em que um bom Chateaubriand, me enchia os olhos só de olhar. Tempos, há muitos anos ultrapassados, por terras do Centro Sul de Angola. Mais própriamente, na Cidade de Nova Lisboa, onde frequentemente me encontrava com alguns amigos, degustando as habilidades culinárias de um “chefe local “. Pois, África, tinha o condão da tropicalisação dos sabores, acentuando os paladares…! Era na Kambu, um Café Restaurante bastante confortável, anexo do Hotel Ruacaná, onde vivi seis longos meses, e deliciava, pela sua forma familiar e amistosa de bem receber. E aquele, meio passado, de uma tenrura pecaminosa, quase a dissolver-se no molho onde se afundavam algumas batatas fritas, em palitos, iam desaparecendo no meio de despreocupadas conversas, que tinham marcado os nossos dias de trabalho, e o futuro que ninguém adivinhava…! Hoje, com evidentes diferenças de ambiente, uma vez por outra, vou satisfazendo as minhas papilas gustativas, com um medianamente mal passado Bife à Nicola, no Café do mesmo nome, lá para as bandas do Rossio…!
    Não querendo ser crítico do que por cá ainda vamos tendo, parece-me que aquele tropicalismo envolvente, talvez me fizesse superar toda a falta de apetite, que acentuamente me trucida o delicioso gosto social, de comer…!

    Liked by 1 person

Deixe um comentário