A língua francesa é uma das línguas latinas, ao mundo das quais também a nossa pertence.
Foi, durante muitos anos, um tema obrigatório de estudo para os nossos jovens. Com o francês navegávamos pelo mundo e fizemo-nos entender em muitos continentes. Mas talvez o mais importante tenha sido a capacidade de conviver com a expressão francesa em todas as suas dimensões: literária, artística, empresarial. Foi assim durante muito tempo, em paralelo também com o inglês que nos era, no entanto e no início das antigas fases de estudo, um pouco menos íntimo que o francês. Estudava-se francês durante cinco anos e inglês durante três.
Conforme o tempo foi passando o inglês foi-se divulgando e implantando quase como o esperanto universal. A expansão mundial dos Estados Unidos e o imparável linguajar tecnológico para identificar tudo o que se foi inventando e se continua a inventar, fez do francês uma lingua secundária. Nem os próprios franceses que, levados pela sua reconhecida arrogância, nunca se deram ao trabalho de estudar muito o inglês. E encontraram-se, a certa altura, ultrapassados também pelos acontecimentos. Por muitos catálogos que imprimissem na sua língua e por muitas conferências que promovessem, acabaram por se sujeitar e fazer aquilo de que menos gostam: aprender inglês.
O francês aparece, atualmente, no 13º lugar dos idiomas mais falados no mundo (72 milhões de falantes) enquanto que o inglês se situa no 3º lugar (189 milhões) e o português em 6º (170 milhões). Mas mais importante que estes “rankings” internacionais é o facto, em minha opinião, de ser hoje mais difícil para quem não é, evidentemente, licenciado e especializado nessa área, acompanhar e desfrutar plenamente a cultura e o ponto de vista francês em todas as áreas do conhecimento. Jovens há, atualmente, que optam pelo francês nos seus estudos, quando não pelo espanhol ou pelo chinês, e acabam por, mais tarde, quase nada saberem de francês. O inglês, esse é que já não falha. Todos o falam ou cantam com maior ou menor capacidade. Num dos últimos concursos da televisão para descoberta de jovens cantores nem um deles, que eu desse por isso, se apresentou com uma canção francesa.
Como apreciar um George Brassens, um Charles Aznavour, um Jacques Brel? Como poder apreciar a versão original, antes de se esperar pela tradução portuguesa ou inglesa , de um romance de Camus, de Andrè Malraux, de Marguerite Yourcenar, de Vitor Hugo e de tantos outros, antigos e modernos, que enxameiam as bibliotecas? A profusão de revistas atuais de origem francesa, nas áreas da moda, da cultura, da investigação, da informação política passam despercebidas de grande parte dos nossos jovens leitores de hoje. Não será culpa deles mas julgo que muito mais devia ser feito para se recuperar aquela opção cultural. Sei que há muitos cursos e institutos que ensinam e propagam a língua francesa no nosso país mas desafio-vos a fazer uma sondagem junto dos vossos conhecidos.
Lamento que se tenha permitido o abrandamento desta competência. Ela tem muito a ver com as raízes da nossa cultura latina que é muito rica e não merece que seja apoucada por gente que olha e fala do sul da Europa como uma coisa menor, onde só se vai para apanhar sol, beber uns vinhos e ver esplendorosas mulheres. Sim, temos cá de tudo isso mas temos muito mais. E os nossos amigos franceses deviam apreciar e apoiar todos aqueles que em Portugal se interessam ou possam vir a interessar pela sua língua.
Somos latinos. Leiam e cantem em francês. É bonito.
Uma crónica muito interessante e muito bem escrita. De facto, a sonoridade daquela língua, que nos habituámos a pronunciar da melhor maneira que podíamos, desde os primeiras páginas dos livros do liceu, ficou-nos na memória…! Todas as histórias, no seu melhor francês, reforçava a ideia de uma amizade imaginária, com o Mon ami Pierrot, até ao sonho de conhecer Paris, ainda tão distante de nós, de ” faire des courses au Printemps, ou La Fayette “. Visitar o Louvre, a Galeries Jeu de Pommes e andar quilómetros a pé, sem nunca nos cansarmos. De ver o que já conhecíamos, do cinema, ou dos postais dos nossos amigos, que mais abonados, se tinham antecipado às nossas viagens . Não podemos dizer, que o francês é apenas uma recordação. Ela, pode já não ter aquela pujança de outros tempos, mas continua viva, pelas recordações de todas as cidades que visitamos, e dos bons momentos que confraternizamos com elas…!
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