NATO: O Toque Final

Na última reunião geral da NATO, a 25 de Maio, o “rapaz” Donald (de momento, presidente dos Estados Unidos) deu um pequeno empurrão ao Primeiro Ministro do Montenegro, de modo a ficar, para a fotografia, na primeira fila dos dirigentes de todos os países da NATO. Após o toque, Dusko Markovic ajeitou a gravata e lá se recompôs da tremenda indelicadeza. O certo é que esse pequeno vídeo se tornou viral nas redes sociais, passando a ser mais um prego na tampa do caixão que há-de vir, politicamente, a abrigar os restos mortais do imobiliário e hoteleiro Trump. A sua petulância fê-lo esquecer (se por acaso já tivesse dado por isso) que, a 5 de Junho, o Montenegro seria, finalmente, o próximo membro reconhecido da NATO, como acabou por se verificar. Aquela reunião foi, no fundo, a consagração daquela adesão, coisa que deu muito trabalho a conseguir e que não está completamente consolidada.
Trump, sem saber muito bem como se havia de comportar naquela reunião, mas respaldado pelo bafo nas costas do seu amigo Putin, resolveu atacar com a disquete pela qual todos esperavam: os pagamentos em dia ou não em dia dos diversos membros para a NATO, em função dos respetivos PIB’s. Lá lhe tentaram explicar coisas de natureza estratégica e funcional para as quais o “louro” não estava minimamente preparado.
Ele sabia, no entanto, porque já lhe tinham dito, que, com a eventual adesão do Montenegro, toda a costa norte do Mediterrâneo, desde Portugal até à fronteira da Síria, fica a pertencer a países da NATO. E isto é que é verdadeiramente importante. Quer se concorde ou não com o presente modelo da NATO, o certo é que os países da União Europeia poderão ter, naquela instituição, uma capacidade dissuasora e de defesa militar sem a qual nenhum país do mundo consegue hoje sobreviver. Por isso o Secretário Geral da Organização veio explicar, após o famigerado discurso de Trump, que os Estados Unidos, apesar das suas legítimas chamadas de atenção, continuava a manter todo o seu empenho na estrutura da NATO. Coisas que só o futuro nos poderá confirmar.
O Montenegro não traz notáveis reforços militares à Organização. Os seus 1950 militares, os 13 helicópteros, as duas fragatas e os três patrulhas não revigoram, especialmente, o arsenal militar europeu. Mas apesar disso os militares montenegrinos já participaram em operações da NATO, Nações Unidas e na guerra do Afeganistão.
O que verdadeiramente lhes importa é a ameaça constante dos seus vizinhos sérvios e albaneses que aspiram à grande expansão dos seus povos. E dentro do Montenegro apenas 50% da população concorda com a adesão à NATO. As sensibilidades étnicas e religiosas na região influenciam muito o desenvolvimento normal destas novas nacionalidades pós-Yugoslavia. Os bombardeamentos da NATO durante a guerra do Kosovo em 1999 ainda não foram esquecidos. Mas para o Montenegro a NATO poderá sempre desempenhar um enorme papel protetor relativamente aos seus vizinhos tradicionais.
Por outro lado, os russos sempre gostaram de investir e fazer turismo na zona do Adriático. Mas agora dizem que o país está a ser comandado por uma mafia perigosa e o governo russo parece já ter posto os adeptos montenegrinos da adesão à NATO numa ameaçadora lista negra.
Montenegro é um país pequeno mas o seu acesso à NATO foi uma grande derrota para a Russia. Foi o toque final que explica o empurrão do Donald ao pobre do Markovic!

(Recomendo a leitura do último número da revista Economist para maior desenvolvimento deste tema).

2 pensamentos sobre “NATO: O Toque Final

  1. Há dias em que nada me apetece ! Hoje, é um deles ! Possivelmente, porque o dia de ontem, me tenha oferecido como sobremesa, um espectáculo maravilhoso daquilo que somos. O 10 de Junho ! Um dia que nos exorta a sermos melhores e mais capazes. Uma data que representa um país doce, com gente doce, num clima doce. Um dia que antecipa um outro dia, com a frescura da amizade e da alegria, a contrastar o cheiro penetrante das sardinhas sobre as brasas. Somos assim, sob os efeitos de uma euforia retardada …! Mas o Mundo não para, e como todos os outros povos, também vamos andando, mesmo que aos solavancos, escolhendo estratégias.
    Sobre este assunto, sou de uma confrangedora pobreza intelectual. Não direi assustadora, mas conscientemente alheio, qual barata tonta, no meio de um areópago de inteligências apostadas no assunto. Toda a Europa sofreu as consequências de decisões, pela vertente da violação dos direitos e pela violência dos mais fortes. Foi assim sempre, e nunca mais se esqueceu de Serajevo. O embrião de uma guerra, que derramou oito milhões de almas, para as valas comuns, localizados por mais ou menos monumentos aos seus soldados. Tudo, sem resultados positivos para nenhuma das partes. Apenas a loucura dos ódios venceu e se preparou para outras aventuras semelhantes, também com semelhantes finais, sem no entanto poderem esconder Treblinka, Dachau e Auschwitz . E, da minha plena ignorância, apenas sobressai o receio de se mexer num vespeiro político, se as artes da diplomacia não se mostrarem à sua altura. Os Balcans ! A pacificação desse mosaico de países, como o nosso, ávidos de viver a sua liberdade, sem interferências hegemónicas de outros, bem maiores e mais fortes, nunca foi resolvido. As espoletas com ou sem retardador, nunca mais foram removidas por quem as soubessem desarmadilhar…! Há sempre uma Bosnia-Herzegovína, entre outros, além de uma Servia atenta. Também os credos religiosos, já mostraram a poeira que podem levantar. E a Europa, tem uma grande fronteira mediterrânica a defender, se quiser sobreviver…!

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