Estamos esta noite (21 de junho), aparentemente, a sentir algum alívio pelo facto de os terríveis incêndios no centro do país começarem a ser debelados. Os trabalhos têm sido ciclópicos, com intervenções de bombeiros, enfermeiros, aviação, militares, civis, técnicos de diversas especialidades, apoios logísticos extraordinários, para fazer face a este fenómeno anormal e aos mais 154 que se desenrolavam em todo o país.
A fase atual ainda é de inventariar as vítimas, identificá-las, entregá-las às famílias, suportar material e psicologicamente as famílias e as localidades. Pequenos lugares isolados guardarão na alma, para sempre, o terror e as perdas destes dias. Todos os responsáveis foram e estão a ser incansáveis no desempenho das suas tão difíceis missões, superando as dificiências que sempre surgem nestas condições. Operar e decidir no terreno, perante opções instantâneas e tremendas, aprende-se sempre por defeito e, muito difícilmente, em ambientes condicionados.
É raro que em condições desta dureza tudo corra sem precalços. Por muito bem estruturados que os sistemas se encontrem podem acontecer falhas imprevisíveis, obrigando a recursos alternativos. Claro que haverá que apurar o que não correu bem, o que pode ser melhorado, sem desmerecer, de imediato, o que tem sido feito no terreno.
Mas já começou a caça ao “culpado” . Em diversos programas apareceram já uns sábios comentadores discorrendo sobre os eventos, balbuciando soluções , demonstrando, na maior parte dos casos, uma confrangedora ignorância, mesmo para pessoas que, como eu, conhecem mal os bastidores de toda a complexa teia de que há muito se fala.
Uma entrevista chamou a minha particular atenção e, com certeza, a de muitos espectadores da TV: a chamada Grande Entrevista, conduzida pelo jornalista Vitor Gonçalves, à Ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa. Em minha opinião três coisas eram de salientar: a primeira, a pressa em fazer a entrevista, ainda no local dos acontecimentos antes de eles estarem terminados (a volúpia pela cacha mediática); a segunda foi a disponibilidade da Ministra para, ainda naquela fase, comparecer e sujeitar-se à entrevista ( coragem e sentido de dever); a terceira foi, como todos esperávamos, o enviezamento das perguntas, de forma a atingir o objetivo pretendido (tradição de entrevistador).
Foram muitas as perguntas, a maior parte delas prematuras. Não se pode apresentar uma conclusão antes que estejam terminados os inquéritos em curso, técnicos, operacionais ou científicos. As pessoas que estavam, de boa fé , a ouvir o debate, entenderam perfeitamente as respostas. Mas as “farpas” continuaram até à pergunta que o entrevistador queria, de facto, fazer: “Perante este caso a Senhora Ministra demite-se?” A resposta foi rápida: “Não, porque não sou cobarde!” Seguiu-se um longo silêncio ensurdecedor que o entrevistador, pigarreando, interrompeu com outra pergunta lapidar: “Esta foi a pior experiência do seu mandato?” A resposta também foi rápida e fulminante: “Não, esta foi a pior experiência da minha vida.”
Excelentes momentos da entrevistada e Grande “Aviso à Navegação ” sobre os momentos adequados para entrevistas deste tipo que não podem ser ações condenatórias. Os inquéritos e os apuramentos de responsabilidades virão a seu tempo. Grande Ministra!
RESUMO: PARABÉNS à Sra. ministra. Detesto estes jornalistas oportunistas. Gostei muito do artigo de Manuel José, e do comentário de Rui Frias. Bom trabalho. Obrigado
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Pois é Eduardo…! Defender a dama, é uma atitude ainda muito nobre, apesar do sexo fraco se ter tornado independente ( nem todas ). Mas, esta coisa de dar o peito às balas perdidas, mesmo em tempos de democracia, tem os seus amargos. O que vamos ver no muito curto prazo, é o ataque serrado ao elo mais fraco desta Geringonça, ( nunca aos generais, com o peito cheios de auto-colantes, como aparecem nos briefings da televisão ). Geringonça, que nos vai surpreendendo pelos resultados, nunca confirmados pelos bota-abaixo, instituídos desde há séculos. Parece-me, que iniciado por uns velhinhos que passavam as tardes a jogar as cartas, num jardim lá para os lados do Restelo. Não sei se existiram, porque naquele tempo não havia reformados, nem se tinha inventado a Segurança Social. Também, não valesse a pena, porque morriam quase sempre antes de chegarem à idade de 65 anos ( teria sido um êxito estrondoso, com um bom Cash Flow, sem déficites, pelo facto de os reformados irem para a cova muito novos). Mas, como ia dizendo, e para não desviar mais a conversa, parece estar a formar-se um ciclone de alta intensidade, para dar mais ênfase às campanhas autárquicas. E vai haver muita conversa tipo Canadair que nunca caiu, porque há aviões que nunca existiram…! Uma verdade de Jacques de La Palice !!!
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Não sabia o autor deste blog, meu amigo Manuel José, ( desculpe-me a intimidade ) o quanto de peso me tirou da consciência…! Depois desta entrevista à Ministra Constança Urbano de Sousa, que mais parecia um debate político, do que uma entrevista, fiquei a admira-la mais, pela sua capacidade e discernimento. Pela serenidade, a roçar a bondade…! Tinha eu, o receio das sua fragilidade feminina, de mulher serena e bondosa., frente à severidade e à aspereza tendenciosa, de perguntas de formato pernicioso. Estas ocasiões emocionais, facilitam a vida aos agentes do bota-abaixo. É já conhecido o quilate deste entrevistador ( como outros ) e ao processo de fazer gastar o tempo do entrevistado, falando ao mesmo tempo das respostas. Deplorável iniquidade, em Democracia civilizada…! E este peso, que corroía a minha consciência, mencionada mais acima, tinha a ver com os meus receios quixotescos de defender uma dama frágil, dos monstros que não são bem movidos a vento, mas movidos por interesses…! A sua serenidade, superou tudo …! Bem Haja, Sra. Ministra !!!
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