A moda e as novas técnicas de falsas notícias expandiram-se com muita rapidez por todo o mundo. Aos poucos, as novas escolas e métodos de comunicação inventaram, ensinaram e divulgaram processos atualizados de promover casos, verdadeiros ou falsos, sobretudo falsos, que são sofregamente deglutidos por leitores e espetadores de televisões que transmitem aos seus mais próximos as grandes novidades lidas ou ouvidas. Pronto, a coisa está feita. Se for verdade, não acontece nada. Se for mentira acabamos por saber, mas o problema é desfazer a mentira. Quase que é preciso o cidadão provar a mentira.
Nada disto é feito por acaso. É tudo estudado e premeditado. Uma cadeia complexa, mas insana, vai desde o criador da notícia (normalmente um conselho redatorial), a adesão de plataformas e meios de comunicação que se prestam a esse labirinto, sabendo no que participam e com contrapartidas que a cidadania desconhece. Os estagiários da comunicação, para manterem, embora por pouco tempo, o seu magro salário, lá vão falando do que lhes dizem para falar, para poderem ser despedidos se alguma coisa de grave acontecer. Pior que isso são os profissionais de longa data, com carreiras e “curricula” altamente remunerados, que dão seguimento às mesmas notícias, tomando, muitas vezes, posições pessoais sobre as matérias e, evidentemente, sabendo que estão a tentar criar o pânico entre as populações ou os menos informados da sociedade. Os preceitos da ética, da honradez profissional, da justiça e equidade da informação dissolveram-se lenta mas profundamente.
Por todo o mundo pululam estes tipos de meios e pessoas que, felizmente, em sociedades mais abertas, são facilmente identificadas. A paranóia da falsa informação norte americana, uma vergonha mundial, criou escola rapidamente. Os tweets da Presidência, completamente boçais e inomináveis, tiveram como objetivo espalhar a noção da América “big”, e de que tudo o que dali saísse seria “big”.
Já toda a gente percebeu que nada daquilo é “big” mas o certo é que a escola do caos criou a sua clientela.
As falsas notícias da Turquia são, apesar de tudo, tratadas com mais pudor e maior reticência. A malta na Europa, embora incapaz de resolver o problema, vai engonhando à espera não se sabe bem de quê. Na Venezuela o abominável está no quotidiano e não vale a pena mentir. Basta contar a verdade porque para mentir está lá o Maduro.
E agora são os incêndios e outras graves ocorrências. Na Córsega, o fogo ameaça habitações em Biguglia, num incêndio com mais de 900 hectares de floresta ardida. Por cá, nada se diz. No Chile, aviões do Estados Unidos, Russia e Brasil apoiam combates a incêndios que já lavram em cerca de 480.000 hectares de floresta (o pior da história moderna). Por cá nada se diz. Nos Estados Unidos e Canadá os incêndios são cada vez maiores e mais destrutivos. Por cá nada se diz.
Em França, no sueste, foi realizada a evacuação preventiva de cerca de 10.000 pessoas, durante esta noite, devido aos incêndios gigantescos que assolam aquela região. Por cá nada se diz.
Em Londres, depois do terrível incêndio da Torre de Grenfell, a Polícia Metropolitana já tinha identificado, até 20/7, 40 vítimas. Prevê-se que possam ser 80 mas só em 2018 as conclusões serão definitivas. E, neste caso, foi reconhecida a utilização indevida de um revestimento nas fachadas que poderá vir a indiciar penas de maior gravidade. Por cá pouco ou nada se diz.
Do que por cá se fala é dos incêndios reais que, todos os dias, surgem por todo o país, insinuando (quantas vezes não incriminando) a má atuação das instituições envolvidas nos acidentes. São milhares de hectares ardidos, são milhares de bombeiros no terreno, são todos os meios de coordenação em campo desenvolvendo as suas missões, são clínicos, psicólogos e meios sociais desempenhando, brilhantemente, as suas profissões e dúzias de ignorantes, em todas as plataformas de comunicação, papagueiam tudo o que lhes é dito para dizerem. Gente que nunca na vida se viu na terrível contingência de ter que decidir fosse o que fosse, em cima de um terrível incidente. Falar do que não se sabe é fácil, falar de experiência vivida é muito mais difícil, mas é a única forma de dar valor ao que está a ser feito. Aqui e nos outros países que vivem momentos iguais aos nossos, mas que nem uma nota de rodapé merecem. Isso não é “big”, como diz o iletrado que comanda os destinos da América. Portanto não conta.
Nesta coisa dos incêndios, os especialistas (que aparecem de vez em quando e falam com muito cuidado) sempre têm avançado com um fator importante que é o dos pirómanos. Desta vez desapareceram. Talvez existam, mas sabe-se pouco. Há um caso mais à mão, o SIRESP, coisa de que os famosos comentadores pouco percebem mas de que não se cansam de falar. Porquê? Porque isso é “big”, dá notícia, falsa ou verdadeira, não interessa.
Que é feito da ética, do profissionalismo, da honradez, da justiça e equidade da informação? O que vale é que as pessoas já perceberam tudo. O português pode parecer inculto e ingénuo mas não é. São cada vez menos as pessoas que lêem jornais ou vêem noticiários. Elas adivinham o que vai ser dito sem nunca deixarem de lamentar as desgraças que acontecem aos seus territórios, aos seus conterrâneos, aos seus familiares. Mas isso trata-se com decência, com aprumo, com profissionalismo e pluralidade. Para que não se volte a ler comentários, como eu já li, de chamar a alguma informação o “Esgoto da Notícia”.
Ou tudo o que se diz é verdade ou então, como suspeito, é um nojo.
Li o teu artigo e fiquei perplexo: então o fogo de Pedrógão Grande não é o maior do mundo, é o que matou mais gente? Vou deixar de ler notícias! Pergunto só a certos amigos. Esses não me mentem ! Obrigado Manelzé !
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Desta vez, não fui tão lesto, como gostaria de ter sido. Não, que não tivesse motivos para expressar toda a raiva que se tem acumulado em mim próprio, pela forma cínica, talvez de uma ligeireza sem precedentes, como os vários sectores da comunicação social, vão largando, aqui ou ali, os seus dardos de consciência infectada. Aliás, tudo foi muito bem explicado no assunto de hoje, que li com a melhor atenção. Da falência de uma opinião pública, cada vez menos crente dos seus valores como cidadão livre e exigente, ausente na discussão, que tudo vai aceitando por comodismo, numa aberrante aquiescência ou pela satisfação dos seus pequenos ódios. Tudo fazendo parte, de um programa ambicioso, direi maquievélico e inteligente de um poder que se esconde, usando o desgaste e a insídia, numa flagrante imoralidade de critérios…! E tudo isto, para dizer como nos sentimos sós e revoltados, quando só sabemos viver com a verdade. Aquela outra verdade, tão difícil de encontrar. De facto, estamos a viver uma grande crise de imaturidade, onde a idoneidade dos povos, é posta à prova…!
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Pessoalmente baixei a frequência de leitura de jornais. Todavia continuo muito atento ao que se passa.
Exerço mais prudência naquilo que leio. Há segmentos da informação que já não me interessam,por exemplo: o combate político diário, o futebol,etc.
Pedro Lagido,Lisboa
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MUITO BOM ARTIGO. PARABÉNS. GRANDE ABRAÇO
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