Apeteceu-me hoje deixar uma mensagem de saudade a três enormes participantes da vida artística mundial de quem todos guardaremos recordações e, muito possivelmente, reveremos peças que lhes pertencem ou que promoveram.
Refiro-me a Jeanne Moureau, falecida em 31 de julho; Sam Shepard, ator e escritor, nascido em Fort Sheridan (Illinois) em 1943 e falecido em 27 de Julho, no Midway (Kentucky); Charley Marouani, nascido em Sousse, na Tunísia, em 1926, e falecido em 29 de Julho, em Calvi, na Córsega, para onde se havia retirado. Este homem foi um empresário notável, bastando recordar três grandes nomes que descobriu, lançou e que lhe ficaram a dever as suas fulgurantes carreiras: Jacques Brel, Barbara e Sylvie Vartan. Há, realmente, épocas que nos retiram pessoas que eram, para nós, seres adquiridos.
Mas porque não quero transformar este texto num obituário, falarei apenas daquela que, durante toda a vida, mais me tocou e mais apreciei em todos os seus momentos fantásticos.
Jeanne Moureau nasceu em Paris em 1928, foi atriz da Comédie Française de 1947 a 1951. Nunca a vi diretamente em teatro mas vi-a e apreciei-a, extasiado, em filmes como "El Cid", "A Noite", "Jules e Jim", "O Processo" de Orson Welles, "A Noiva Estava de Luto", de François Truffaut, "Les Valseuses", "Monsieur Klein", "Viva Maria!" em 1965, e outros que já não recordo.
Foi comediante, cantora, atriz e realizadora. A sua voz grave e sedutora consagrou-a como uma das grandes estrelas francesas e internacionais.
Era uma leitora compulsiva, facto que considerou fundamental para a sua educação artística. Disse um dia: "Sou uma grande leitora, como todos os autodidatas. Em minha casa não se podia ler. O meu pai não queria, eu lia às escondidas. Comprava velas para ler à noite, o que me deixava as narinas negras…"
Jeanne Moreau foi a grande personalidade de uma linhagem que perdurou até aos nossos dias, a das atrizes-cantoras.
Permitam-me que termine este testemunho com uma referência à sua canção mais famosa "Le Tourbillon", cantada em 1965, na sua presença, por Vanessa Paradis:
"On s'est connu, on s'est reconnu,
On s'est perdu de vue, on s'est r'perdue de vue,
On s'est retrouvé, on s'est rechauffé,
Puis on s'est séparé"
Desculpem este meu encanto mas, como na canção, sinto que nos separamos.
Que poderei dizer, depois de um excelente comentário, sobre um dos temas que mais gosto ? Depois de ver tantas estrelas desaparecidas, que embelezavam o firmamento e nos encantaram através do cinema ? E o cinema francês, sempre especial, para mim e para muitos amigos, com quem discutíamos em grupo, sobre os temas, as músicas e a interpretação. E Jeanne Moreau, como disse um dia um jornalista brasileiro, referindo-se à sua personalidade, num congresso sobre cinema no Rio de Janeiro, ” ela morou lá “…! Isto é, deu nas vistas ! E o cinema francês, recordo o tempo das boas soirés de estreia, ao encontrarmos quase sempre as mesmas pessoas, nos foyers, que íamos distinguindo pelos After-Shaves mais em voga, ou pelos perfumes femininos do Dior e Yves Sant Laurant. E assim nos juntávamos, nos intervalos, com alguns trocares de olhar habitual, saboreando o café do Bar sempre apinhado de gente apressada. Discutíamos as realizações de Cloud Lelouch, Antonioni e Truffaut. E regressàvamos a casa, encantados com as interpretações de Jean Gabin, Michelle Morgan, Jean Louis Trintignant, Picoli, Anouk Aimé ou Marie Vladi. E de todos esses bons momentos, ficaram gravados para sempre, Les uns et les Autres, Um homem e uma Mulher, e a Passagem do Reno, extraordinariamente representado por Charles Aznavour. Fiquei encantado…!
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Aprendi muito. Obrigado!
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Maravilhoso comentário!
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