Desculpem regressar a uma história tão batida mas o dia-a-dia do louro Trump traz-nos sempre das mais espantosas surpresas e novidades. A abordagem pelo humor é a única possível para casos destes.
Para além dos cursos simplificados que lhe têm vindo a ser ministrados por equipas pluridisciplinares, sobre a configuração do mundo (mais ou menos redondo), das localizações dos continentes e países aos quais já se vai deslocando, o homem não deve ter uma noite de descanso com as sabatinas permanentes a que é sujeito pelas equipas de desvairados que o rodeiam e com as sessões “porno/tweeteiras” alimentadas pela loura que, mesmo sem entrar mais na Sala Oval, ainda lhe deve ser de grande utilidade.
Mas o que é verdadeiramente espantoso é o número de despedimentos que se têm verificado naquela Casa Branca. Nestes cem gloriosos dias de presidência já foram despedidas figuras importantes das instituições americanas, por razões diversas mas a mais interessante das quais será a grande empatia que o louro mantém com Putin. Claro que isso causa desconfianças e, disfarçadamente, a malta vai investigando. O genro parece que terá tido um breve encontro com uma advogada russa que lhe terá segredado mistérios insondáveis do Kremlin. Claro que ela nega tudo até porque as russas não gostam de “encontros breves”. Entretanto o Comey do FBI foi despedido, o Reice Preibus também despedido, o Preet Bharara (Procurador de Manhattan) posto na rua por não ter atendido uma chamada do Presidente. A Sally Yates (Departamento de Justiça), rua com ela. O General Flynn, que sabia que se fartava e tinha feito fretes inconfessáveis ao louro, rua.
Mas agora o Scaramucci, entrado há 10 dias, depois de ter despedido o chefe de Gabinete do Trump, também é despedido sem mais nem menos? Mas o que é isto? Eu tive uma grande fezada no Scaramucci porque me fez lembrar o herói de um filme da minha infância, o “Scaramouche”, insigne esgrimista que tinha começado a vida como palhaço. No cinema, Scaramouche era representado por Stewart Granger, acompanhado pela belíssima Eleanor Parker (uns anos anos de entrar na “Música no Coração”) e pelo distintíssimo e malicioso Mel Ferrer. Ele começava por ser André Moreau, palhaço num grupo de teatro, que se fez espadachim para vingar a honra dos seus e, em especial, da sua dama. Histórias em que já hoje não se acredita mas que, de repente, nos sugerem novas realidades. Nesta história americana, palhaço já nós temos, damas por quem defender a honra, duvido. Damas há muitas, a honra é que é um problema. Traidores e malfeitores, isso é o que há mais. A mulher do Scaramucci, que não tem idade para ter visto o filme mas que os pais lhe devem ter contado, pôs os pés à parede e disse-lhe que “marido dela ali não”. E o despedimento rápido do rapaz foi um alívio para ele próprio.
Mas agora interrogo-me: não há sindicatos em Washington que lutem contra estas barbaridades de despedimentos? Nós sabemos que eles são trabalhadores precários mas, com os diabos, deviam realizar manifestações de desagravo e bater-se por indemnizações e retroativos. Mas, enfim, sabemos que eles são todos da mesma laia e as compensações não se farão esperar. Mas se precisarem de ajuda por cá arranja-se qualquer coisa…
Para não encerrar com humor acho que é bom lembrar o Tratado de Paris não confirmado, a construção do muro com o México que não passa de uma história divertida, a anulação do Obamacare que ele não consegue fazer aprovar nem com os amigos, os diplomas assinados perante as câmaras de televisão mas que se arrastam por aprovações intermináveis… Não, o mundo deixou de poder contar com os Estados Unidos no desempenho de missões de paz, de bom senso, de estratégia global, até de erros que os aliados acabavam por tolerar, levando em conta os interesses em que todos estavam envolvidos. Só contarão os interesses exclusivamente americanos, com a depreciação já evidente da modernização de infraestruturas e conhecimento.
Como diz um amigo meu, estamos a assistir ao fim de um império. E sou capaz de lhe dar razão.
Sublime, este texto tão bem desenhado…! Um assunto demasiado preocupante, onde se põe a nú, a vida e o futuro, a que ficámos sujeitos, com tanta leveza e tanto desnorte. A leitura das notícias, por mais que as saibamos filtrar, tornou-se numa espécie de pesadelo, do qual queremos sair, mas como pesadelo que se tornou, acabamos por não encontrar uma saída suave. Recordando os tempos do cinema americano, que nos deliciava ingenuamente, a nossa pacatez, nem cem Scaramouches, chegariam para espadeirar toda esta gente do Vaudeville político americano. E talvez, Vaudeville, seja a palavra mais exacta, para definir o que se passa na Casa Branca e na Sala Oval, num mundo que se está a tornar demasiado quadrado. Muito gostaria eu, de explanar os meus receios, e recordar os bons velhos tempos, do bom aço forjado, em que se sonhava com o futuro, que aos poucos fomos consumindo com alegria…! Agora, vou para uma sessão de terapia semanal : Vou cortar a relva do jardim, e esquecer as arestas deste mundo cúbico em que nos tornamos..!
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Estou de acordo contigo. A democracia é uma cultura de vida . É por ela que nos devemos orientar. Só receio, e muito, as tropelias que se podem fazer ao abrigo da democracia. E nos Estados Unidos isso está a passar-se. Mas, como tu, acho que o Churchil acabará por ter sempre razão.
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É incrível, caro Manuel José, como a presidência do país mais poderoso do mundo, se tornou um local de galhofa! Eu tenho a convicção de que ” a grande democracia” como lhe chamava Churchill acabará por se livrar de ou pôr na ordem tão desgraçado personagem
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