Vi há dias na televisão um excelente documentário técnico sobre a Energia Azul. Já sabia da existência deste tipo de geração de energia elétrica pela leitura de vários documentos produzidos nos últimos tempos. Não tinha acompanhado, no entanto, os progressos das investigações e eventuais concretizações reais. O documentário em questão é bastante elucidativo e, assim me pareceu, suficientemente rigoroso sob o ponto de vista técnico.
Antes de mais, para quem não esteja muito ao corrente, a energia azul é a energia obtida a partir da diferença de concentração de sal das águas do mar e das águas de rios. As primeiras, salgadas (com diferentes graus de salinidade), as segundas, doces (embora também, por vezes, com algum grau de salinidade). Se for possível promover o encontro desses dois tipos de água, permitindo a eletrodiálise a partir da diferença dos iões de uma e outra massa de água, será gerada energia elétrica. O encontro dessas duas massas de água devidamente controlado e resgatado é o ponto nevrálgico do problema. Se se fizer passar a água de menor salinidade (por exemplo de um rio) através de uma membrana, juntando-a à água de maior salinidade (a do mar, por exemplo) haverá uma enorme libertação de energia que poderá ser transformada em energia elétrica. Este fenómeno de passagem das águas através de uma membrana é a nossa conhecida osmose, neste caso apelidada de eletrodiálise ou osmose inversa.
A grande dificuldade tem sido, naturalmente, a realização de membranas resistentes e específicas para cada tipo de iões das águas em confronto. A permeabilidade dessas membranas (atualmente fabricadas em polietileno) é obtida por meio de milhões de orifícios nanométricos ou, com base em estudos de laboratórios diferentes, por meio de milhões de tubos também nanométricos, que permitam a passagem da água de forma controlada, com capacidade de absorver a energia elétrica resultante dessa transferência. Este processo de “osmose retardada” poderá produzir milhares de Watts/hora para consumo direto de indústrias e populações.
Para não tornar isto muito maçador, não nos alonguemos nos pormenores técnicos que, num texto desta natureza, sempre serão escassos ou até menos rigorosos. Os investigadores dos laboratórios, que há dezenas de anos se ocupam deste processo e dos seus constantes aperfeiçoamentos, foram convidados a visitar uma instalação industrial na Holanda que já produz energia elétrica para utilização em três concelhos no norte do país. Aproveitando a feliz circunstância de terem um lago de água doce muito perto do mar, construiram uma barragem com cerca de 40 km de extensão, sobre a qual passa uma estrada para a normal circulação de veículos. As instalações fabris bombam as águas para as centrais onde se encontram as tais fundamentais membranas, fazendo-as passar através destas. A energia assim obtida, sendo já muito significativa, não é ainda comercialmente competitiva . Os investigadores industriais esperam que este processo esteja suficientemente desenvolvido no prazo aproximado de 20 anos e então a Energia Azul poderá ser fornecida a preços mais baixos que os atualmente praticados pelos sistemas em uso e, sobretudo, passaremos a dispor de uma energia limpa e ilimitada que poderá chegar a partes remotas do mundo, preservando a saúde do planeta.
Todos calculamos as lutas e os obstáculos que se irão levantar por parte dos grandes interesses que hoje dominam as energias. Mas parece que os métodos e as teorias alternativas têm vindo a ganhar terreno no mundo atribulado em que vivemos. Também a teoria do TINA (There Is No Alternative) poderá, neste domínio, vir a ser recusada. Não será já no meu tempo mas espero que, no futuro, o mundo venha a ser ainda muito melhor.
Energia Eólica, Energia das Marés, Energia Solar, Energia Azul, sim!
Confesso que este processo é novidade para mim. O Professor Ilharco do IST que nas suas aulas já falava muito das energias renováveis, que ao tempo não se chamavam renováveis mas alternativas, não tinha previsto esta energia azul
GostarLiked by 1 person
Fiquei fascinado com mais uma hipótese de se conseguir energia limpa, em alternativa ao carvão e outros combustíveis fósseis. Sabia, que o mar está carregado de electricidade, pelo muito que lia na antiga revista Science e Vie, que lia com a sofreguidão de um jóvem que queria saber de tudo e nunca aprendeu nada. Familiarizei-me com essa ideia, pela existência de cátodos de ligas de zinco, nas embarcações de recreio, para protecção da corrosão galvânica, principalmente nas embarcações a motor. Daí, até saber o que aprendi hoje, com o aproveitamento das novas ciências, vão alguns anos luz…! . A tecnologia não para. E é muito bom, que ela nunca abrande, enquanto se destine ao progresso do bem estar…!
GostarLiked by 1 person
Desconhecia o assunto a este pormenor. Hoje, já aprendi algo !
GostarLiked by 1 person