Por ser hoje Dia de Reis não resisti à tentação de escrever um pequeno texto alusivo a uma data, afinal, tão significativa para os católicos espalhados pelo mundo e também no nosso país. Neste dia comemora-se a tradição da chegada dos Reis Magos ao local onde se encontrava o Menino Jesus para lhe entregarem as prendas que traziam das suas terras. Daí, e com compreensível entendimento , ser hoje o dia em que se dão as prendas natalícias às crianças, como se faz em Espanha, por exemplo. Este detalhe já foi abordado neste blogue, em 28/12/2017, por um dos nossos colegas participantes, num texto, aliás muito bem concebido, a que deu o nome de “O Menino Jesus e o Pai Natal”. Também eu, desde pequeno, me habituei a ter o famoso bolo-rei à refeição e só a partir desse dia se desfazia a árvore de Natal e o Presépio caseiro. Enfim, hábitos… E o certo é que ainda hoje gosto imenso de bolo-rei.
Mas não foi esta tradição que hoje me trouxe aqui, mas sim uma outra, a das “Janeiras e Charolas”. Como saberão sou lisboeta militante mas sou também um muito ferveroso algarvio por afetos. Por isso aproveitei um artigo do “Jornal do Algarve” (de que sou assinante há muitos anos) para relembrar as festas populares desta época. Diz o artigo:
A tradição das charolas e das janeiras continua muito viva no Algarve. Faro, principalmente as freguesias de Montenegro, Conceição, Estoi e Santa Bárbara de Nexe, é o concelho que dispõe de maior número de grupos festivos nesta época. Apesar do tipo de instrumentos variar, de grupo para grupo, há três características que são comuns a todos eles: os estandartes, que indicam o nome da charola e do clube ou associação a que pertence; a “caixa do Menino” (a chamada charola), onde se transporta simbolicamente o Menino Jesus e se mantém na frente do grupo até terminar o “canto velho”, passando a circular entre a assistência, para a recolha de donativos, quando começam as “vivas”; e o apito do principiador (ou começador), ou seja, da pessoa que dirige a atuação da charola. Em relação aos instrumentos musicais, o acordeão, as castanholas e os pandeiros são elementos comuns a todas as charolas. Depois, cada grupo acrescenta outros instrumentos, entre os quais ferrinhos, saxofone, clarinete, trompete, violas, banjos e, nalguns casos, violinos. As exibições de todos os grupos terminam no dia 6 de Janeiro ao som do Cântico das Janeiras e com o sabor do bolo-rei e da jeropiga, como manda a tradição.
Destas festas e grupos há muitos por todo o país, mas é bom que se saiba que a tradição se mantém. É um costume popular, quase não religioso, mas que exprime com grande verdade uma cultura que não se deve perder. Talvez não chegue a ser Património Imaterial da Humanidade mas merece que se lhe dedique alguma atenção.
Bom Dia de Reis!
Recordo com saudades, esses tempos de ingenuidade, com a garotada apostada em sacar uns cobres, cumprindo uma tradição que já não sei se ainda subsiste nas cidades, agora bem mais desenvolvidas. O tema, além de muito interessante e bem apresentado com de costume, fez-me recordar os tempos em que residi na cidade de Aveiro, durante quatro anos e meio. E lá, esta tradição das Janeiras, como algumas outras, era bem viva, com o bater às portas por pequenos grupos a pregarem-nos uma sessão de canto coral desafinado, até que os recebêssemos.
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados…!
Se não lhes abríssemos a porta e não lhes déssemos aqueles cobres desejados, então a cantilena era outra:
Esta casa cheira a unto
Aqui mora um defunto…!
Mas, no caso contrário, a conversa mudava de figura. Então, já satisfeitos, afinavam a voz para outro tipo de letra bem mais simpática:
Esta casa cheira a vinho
Aqui mora um santinho…!
E os anos foram passando e não sei se ainda se mantém como noutros tempos. E era bom que continuassem, pois fazem parte das nossas tradições tão ingenuamente popular…!
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A tradição das Janeiras é muito interessante e é pena que não seja mais largamente seguida. Aqui em Lisboa, crfeio que só o 1º Ministro tem direito…
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