O MUNDO: AS BOAS E AS MÁS NOTÍCIAS

Para a edição de 15 de Janeiro da revista TIME (não é engano, as edições são anteriores às datas a que se referem)  foi convidado, como Editor para essa edição, Bill Gates.

A sua apresentação de abertura é um texto de otimismo a que chamou “As Boas Notícias”.   E diz com clareza e a natural autoridade que decorre da sua campanha mundial de apoio aos mais desprotegidos, através da sua Fundação:

” Quando se lê os jornais não ficamos com  sensação de otimismo. Furacões nas Américas. Horríveis mortes em massa. A tensão global por força das armas nucleares, As crises em Myanmar, as guerras da Síria e do Iemen. Todas as pessoas são afetadas por estes acontecimentos, parece que o mundo vai acabar. Mas, na realidade, não é assim. No seu todo, o mundo tem melhorado. Isto não é otimismo, são factos. Reparem nas crianças que morriam antes dos 5 anos de vida.  A partir de 1990 esse número foi reduzido a metade. Isto significa que 122 milhões de crianças foram salvas num quarto de século. Em 1990, mais de um terço da população mundial vivia em pobreza extrema; hoje é apenas um décimo disso. Há um século atrás só era legal ser-se “gay” em cerca de 20 países; hoje é legal em mais de 100 países. As mulheres têm vindo a ganhar poder político preenchendo já hoje mais de uma quinta parte dos parlamentos nacionais. Quais as razões por que sinto que o mundo está em declínio? Penso que em parte se deve ao tipo de notícias publicadas ou transmitidas.  As más notícias são exploradas como dramas, de forma incessante, enquanto que as boas notícias não são rentáveis. A reportagem de um edifício em chamas gera imensa visibilidade, mas ninguém se importaria muito com uma notícia que dissesse que arderam muito menos edifícios este ano. Em 2017 não houve desastres aéreos com aviões comerciais: ninguém deu muito por isso.  Tenho pedido a muita gente conhecida,  que respeito,  que escrevam sobre temas que transmitam otimismo. Ficarão surpreendidos com o estado do mundo e passarão a conhecer heróis que salvam vidas todos os dias. Espero que se inspirem e o façam cada vez melhor!”

“Bill Gates dixit”. Claro que Bill Gates não é incontroverso,  mas este tipo de mensagem vem muito ao encontro  da minha maneira de ser e daquilo que penso. Sei que esta ingenuidade ou o otimismo militante de tentar ver sempre “o copo meio cheio” tem o seu custo. Sei-o bem por experiência. Mas acho, como disse neste blogue há semanas atrás, que devemos contribuir, à nossa escala,  para um mundo mais decente.

Deixem-me que aproveite esta oportunidade para abordar, muito resumidamente, a terrível e dramática crise europeia dos refugiados. Recorro, para tal, às declarações de três protagonistas desse flagelo publicadas também na TIME, na sua edição de 1 de Janeiro.

Bana Alabed, síria de 8 anos  – O meu nome é Bana e sou refugiada. Como milhões de outras crianças tive que fugir do meu país e deixei lá tudo. Sabem quais sãos os nossos crimes? Termos nascido na Síria.  Os refugiados, principalmente as crianças, precisam de casas, empregos e educação.  O mais importante é que as guerras acabem. Sem paz, sempre haverá refugiados.

Sebastian Kurz, lider do Partido Austríaco do Povo e Ministro dos Negócios Estrangeiros –  Em 2015 vi uma foto de um polícia na fronteira austríaca a ser atravessada por centenas de emigrantes, sem os poder impedir.  Vi o facto como uma perda de controlo e de sermos ultrapassados pelos acontecimentos.  Em pleno ano de 2015 a Áustria foi um dos países europeus mais afetados pela crise dos refugiados.  Já isso nos tinha acontecido em 1956, depois da revolução húngara; em 1968 com a Primavera de Praga e durante as guerras da Jugoslávia nos anos 90. Mas agora é diferente: das outras vezes eram refugiados de países nossos vizinhos, com grau cultural que permitiu uma fácil integração. Não é agora o caso.  A resolução deste problema exige fronteiras mais rigorosas. E esta crise está longe de terminar.

David Miliband, Presidente do Comité Internacional para os Refugiados –  A crise dos refugiados é gerível, não é insolúvel. A reforma do sistema de acolhimento é urgente, há que dar prioridade à distribuição rápida e controlada dos refugiados para benefício das diversas comunidades.  Deve haver  aumento no investimento na educação das crianças, com solidez mas sem luxos, de forma a permitir o início de uma nova vida no novo país. Por questões geográficas, a Europa está na linha da frente desta crise. Mas juntos, poderemos dar novas oportunidades aos refugiados. 

Desculpem a extensão do texto de hoje, mas acho que a mensagem de otimismo de Bill Gates tem alguma coisa a ver com este drama terrível que todos estamos a viver.  A Europa é uma entidade gigantesca onde abundam os egoísmos e escasseia o sentido de comunidade inteligente. Era bom que a Europa se portasse como um continente decente.

Um pensamento sobre “O MUNDO: AS BOAS E AS MÁS NOTÍCIAS

  1. É meu hábito, procurar em primeiro lugar, a leitura das Boas Notícias, que são normalmente as que me deixam mais satisfeito, apesar das grandes dúvidas sobre a sua duração. E a comunicação social, como que desejando temperar a má comida que nos servem, de vez em quando, apresentam-nos umas sobremesas tipo mousse de chocolate com um Xiri-Piti, para suavizar as sobrecargas emocionais. E é bom que vá acontecendo qualquer coisa de diferente, pois começámos a andar demasiado apreensivos com toda estas tempestades provocadas pela incompreensão e pelo egoísmo…!

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