A nova embaixada dos Estados Unidos em Londres é uma fortaleza de 12 pisos sem paredes. As janelas têm vidros laminados com 6 polegadas de espessura, à prova de tudo, claro. Dentro do edifício há quartos para 21 “marines”. A parafrenália de equipamentos de proteção, em torno do edifício, tornam-no praticamente inexpugnável às ameaças de intrusão que são conhecidas. No tal vidro das janelas, à prova de bomba, foram impressos milhares de estrelas para dissuadir as aves de chocarem nas vidraças. Enfim, uma embaixada preparada para as grandes convulsões. Eu, que moro aqui em Lisboa, ao pé da embaixada dos EU, já há muito me apercebi das muitas proteções que, desde a sua construção, foram instaladas. Umas que se vêem e outras que nem se sonham. E esta já tem cerca de 25 anos. A nova embaixada londrina, que custou à volta de um bilião de dólares, foi construida numa zona de regeneração da cidade de Londres, com 230 hectares ao longo do rio desde Vauxhall até Battersea, onde está prevista a construção de edifícios com apartamentos de luxo. A cidade de Londres ficou muito satisfeita com a escolha americana em termos do desenvolvimento de toda aquela área. Quem, na realidade, não ficou nada satisfeito com a nova embaixada foi o presidente Trump que criticou vivamente a localização e a sofisticação do projeto (do tempo da administração Obama, claro). Como tal, disse que não estaria presente na inauguração do edifício, em Janeiro, mas as autoridades britânicas não deixaram, claro, de o convidar. Quando já parecia estar convencido a assistir ao evento foi, de novo, travado, por gigantescas manifestações populares em Londres e noutras cidades, rejeitando a sua presença. E ele não foi. Na inauguração, os técnicos americanos colocaram à entrada uma réplica de Trump, da Madame Tussaud, que, diga-se, fez muito melhor figura do que o original. Não falou nem “tweetou”…
Por coincidência, no Diário de Notícias de hoje, 26/1/18, vem um interessante artigo de Nina Khrushcheva, Professora de Relações Internacionais na New School e membro senior do World Policy Institute, com o título “Trump encontra o homem de Davos”. Trump resolveu ir a Davos, no final das reuniões. Diz a colunista: “Dado o risco de Trump vir a enfrentar o desdém e até mesmo a zombaria absoluta de alguns participantes continua por esclarecer o motivo que o levou a decidir participar na reunião de Davos”. E continua a professora: “A conferência terá, sem dúvida, a sua quota de exibições obsequiosas destinadas a apelar à vaidade de Trump… enquanto ele tenta desajeitadamente defender o indefensável, a começar pela sua política ‘America first’. A primeira-ministra Theresa May, em particular, pode estar ansiosa por apaziguar Trump, depois do escândalo das manifestações em massa quando da inauguração da embaixada. Mas não há escassez de lambe-botas sem espinha dorsal em casa, tanto no gabinete do presidente, como na liderança republicana do Congresso. Como não deixarão de aparecer em Davos.” Mas, sim, ele desta vez foi lá. Sem conseguir alijar a carga de incompetência e petulância com que se adorna.
A professora Nina, pedindo desculpa a Osip Mandelstam, recomenda aos participantes da conferência uma adaptação do poema satírico “O Montanhês do Kremlin” (também conhecido como “O Epigrama de Estaline”) e que custou a vida ao poeta:
O Montanhês da Casa Branca
As nossas vidas já não sentem o chão debaixo delas.
As nossas palavras já não são ouvidas a dez passos.
Mas sempre há um fragmento de conversa ou tweet
Isso desperta o montanhês da Casa Branca.
Os dez dedos minúsculos nas suas mãos gordas,
as suas palavras tão maliciosas quanto imponderadas,
a enorme raposa aninhada que cobre a sua cabeça,
o brilho cor de laranja que dá cor à sua pele,
Rodeado de uma escória de assessores lambe-botas
Ele brinca com os tributos dos semi-homens.
Um saúda, outro mia, um terceiro choraminga.
Ele pica o seu dedo mindinho e explode sozinho.
Ele vomita incitamentos em linha como ferraduras,
Um para a virilha, um para a testa, têmpora, olho.
Mordaz, esta Professora. Tem antecedentes e não pensa como o Trump. Mas está coberta de razão.
É uma infelicidade especialmente para mim ?
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O Sr. Trump é uma infelicidade para a América e para o Mundo. O que me preocupa desde já é a possibilidade de voltar a ganhar as próximas leições |
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Longe, já vão os tempos em que admirava a América com aquele entusiasmo juvenil. Curiosamente, ainda hoje a admiro ! Recordar N. York, que percorri que nem um louco, saboreando tudo o que já conhecia do cinema, incluindo West Point, ali tão perto, debruçado sobre o Hudson, com todo o aparato militar que nunca deixamos de gostar. Aquele dia, parou, quando me senti em frente da irmã gémea que arrasou Hiroshima. Negra e gorda ( The fat man ), ela criou-me calafrios, obrigando-me a olhá-la de lado para não ouvir os gemidos imaginários, de suas hipotéticas vítimas que não chegou a fazer, se alguma vez poderiam ter tempo para os pronunciar…! Aquilo, já não era turismo. Era o simbolismo do poder. Teria o mesmo simbolismo, se visitasse o Kremlin e o gabinete de Stalin.
O que hoje vemos em Trump, não é mais do que o infeliz crepúsculo , de um poder que se trai a si mesmo, baluarte da liberdade e da democracia, no qual, mal ou bem, sempre nos apoiámos…! A Trump, só lhe falta a música Wagneriana, para fazer parte de uma ópera que simbolizasse o poder do mal…! Não sei se ele desconhece os perigos que as suas Valquírias lhe poderão infligir, se é que ele alguma vez se transformará em herói…!
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