Esta coisa da ética e da decência tem muito que se lhe diga. Nos textos aqui escritos nos finais de 2017 todos desejámos que, para bem de muita coisa, o ano de 2018 pudesse ser um Ano Decente. Mas neste curto percurso que já fizemos assistimos, estarrecidos, à continuação de todo o tipo de trapaças, falsas notícias, atitudes rasteiras, declarações obscenas, comportamentos indecorosos que nos surpreendem e revoltam. No nosso país e no estrangeiro, o mal é generalizado, pegajoso, tornou-se quase um ritual de progresso e de relevo social. Falso relevo social, claro. Mas o problema é que os sistemas de justiça não têm capacidade de intervenção, perdem-se nos seus próprios labirintos e esgotam-se na sua iniquidade. São poucas as honrosas exceções em que vemos a falta de decência ser punida ou claramente reprimida. Em grande parte porque tudo começou com meios falsos ou delatórios e porque, com base neles, se criaram enredos com que se alimentam ainda os mais crédulos. Tenhamos esperança que os muitos avisos que também surgem, valha-nos isso, consigam despertar os espíritos para a distinção entre o que é verdade e o que não é. E que a decência faça escola, a começar exatamente na escola, com o que lá se ensina.
Vem tudo isto a propósito do que os nossos jornais relataram sobre os estranhos acontecimentos sucedidos na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, propriedade de uma fundação gerida pelo próprio reitor da universidade. Baseio-me nos elementos profusamente divulgados no jornal “Publico” que espero, não estejam deturpados. Tudo isto, apesar do próprio reitor afirmar que “a acusação é completamente falsa”. Como de costume avança-se com desvios de fundos da ordem dos 3 milhões de euros, para benefíciários mal esclarecidos. O que me surpreende é que o julgamento do caso já se tenha iniciado em outubro passado, à porta fechada, por decisão do tribunal. Há juristas que se opõem a esta deliberação mas o certo é que as coisas estão nesse pé.
Tudo isto é lamentável, quer seja verdade ou meia verdade. Até porque, segundo os relatos, os cursos da Universidade têm apresentado bons resultados embora, em certas áreas, os custos para os estudantes sejam consideráveis.
Claro que esta longa introdução tem a ver com o nome da Universidade: Fernando Pessoa. Será que tão ilustre patrono não veja tocados os valores que o distinguiram em vida, o exaltaram após a morte e o incensaram nesta universidade? Esperemos que sim.
Mas já agora, talvez venha a propósito relembrar algumas pequenas coisa que ele escreveu. Segundo os estudiosos, Fernando Pessoa terá escrito a sua primeira quadra, aos 7 anos de idade, em 1895:
Ó terras de Portugal
Ó terras onde eu nasci
Por muito que goste delas
Inda gosto mais de ti.
#
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.
#
Esperemos que todos os labirintos da Universidade não os façam esquecer a limpidez com que o seu patrono se exprimia. E já agora, aqui fica uma nova chamada de atenção para a luta que a todos se exige para a defesa da Decência e da Ética. Para que as pessoas não se distanciem dos meios de informação e, com isso, apareçam os que sempre, nessas ocasiões, se aproveitam do desmembramento da verdade.
Que artigo tão bem escrito! Adorei relê-lo. Parabéns amigo Manelzé
GostarLiked by 1 person
Todos os dias deparamo-nos com notícias, que até há bem pouco tempo nos escandalizava e nos fazia ruborizar, pela indignação e pela revolta. Recordando uma piada que passava de boca em boca, também há já muitos anos, pela qual se perguntava a melhor forma de fazer passar um elefante no Rossio sem ser notado, recebíamos logo a resposta pronta, de que a melhor de todas era fazê-lo passar no meio de uma manada de elefantes…!
Pode parecer descabido esta analogia, mas se analisarmos bem o assunto, a melhor forma de abrandar um escândalo, será o de confundir com outros escândalos, mesmo que não existam. Fazer esquecer um ou outro caso, banalizando-o, com notícias de última hora, focando pessoas que nos merecem ou mereciam o nosso melhor respeito. E a mancha, ou a nódoa, conforme a gravidade do assunto, fica para durar, enquanto a outra fica a adormecer, perdoar e…esquecer. Eu disse propositadamente, merecem ou mereciam, porque é nestes termos, que na maioria das melhores disposições, mesmo que não aceite este tipo de verdades, acaba por residir.
Fiquei satisfeito, com um artigo de opinião de Paulo Baldaia, no Diário de Notícias de hoje. Parece-me, que alguns jornalistas começam a compreender que a ética e a honestidade de opinião, começa a valer mais do que a mentirita e a fantasia despropositada.
E sobre tudo o que se está passando pelo mundo, incluindo o nosso, criando uma instabilidade emocional nas pessoas de boa vontade, verifica-se de facto, que 2018 entrou com o pé esquerdo, ao dar as doze badaladas da última noite de 2017…!
Eu deixei de acreditar em bruxas, mas parece-me que há por aí muitos diabos atrás das portas…!
GostarLiked by 1 person