SULTÕES DO SWING

Desde sempre, e lembro-me bem dos meus tempos de adolescência, se constituiram  agrupamentos musicais nos quais os jovens faziam aquilo que as suas vidas de estudantes ou de profissão não lhes permitiam. Eram os chamados “grupos de garagem”, porque era nas garagens dos pais que eles normalmente ensaiavam. Divertiam-se, cozinharam amizades e, sobretudo, criaram espaços às suas almas para serem felizes, fugindo às rotinas tantas vezes opressivas e maçadoras que eram, no fundo, os sustentos das suas vidas. Alguns deles tornaram-se profissionais. Grande parte deles mantiveram-se quase anónimos, mas mantiveram a sua felicidade incólume aos atritos exteriores. Ao longo das suas vidas juntaram-se-lhes as famílias, mulheres e filhos, e todos passaram a pertencer a essas tribos românticas e culturais. Nunca tive a felicidade de pertencer a um grupo desses. Primeiro porque não tocava nenhum instrumento, segundo porque o tempo me escasseou para estas artes, terceiro porque se me fecharam algumas “janelas de oportunidade” de que hoje, espiritualmente, sinto falta.  Dediquei-me, ao lado da vida profissional, a outras atividades (e não foram poucas) de que guardo extraordinárias memórias. Mas não vivi a “garagem”…

Falo hoje deste tema (e perdoar-me-ão,  decerto, esta personalização) porque conheço um desses grupos, uma banda, como quiserem, que acho fantástica! Claro que me prendem a ela laços familiares, mas todos os seus componentes são figuras imperdíveis, personagens de uma época que teima em manter os seus laços culturais e tradicionais.  Para os da minha geração ouvi-los é um bálsamo revitalizador, para os da geração deles é uma maravilhosa recuperação das suas inesquecíveis adolescências .  E, nos tempos que correm, quando tanto se fala de artes, é interessante lembrar que há quem as faça, as artes, sem esperar por apoios ou prebendas mas entregando à sua paixão um tremendo profissionalismo.

Por isso falo hoje de um desses grupos que conheço bem : os “Sultões do Swing”. Sim, eu sei que há, lá fora, uns nomes semelhantes mas nada disso interfere na atividade espantosa destes “sultões”. O grupo já existe há uns anos e é constituido por gente que tem a sua vida profissional, que tem família, que tem mais em que pensar mas que ainda lhe sobra tempo para o seu tempero espiritual. E não se pense que tocam coisas que não se conseguem ouvir. Nada disso. É uma banda com enorme qualidade musical,  que é já bem conhecida de muita gente e de muitas famílias. São já muitos os concertos que têm apresentado, principalmente em eventos festivos para os quais os seus amigos os desafiam para tocar e onde eles vão sempre com grande êxito. Criaram um hábito de qualidade e de seriedade que os torna desejados em muitas festas às quais, por vezes, não podem ir devido aos seus afazeres profissionais.

Lembro-me bem, há cerca de dois anos, apresentarem um memorável concerto  só com músicas dos Beatles, a que chamaram “Uma vénia aos Beatles”. Lembro-me também dos amigos que não puderam estar presentes nesse concerto lhes pedirem para o repetirem devido aos fantásticos comentários que se espalharam sobre isso. Mas era difícil:  o concerto durou quase duas horas e uma repetição nunca é um original. Mas eles não se esquivaram e, passados dois anos, vão-nos brindar com um outro concerto, a que chamam “Still Crazy” – Celebrar Paul Simon. E acrescentam:  “The Sultans are back”!

Acredito que vai ser um sucesso igual ao dos Beatles. Terá lugar no Time Out Market Lisboa, no dia 5 de Maio. Os bilhetes compram-se no Ticketline e não são caros. Eu já tenho os meus.  É claro que este texto parece publicidade. Talvez seja um pouco, mas já que se fala tanto nas Artes, algumas delas de qualidade duvidosa, achei estimulante falar-vos de um conjunto de enorme qualidade (poderão confirmar) e que tem, como objetivos principais,   relembrar os grandes textos musicais de compositores eternos e criarem um espaço próprio de felicidade que poderá também ser um pouco nosso.

Vão ver: “The Sultans are back”. “Still Crazy”: celebrar Paul Simon! Se forem,  lá me encontrarão.

2 pensamentos sobre “SULTÕES DO SWING

  1. Adorei este espírito de juventude…! Confesso, que nunca tive grande jeito para a música, e hoje arrependo-me de nunca ter tido grande vontade de aprender, apesar de lá em casa, ter havido um belíssimo piano onde só a minha irmã poderia tocar. Um piano Pierzina, pesado que nem chumbo, de onde só podiam sair notas de compositores clássicos, como mandavam as regras dos mestres do Conservatório de Música de Lisboa. No andar de cima, uma família alemã, bem mais conservadora, parecia que também seguiam as mesmas regras, talvez mais pela sua índole. Quantas vezes, eu subi aquela escadaria, a escutar músicas maravilhosas a acompanhar os meus passos…! Mas, há sempre um mas, nestas histórias de regras rígidas…! A época tinha-se rendido ao Swing e ao Boogie-Woogie, e o espírito que se vivia nos finais dos anos quarenta, entrou de rompante pela casa dentro, passando a um outro tipo de música bem humorada, se bem que Schubert e Chopin continuasse a marcar o compasso…!
    E esta coisa dos Sultões do Swing, fez-me recuar no tempo e pensar como uma boa parte dos jovens de hoje, passam o seu tempo de forma diferente, agarrados aos Smart Phones ou aos computadores, distribuindo ” bués ” de gostos e Tweeters. É bom saber que as bandas de garagem continuam, com novos talentos, além de novos Beatlemaníacos…!

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