Há poucos dias, li um artigo de Clara Ferreira Alves saído num dos últimos Expresso, com o título Tão felizes que nós éramos…! Um artigo muito bem escrito, mas que me deixou bastante apreensivo, por me parecer associar toda a vida dos portugueses, com os seus gostos e hábitos e toda a envolvência da pequena e grande economia, ao regime do Estado Novo, como se hoje não voltasse a haver mercearias de bairro ou capelistas. Talvez de outra forma, gladiando-se com cadeias de Supermercados internacionais, numa luta desigual, salvando-se um ou outro pequeno David a desafiar Golias com uma queixada de burro.
Não se tratando de saudosismos de uma época passada, num regime colorido em tons de cinzento, como C.F.A. se referia muito apropriadamente, dou muitas vezes comigo a pensar, nos porquês desta nossa já quase tradicional dependência e falta de orgulho por aquilo que é português.
Felizmente, que hoje vamos encontrando novas iniciativas com origem nas camadas mais jovens, aproveitando o gosto de viver, que ainda vai havendo entre os portugueses. E mais satisfeito fico, quando do estrangeiro vêm elogios áquilo que é nacional. Pena é que os capitais sejam tão diminutos, em comparação com o tanto que ainda há para recuperar.
Claro, que no jornalismo, muitos artigos de opinião, são escritos sob um certo prisma ideológico ou de entusiasmo literário, talvez para impressionar melhor quem o lê, até mesmo para estimular o raciocínio, com menos ou mais moderação sobre as mudanças de hábitos…! Muitas vezes, dou comigo a pensar se não estarei a ficar demasiado conservador, ou a sentir-me levianamente progressista, num misto entre o incómodo da mudança e o conforto do situacionismo…! E o saudosismo daquilo que perdemos, quando o perdemos, a baralhar-se-nos no cérebro, chocando com mais receios de mudança, tanta vez justificados.
Muito gostaria, que Clara Ferreira Alves, fizesse um novo rol em que incorporasse o número de Empresas importantes para a economia do país, desaparecidas ou em insolvência, incluindo Bancos, na voragem das más políticas e negócios duvidosos, em que todo o país se tornou vitima…! E assim, talvez tivéssemos motivos de sobra, para compreendermos tanto do descontentamento escondido…!