Há dias em que tudo parece envolto numa nabelina cinzenta, obscurecendo o pouco que nos resta, de um mundo de fantasia, que aos poucos vai desaperecendo do nossos imaginário…! Talvez, a vantagem de sermos um pouco mais velhos. e termos acumulados na nossa memória, alguns bons momentos da vida, como se tratassem de peças únicas, arrumadas nos corredores traseiros de um qualquer museu, ainda por catalogar…!
A começar pelo título desta pequena crónica, vem-me à memória a quantidade de vezes, que entre amigos, tornámos a Pastelaria Suiça como ponto de encontro para uma ida à Baixa e um passeio até ao Chiado, nos tempos em que pressupunha ir às compras, ou mudar de ares, depois de alguns dias de cativeiro pelos cafés e esplanadas de bairro.
E foi a partir de um desses passeios, que a minha vida, como a de muitos, se modificou radicalmente. O encontro com amigos e amigas, o cafésinho quente e bem cheiroso, ou o chá das cinco, sem pressas, conversas interessantes sobre montes de assuntos, gostos de vária ordem, viagens, cinema, e o encanto dos fllirts, os olhares furtivos, embrionários de grandes paixões…! Daí, até ao altar, foi um ápice…!
E como esta, muitas histórias semelhantes, tiveram o seu pricípio. E era na Baixa que fazíamos compras. E era na Baixa, que íamos conhecendo muita gente de vista, e quase nos tornávamos conhecidos quando nos encontrávamos noutros lugares mais distantes. Muitas vezes cruzando sorrisos, ficando sem saber ao certo de onde as conhecíamos. Seria da praia ? Seria dos bailes ? Dos Foyers dos cinemas ? Ou apenas do cruzar de olhares naquela ou outra Pastelaria da Baixa ?
E a vida da Baixa, era aquele mundo de encantos, onde só se ouviam os passos e milhentas conversas, entre sorrisos e paragens obrigatórias em frente de montras bem enfeitadas, a promover despezas nem sempre possíveis.
A notícia de hoje, anunciando o encerramento da Pastelaria Suiça, caíu, como se uma tromba de água despejasse toda a água do mar sobre mim…! Mais uma…! Já ninguém se lembra da Benard, da Marques, da Ferrari, nem ninguém mais se vai lembrar do que foi a Suíça nos tempos dos refugiados da 2ª Guerra Mundial, emprestando um ar cosmopolita a uma cidade envelhecida e mal cheirosa pela passagem de carroças puxadas por cavalos, fazendo serviço de transporte, ali bem ao lado, na antiga Praça da Figueira …!
Vem-me à ideia, o que seria Paris sem o Café de La Paix ( perdoem-me a falta de dimensão ), o Rio de Janeiro sem a Colombo, ou ainda Londres, sem o Selfridge ?
Esta Lisboa, que se alinda e se esforça por captar as atenções de tantos milhões de turistas, diminui-se, restando-lhe as mesmas ruas com os mesmos nomes, mas com histórias já sem alma…! Talvez outras…!
Muito a propósito para quem ainda se lembrar dos bons e velhos tempos da Suíça. Tal como a Central da Baixa, lá vai mais uma. Habituemo-nos!
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