É normal, de ano para ano, acumularmos no sotão ou na garagem da casa, uma infinidade de artigos, que pensamos, poderem vir a ter ainda alguma utilidade. A eles, os artigos festivos de Natal, que procuramos conservar da melhor maneira, a exemplo de outros anos…! Talvez, a razão de sentirmos uma certa nostalgia a prenderem-nos ao fetiche dos velhos sotãos, quando, ao procurarmos algo de interesse imediato, tropeçarmos com outros, que pela força que têm, nos desviam os pensamentos, levando-nos a recordar bons momentos. Pequenas histórias, bem conservadas sob a fina poeira do tempo…! No meio de toda aquela parafernália, um pequeno livro isolado, perdido entre assuntos já sem interesse de maior : Meu Sertão, de Catulo da Paixão Cearense...! Que estaria aquele pequeno tesouro do cancioneiro sertanejo , já de folhas amarelecidas pelo tempo, a fazer, no meio de tanta papelada ?
Sentado no chão, ainda que com pouca luz, por incontáveis minutos, dispus-me a reler algumas estrofes dos versos, tão características do cancioneiro caipira e tão profundamente humano…! Catulo da Paixão Cearence, estava ali, bem representado, com as suas modinhas, numa linguagem verdadeiramente rústica do sertão brasileiro..!
Passa o vento do Outono / Uma prece a gemer!… / Assim como ides, fôlhas, / Irão os sonhos meus… / Sois a imagem da vida, / Pobres folhas, adeus…!
Já, à distância de cem anos, as suas modinhas voltaram a público pelas vozes de Luis Gonzaga e Maria Betânea, perpetuando uma poesia simples, como é todo o seu povo sertanejo, em Luar do Sertão :
Não há, ó gente, ó não / Luar como esse do Sertão / Não há ó gente, ó não, / Luar como esse do Sertão. / Ó que saudade da minha terra, / Branquejando folha sêca pelo chão. / Este luar cá da cidade tão escuro, / Não tem aquela saudade do luar do Sertão… !
Finda a escolha dos artigos que procurava, recolhi aquele pequeno livro, colocando-o entre os melhores que guardo na estante, dando reinício ao meu trabalho dos enfeites de Natal que se aproximava célere…!