AS AGRURAS DA GULBENKIAN

 

Está fora de questão o papel extraordinário que a Fundação Calouste Gulbenkian tem desempenhado, desde a sua fundação em Portugal, no mundo das artes no nosso país. As exposições, temporárias ou permanentes, nas áreas da pintura, escultura; os valiosíssimos apoios que tem proporcionado a estudantes, investigadores e à cultura de uma forma geral; as sempre insubstituíveis conferências, de todas as naturezas, que os seus auditórios têm proporcionado ao longo dos anos; os maravilhosos concertos musicais e, há anos,  os de dança clássica,  são referências inigualáveis no nosso modesto mundo artístico/cultural com o qual temos vivido nas últimas gerações.

Pela minha formação pessoal sempre me deslumbrou a peça arquitetónica e arranjos exteriores que constituem todo o conjunto da Fundação. Uma solução de arquitetura com grande sobriedade, dignidade e intemporal. Sei que tem servido de exemplo e modelo para muitas outas experiências arquiteturais.

Grande parte de nós conhece todos estes detalhes, já por lá passou, por uma razão ou por outra, e já se terá passeado nos maravilhosos jardins que rodeiam o edifício principal. Sei de muitos casais que já por lá namoraram. Desde há anos que, além das exposições, tenho frequentado os excelentes concertos de música clássica no Grande Auditório e, mais recentemente, também tenho assistido às transmissões de óperas, a partir do MET de New York. Tudo de grande qualidade e com clientela fiel, conhecedora, assídua que esgota, sucessivamente,  todos os concertos. Já conheço as caras de muitos deles.

Não tenho o privilégio de ter íntimas relações com nenhuma personalidade pertencente à administração da Fundação. Também os conheço dos movimentos da nossa sociedade, por notícias da imprensa ou por esporádicos contactos pessoais. Mas gostaria de convidar uma dessas pessoas importantes da Fundação, de preferência um casal, para estarem comigo numa dessas sessões que frequento. Gostaria de os convidar a tomar um café comigo na barra do bar , à entrada do auditório. E ficarem na fila (no meu tempo dizia-se bicha e ninguém se importava) ao meu lado para, ao fim de 20 minutos de espera mínima, poderem pedir a bica e o pastel. A seguir a senhora da Fundação deveria ir utilizar a única casa de banho disponível naquela zona, onde se perfilaria, de novo, numa fila imensa que começa muitas vezes no átrio dos sofás de espera e se prolonga por muitos metros até à porta dos lavabos. Claro que se uma senhora está mais aflita com a sua necessidade terá que sair da Fundação e ir ao restaurante em frente, na Av. de Berna, onde já tudo está preparado para as receber. Mesmo as que passam pela infeliz espera da fila, exibindo as suas necessidades, encontram muitas vezes as torneiras avariadas e os autoclismos sem funcionar. Entretanto, após o heróico acto a que foram sujeitas e se dirigem ao auditório para a parte seguinte, já o espetáculo começou ou está começar. Criaram um bar no piso intermédio, com consumo pré-pago, que não prima pela excelência e que tem uma casa de banho própria. Solução precária e mal conseguida para uma estrutura desta natureza.

Claro que os administradores não dão por nada disto porque têm as suas instalações próprias nos andares superiores. Mas os concertos não são para eles, são para o público que assina e paga esses concertos e que merece, segundo me parece, uma maior atenção. Sei que muitas cartas de reclamação têm sido dirigidas à Administração da Fundação. Mas, pelos vistos, sem resultado palpável. Não haverá um administrador que sugira a rápida intervenção de uma equipa de arquitetura para o ajudar a resolver um problema tão urgente e tão fácil?

É por isso que chamei a este texto “As agruras da Gulbenkian”. Agruras para quem utiliza as instalações e paga por isso mas, principalmente, as agruras de uma Administração que, obviamente, relega para segundo plano este tipo de problemas dando a impressão (que se começa a espalhar) de que a Fundação está decadente. E isso não pode ser verdade. Seria um crime de lesa Instituição e, sei lá, de lesa pátria.

 

 

 

Um pensamento sobre “AS AGRURAS DA GULBENKIAN

  1. Uma chamada de atenção, que valerá sempre a pena sublinhar, até que os responsáveis dêem o devido andamento ao assunto. E espero bem que tudo se resolva, para bem do prestígio daquela admirável e estimada instituição, o que seria como uma cereja em cima de um bolo, sempre tão apreciado por todos os portugueses e estrangeiros…!

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