Foi o primeiro local onde pus os pés em Inglaterra: Plymouth. Passa-se isso, imagine-se, em 1956! A viagem de instrução do meu curso da Escola Naval, realizada na velha “Sagres”, incluiu a regata internacional de Grandes Veleiros, de Torbay a Lisboa e foi, como se pode calcular, para todos nós, uma experiência inesquecível. Desembarcámos e visitámos Plymouth nos períodos que, para tal, nos eram permitidos. Deu para muita coisa. A cidade tinha ainda muitos vestígios dos bombardeamentos da Segunda Grande Guerra, mas estava em recuperação e a população já fazia a sua vida normal. Lembro-me bem de uma encosta relvada e verdejante donde se via, ao longe, as docas de Millbay, não longe da zona onde a “Sagres” se encontrava. Nos tempos fora de serviço acompanhámos muitos e muitas visitantes a bordo, para lhes mostrar as maravilhas da navegação à vela. Em 2006 (apenas por curiosidade) houve uma cerimónia em Lisboa, no Terreiro do Paço, durante a qual a Sail Training International entregou, a cada um dos participantes, portugueses e estrangeiros, daquela regata, ainda vivos (nos quais, felizmente, me incluia) uma medalha evocativa do 50º aniversário daquela “The Tall Ships’ Races”, dedicada aos Veteranos. O que a vida nos prepara!…
Plymouth não me é, portanto, indiferente. E foi com reforçada curiosidade que acompanhei a polémica inauguração de uma enorme estátua em bronze, no passado dia 23 de Março, a que foi dado o nome de “Messenger”, colocada na zona exterior do Theatre Royal de Plymouth.
A estátuta, de autoria do artista Joseph Hiller, mede 7 metros de altura, pesa 9,5 toneladas e representa uma pose da artista Nicola Kavanagh quando, em 2014, desempenhou a peça “Otelo”, o Mouro de Veneza, naquele mesmo teatro. A figura representa o salto, em palco, para o qual Nicola se preparava, de modo a criar a “mensagem de vida colocada nas palavras do escritor”. Por isso o nome de Messenger para a obra. Nicola foi convidada para a inauguração.
Devido ao seu peso e dimensões a estátua foi transportada pelo rio numa barca até às Millbay Docks (as tais…), uma vez que por estrada não era possível passar por baixo de algumas pontes. Lá foi, depois, num enorme transporte terrestre até ao local da instalação final. Claro que uma obra destas, lá como cá, levanta as maiores paixões e ódios. O diretor do Teatro e o Presidente do Município afirmaram que a obra irá mudar a forma de encarar a arte em Plymouth nos próximos anos e, para já, servirá também para comemorar o 400º aniversário da viagem do Mayflower até à América.
A moldagem da peça foi feita com base num antigo processo de modelo de cera, embora todo o projeto tenha sido acompanhado com imagens informáticas em 3D. Ficará a ser uma das maiores peças de estatuária do Reino Unido e passará, claro, pelas mesmas críticas por que passou o chamado “Anjo do Norte”, obra de Antony Gormley, situada em Newcastle, mais concretamente em Gateshead, que tem 20 metros de altura e umas asas abertas com 54 metros. É hoje considerado um ícone local.
Ainda se pode falar da estátua a cavalo de Lady Godiva, em Conventry, que terá vivido no século XI, casada com Lord Leofric e que terá desfilado pela cidade, completamente nua, para desculpar as altas taxas que o seu marido tinha imposto ao povo. Imagine-se se a moda pegasse por cá!… A estátua é da autoria de Sir William Reid Dick, foi inaugurada
em outubro de 1949 e é hoje visita obrigatória de quem passa ou viva em Conventry.
Por tudo isto o “Messenger” de Plymouth será também, no futuro, ponto notável da terra, em defesa das artes e da curiosidade dos visitantes que, como eu, apenas se lembram da cidade sem estes desenvolvimentos históricos tão relevantes. Já não tenho paciência para ir ao local ver o Messenger mas as fotografias já chegam.
Bravo ! Bravo…! A beleza das velas enfunadas, orgulhosas de uma história de gente destemida. Um festival de bandeiras em arco e gente satisfeita…! Que inveja que isso me faz. E aquela velha Sagres, com um história complicada, repousa agora, nas águas tranquilas do porto de Hamburgo, como Navio Museu com o nome de Rickner Rickners, mostrando toda a sua beleza às gerações vindouras. ” O mensageiro de Plymouth “, é um assunto muito interessante e bem elaborado, e vem demonstrar, que o hábito de se inaugurarem estátuas alusivas a momentos extraordinários, ainda não se perderam. São gastos, que nunca deixarão que a história se apague ! Plymouth, vai estar em grande festa, não pela forma triste como começou a colonização da América do Norte, com emigrantes fugidos à miséria e às perseguições religiosas, embarcados no pequeno Mayflower, sem condições,onde homens, mulheres e crianças se acotovelavam no seu porão, mas, paradoxalmente, como um símbolo do nascimento de uma New Land como terra de tolerância ( que hoje se põe em dúvida por novos ideais e jogos de interesse ). Uma história apaixonante que despertou a minha atenção, quando visitei o Museu de História Natural, em Washington, onde está bem representada ( com figuras de cêra ), a cena da negociação entre John Smith e o chefe dos Powhatans, que poucos anos depois, viria a dar espaço aos pilgrins do Mayflower…!
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Interessante. Muito!!
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