O título em francês é, como logo se compreende, uma alegoria enlutada e triste ao terrível incêndio da Notre Dame. Já muito se falou, escreveu e chorou em torno desta inominável desgraça. É um drama que todos nós sentimos na pele, como se fosse nosso. E, na realidade, é. É nosso e de toda a humanidade.
Mas é também, nestas alturas, que nos assaltam as recordações e confrontamos as razões que ( muitas já esquecidas e arquivadas) deram origem a esta e a muitas outras desgraças. Por tudo o que se lê, se estuda e se inventaria há, basicamente, três razões que levam ao aparecimento destes acidentes: a displicência e incapacidade (técnica ou financeira) para zelar preventivamente pelo património das cidades e dos paises, em geral; recuperações urbanas feitas sem cautelas específicas de proteção e compatibilização com os métodos recomendados (lembremo-nos do incêndio do Chiado de 1988 e a impossibilidade dos carros de bombeiros subirem a Rua do Carmo por causa da recente implantação de esplanadas, bancos de jardim, vasos de plantas), razões que se enquadram na anterior pelo que denunciam de ignorância e incapacidade técnica de previsão; e, finalmente, a última mas não a menor, que decorre da depradação assassina de património irrecuperável, em nome de fés e religiões que não existem na sua essência que, bem pelo contrário, defendem virtudes muito diferentes. Terrorismo assassino é o nome para esse tipo de comportamento. Por isso as nossas sociedades se indignam, se rebelam e se tornam injustas para muitos que são, infelizmente, confundidos com os milicianos contratados e mentalmente formatados para espalhar a desgraça em nome de céus que não existem (esses não existem mesmo).
Este é o nosso drama, o drama dos nossos tempos, “Notre Drame”!
Cada vez que acontece um caso destes as nossas almas ficam magoadas, recordamos os locais, se porventura os visitámos, e clamamos contra a impunidade dos culpados do acidente. Há casos fortuitos, claro, e são muitos, mas a história antiga e recente reporta com precisão os muitos assassinos e profanadores que, deliberadamente, diminuiram as suas sociedades. Passados anos, o tempo sempre se encarrega de fazer esquecer ou, pelo menos, enevoar os acontecimentos. As gerações dissipam-nas e acabam por ignorá-las. Não precisamos de relembrar Nero e o incêndio que ordenou em Roma, ou a destruição da Igreja do Cristo Redentor em Moscovo, determinada por Staline, só recuperada de 1994 a 2000. Os da nossa geração lembram-se bem , em Lisboa, dos incêndios do Chiado (de que já falei), da Igreja de S, Domingos em pleno Rossio ou do teatro D. Maria, também no Rossio, que tanto nos enlutaram. E não esqueçamos os incêndios florestais em todo o mundo, como cá também.
As igrejas de Dresden e Berlim, na 2ª guerra mundial; o terrível incêndio no teatro Fenix de Veneza, entretanto já recuperado; os incêndios e o sismo que abalaram o Santo Sepulcro em Jerusalém; a destruição das Torres Gémeas em Nova York; Palmira na Síria ou a Biblioteca de Alexandria são, no fundo, exemplos de milhares de desgraças que campeiam pelo mundo em que vivemos e que são facadas sangrentas nas nossas memórias e nas civilizações. Até os “grafittis” vergonhosos que inundam as nossas cidades são obscenidades da nossa civilização e das nossas deseducações.
Relembremos as desgraças que acontecem fortuitamente ou os atentados deliberadamente praticados, e assumamo-los como frutos das sociedades em que vivemos. Preveni-los é um dever, resistir-lhes é uma obrigação.
A Humanidade vive estes dramas com enorme intensidade mas eles são inelutáveis. Sempre foi um drama com respostas cada vez mais sofisticadas mas não menos difíceis. O Homem sempre há-de ultrapassar as horríveis contingências da vida. Não as da morte.
Este é o nosso drama. NOTRE DRAME!
É verdade ! Les notre drames… ! E já têm sido tantos, pela negligência, e às vezes por pormenores que se nos afiguram perdoáveis, até as coisas acontecerem…! As alterações da civilização, com a passividade de regras de novos comportamentos, tendem a acelerar a destruição daquilo que as guerras e o terrorismo iniciaram, por motivos estratégicos, ou de puro vandalismo…! ” Paris, já está a arder ? “, foi uma das frases que ficaram na história, pelo bom senso de um general, que sentiu a responsabilidade de a omitir, numa série de decisões de um louco…!
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