AS TAPEÇARIAS DO MUSEU DE LAMEGO

No passado fim de semana (prolongado ) de 12 a 14 de Abril, participei num passeio cultural do Clube d Pessoal FIMA-LEVER-OLÁ à região de Lamego.

O passeio teve muitos motivos de interesse ( culturais, paisagísticos, gastronómicos ) mas neste pequeno texto vou falar apenas das tapeçarias expostas no Museu de Lamego, de origem flamenga encomendadas pelo Bispo de Lamego, D. Fernando de Vasconcelos no primeiro terço do século XVI.

Quatro destas tapeçarias narram a tragédia de Édipo.                      Na primeira tela de 4150 x 6550 mm, figuram as cenas do rei Laio consultando o oráculo que lhe diz que ele e a rainha Jocasta terão um filho que matará o pai e casará com a mãe ; Jocasta  a receber a notícia de que o filho desapareceu ; Édipo recém nascido pendurado numa árvore onde o soldado encarregado pelo Rei de o matar e incapaz de o fazer,  o deixou,   a ser encontrado por um pastor que o levou para Corinto.

Na segunda tela de 4050 x 4580 mm, representa a adopção de Édipo pelos reis de Corinto que não tinham filhos.

Na terceira tela de 4120 x 4300 mm, está figurada num canto a luta em que Édipo, na sua fuga de Corinto com receio da profecia que lhe fizeram de que mataria o pai, que ele julgava ser o rei de Corinto, mata um desconhecido que afinal era Laio ; noutro canto da tapeçaria a cena das pessoas assustadas com a esfinge que ameaçava Tebas ; e ao centro a corte de Tebas.

Na quarta tela de 4120 x 4300 mm está representado Édipo ao lado de Jocasta, com quem casou depois de termorto a esfinge e de o sucessor de Laio lhe ter oferecido o trono.

Não existem tapeçarias  no Museu com a continuação e final do drama,

Embora os tempos fossem do Renascimento e o Bispo D. Fernando fosse um homem culto, não deixa de causar alguma perplexidade a aquisição de tapeçarias com a história dum drama clássico que nada tem a ver com a religião cristã.

Um explicação possível, dizem os entendidos, reside na querela política que então dividia o reino de Portugal.

De facto, D. Manuel I tendo ficado inesperadamente viúvo do seu segundo casamento, resolveu casar com D. Leonor, a noiva que tinha negociado com Carlos V de Espanha, para casar com o seu filho – que viria a ser D. João III. Dois anos depois do casamento, D. Manuel I faleceu e pôs-se a questão de decidir se o seu herdeiro  deveria ou não casar com a viúva. Formaram-se dois partidos um dos quais considerava um quase incesto o casamento de D. João III com a que tinha sido sua noiva e depois sua madrasta e portanto tal enlace não deveria ter lugar. O bispo de Lamego pertenceu ao grupo dos que se opuseram e para marcar bem a sua oposição teria adquirido as tapeçarias  sobre a tragédia de Édipo para ilustrar os horrores do incesto.

No fim, D. João IIi casou não com D. Leonor, mas com a irmã desta e de Carlos V de Espanha, D. Catarina.

Em linguagem moderna, tratou-se de mais um “familygate” !

Já agora, repito o enigma da esfinge : qual a criatura que de manhã tem 4 pés, ao meio dia tem 2 e à tarde tem 3 ?

Ainda se lembram da resposta ?

Lisboa, 2 de Maio de 2010

 

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