Quantos de nós, os mais velhos, ainda se lembram destas imagens, percorrendo centenas de quilómetros, com a preocupação de manter a janela fechada, evitando assim, o fumo e os ciscos que nos manchavam o colarinho da camisa, quando não nos provocava uma incómoda irritação dos olhos ?
Hoje, um passeio descontraído num comboio a vapor, tem despertado o interesse de muitas organizações turísticas, oferecendo pequenas viagens, em complemento com outras atracções de uma época já passada, não só para saudosistas, mas talvez ainda mais, pela curiosidade de sentir como as coisas se passavam no tempo dos pais e avós.
E eram longas, as esperas para abastecimento de água às locomotivas, aproveitadas pelas vendedeiras, que se chegavam junto das carruagens a anunciar os seus produtos, para fazer negócio através daquelas janelas incómodas, puxadas por uma cinta de couro, para as abrir e fechar. E o negócio fazia-se com a oferta de jarros com água fresca, acondicionada em bilhas de barro, cuja sêde nos obrigava a esquecer a sua proveniência e qualidade. Os bolos tradicionais da região, ou uma ou outra guloseima para entreter o estômago. Muitas das iguarias regionais, passaram a ser um hábito de compra, associadas a esses locais de paragem, como o caso de Valongo, com as Bolachas Paupério, Aveiro, com as Barricas de Ovos Moles, Coimbra e Alfarelos, com as deliciosas Arrufadas, ou ainda os rebuçados de Funcho, tão conhecidos em Vila Real.
Para quem gosta de viajar de comboio, no conforto e na segurança que os caminhos de ferro hoje oferecem, toda aquela imagem quase poética, senão ingénua, onde a lentidão do tempo não contava para a vida das pessoas, tornou-se impensável…! Apenas a aventura turística, pelo redobrado entusiasmo da curiosidade da diferença, poderá sugerir uma viagem deste tipo. E aqui, as coisas funcionam de forma diferente, onde a alegria faz renascer o gosto pelo que passou a ser histórico.
Por curiosidade, algumas destas máquinas e algumas carruagens foram vendidas para a Suiça e para o Sul de França, explorando algumas linhas turísticas. Neste último caso, a partir de Nice, circulando comboios de via estreita, mantendo a matrícula CP, após uma aconselhada renovação. Quem quiser dar um passeio, basta perguntar pela ” Portugaise “, que ela responderá com toda a força do seu apito estridente…! Consultar, Au rythme du train des pignes, et voilá …!