O Neo-realismo

Cansado, depois de um dia atarefado, dispunha-me a ir para vale de lençóis um pouco mais cedo do que o costume. Não me tinha apercebido, que a televisão tinha iniciado a apresentação de um dos filmes, que em tempos longínquos, nos levava quase que religiosamente, a programar uma ida ao cinema, em grupo de amigos. Mais junto ao fim de semana, como era costume, para em seguida nos reunirmos nos balcões do Galeto ou nas Galerias do Hotel Ritz e discutirmos pormenores do filme, enriquecendo os nossos pontos de vista.

E Federico Fellini, era aquele realizador que movia montanhas, com a sua força e o seu saber, nesta indústria da ilusão. O choque frontal do Neo-Realismo, tão aproveitado pela captação de imagens de pobreza, que grassava por toda a Itália do pós-guerra, em contraste com a fantasia dos habituais filmes americanos, onde a vida se associava a um bem estar, bastante afastado de uma Europa, ainda não muito longe dos fumos da guerra..

As Noites de Cabíria, uma história vulgar, como tantas outras, onde a sociedade decadente e sem rumo à vista, se tornou palco para a realização magistral de Federico Felini. E Giullietta Masina, a sua principal interprete, com a sua irrequieta personalidade, deu-lhe vida. Como o já tinha feito em La Strada, multiplicando-se-lhe os elogios, ligados a uma realização bastante cuidada, ganhando o Leão de Ouro, do esplendoroso Festival de Veneza. Também, apesar do favoritismo americano pelos seus próprios estilos, a Academia das Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, não lhes foi mesquinha.

Os panoramas reais, de um subúrbio de Roma ou de uma qualquer povoação italiana, cenários de uma magreza de vida, passaram a ser o elemento principal, de pequenos episódios do dia a dia de um povo que tinha perdido o seu garbo, uma superioridade mental fixada num alter ego, sustentado por uma fantasia política. Cenários apropriados a um Neo-Realismo, que ainda hoje nos faz pensar, como bons, eram aqueles filmes a preto e branco e como bons, eram aqueles actores e actrizes, que choravam e riam, com a mesma naturalidade de Giulietta Masina…!

Um pensamento sobre “O Neo-realismo

  1. Também não perdi um filme do neo realismo italiano do pós-guerra. Grande época cinematográfica
    E para mim teve outra vantagem : aprendi tantas palavras e frases em italiano que posso fazer-me entender em Itãlia

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