Mais um estrondoso êxito de uma exposição de obras de Paula Rego, desta vez na Milton Keynes Gallery, em Londres. Recorro aos comentários do crítico de arte inglês Adrian Searle, antigo pintor e colaborador exclusivo do The Guardian.
Há milhares de textos, publicações, filmes exaltando o valor mundialmente reconhecido à grande artista. Nada do que possa aqui ser escrito poderá trazer alguma novidade à personalidade e obra de Paula Rego. Há apenas um pequeno pormenor que não posso deixar de revelar: não consigo conviver com a pintura de Paula Rego. E não se pense que não tenha sido criticado por amigos próximos, alguns deles possuidores até de quadros da pintora. Coisa que, naturalmente, eu não posso ambicionar levando em conta os valores de mercado que, há muitos anos, são de acesso apenas a outros bolsos que não os meus. Mas não é por isto que eu digo o que digo. Para a minha sensibilidade (e prezo-me de gostar de pintura) qualquer peça que eu possa pôr na parede passa a ser uma companhia do meu quotidiano de vida. Coisa para a qual eu possa olhar, meditar e, tranquilamente, apreciar. Apreciar, com mais ou menos dificuldade, mas gostar. E não é isso que me acontece com os quadros de Paula Rego. Vejo-os, quando posso, em exposições, em museus, reconheço-lhes a enorme qualidade e maestria de execução, entendo, claro, as suas mensagens (às vezes de um dramatismo demolidor) e regresso às minhas origens domésticas onde posso, se o desejar, consultar livros sobre as obras da artista. Desculpem lá esta minha pequenez mental mas não há nada como ser sincero…
Adrian Searle dá título ao seu artigo sobre a exposição na Milton Gallery dizendo: “Apresentação monumental de sexo, angústia e dor”. E chama a atenção sobre quadros que já são conhecidos mas que, ao estarem na exposição, lhe merecem comentários especiais. “Salazar vomitando a pátria” é, claro, a primeira referência. A primeira de um conjunto de peças angustiantes, escabrosas que, segundo ele, “são a resposta à repressão e mediocridade da vida durante o regime de Salazar”. Situa-nos no seu artigo com o nascimento de Paula Rego em 1935, filha de uma família burguesa de Lisboa (pai engenheiro eletrotécnico), dos seus estudos iniciais na St. Julian School, em Carcavelos, e, a partir dos anos 50 do século passado, os seus estudos artísticos na Slade School of Fine Art de Londres, até 1956. Fala-nos do seu casamento com o seu professor Victor Willing desde 1959 até 1988, ano em que Willing faleceu. Foi a partir dessa altura e dessa dor insuperável que Paula tornou ainda mais amargas as suas mensagens e as suas pinturas. Todo o mundo conhece as suas obras primas donde poderemos repescar a “War” de 2003, a “Agonia no Horto” de 2002, as “Avestruzes Bailarinas” de 1995 ou a “Mulher-Cão” e muitas outras que seria ocioso mencionar aqui.
Adrian Searle termina o seu artigo com um texto que merece ser relido: A exposição, como a arte de Rego, cria o seu momento. Aqui está Rego a dançar. Aqui estão homens trágicos e mulheres sabedoras. As mulheres na sua arte sabem sempre mais. Aqui está a repressão, aqui a liberdade, o estúpido e o não estúpido. O seu trabalho é sempre um exorcismo. A vida – a nossa e a dela – passa através de tudo isso.
Para quem possa ir ver a exposição, vale a pena. Paula Rego é tudo aquilo que Adrian diz e tudo o que o mundo já disse sobre ela. Todos com razão. Mas nas minhas paredes não…
Partilho a vossa opinião : esteticamente não aprecio os quadro de Paula Rego, mas acho-os extremamente fortes. E paradoxalmente vejo-os sempre que posso
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Um belíssimo artigo de opinião ! Aprecio a arte de Paula Rego, mas não gosto do estilo. Não lhe diminuo o valor e muito menos a força que toda a sua obra representa. Impressiona-me a constante do feio, nos rostos, nos gestos, nas posições, que me afastam daquela sua realidade. Nas expressões, aproxima-se do ridículo, quase caricatural. Um género de pintura, onde a amargura tem a sua própria cor…!
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