Os Editores e o Mercado

 

Ir a uma qualquer feira do livro confronta-nos com algumas indesmentíveis realidades:

1ª – Há cada vez mais gente que escreve (não forçosamente escritores) que editam e divulgam os seus escritos. Isto é bom, é sinal de participação cívica e social, transmitindo ideias reais (frutos de investigação ou experiências pessoais) ou ficcionadas. Verifica-se que, em grande parte destas ficções, os enredos são muito parecidos, seguindo conceitos muito paralelos, fruto, talvez, dos inúmeros  cursos de “Aprender a escrever” que enxameiam  muitas escolas, centros privados de divulgação, núcleos elitistas de “cultura à pressão”. São edições pagas, na sua maioria, pelos próprios autores e que se arrastam, sem vendas nem lucros, pelas prateleiras das livrarias e quiosques, aguardando, pacientemente, o regresso da consignação.

2ª – A multidão de títulos é, realmente, esmagadora e o normal visitante da feira ou leva ideias concretas do que pretende comprar ou acaba por sair de lá com um pacotinho de enganadora leitura de cordel, da qual se vai livrar o mais depressa possível. Muitos desses livros acabam em bibliotecas públicas onde, claro, também ninguém os requisita. Nessa multidão de títulos aparecem os já consagrados, modernos ou antigos,  e esses suscitam o interesse dos apreciadores. E os consagrados, nacionais ou estrangeiros,  são fruto, para além do seu próprio talento, de grandes campanhas de “marketing” que, não raramente, transformam uma obra vulgaríssima num êxito editorial. A capacidade financeira, também aqui, é determinante no êxito das publicações.

3ª –  Os editores e livreiros têm vivido, segundo as suas próprias palavras, épocas terríveis de frustração, decorrentes do número limitadíssimo de vendas que os levam, em muitos casos conhecidos, ao encerramento das suas atividades. Por isso eles estão atentos às novas modas e aos novos caminhos editoriais. Nas feiras,  os editores marcam datas e horas para apresentação ou lançamento de livros, com a presença dos próprios autores e, na maior parte das vezes, estão lá meia dúzia de amigos do autor ou do editor para ouvirem informações já conhecidas sobre as obras ou sobre o curriculo do escritor. Claro que há autores e obras conhecidas e apreciadas mas esses, ou já morreram, ou passam por lá como  “cão por terra vindimada”. Temos também assistido a autores que, ao fim de algumas obras bem sucedidas, enveredam por estilos de escrita, para eles muito mais sofisticada e porventura apelativa mas que os leva, sem talvez se aperceberem, de novo para a vulgaridade donde com tanto trabalho emergiram.

Ora, sem dúvida, o mercado do livro é cada vez mais complexo. Estimula-se, e bem, o gosto pela leitura junto da juventude mas tal facto impõe medidas novas se se levar em conta as imensas solicitações disponibilizadas a essa juventude. Em França, por exemplo, onde este tema anda a ser estudado verificou-se que em 2018 a venda de livros recuou apenas 0,9% embora o volume financeiro das vendas tenha aumentado significativamente. As ciências humanas, o feminismo, a ecologia e as modificações da sociedade aumentaram os seus números de vendas e foram responsáveis pela não queda abrupta que se esperava. Mas o que verdadeiramente está a salvar os editores é a literatura infantil e a banda desenhada (acessível a todas as idades). Só a literatura infantil aumentou as suas vendas em 5,6%.  Mas talvez o que tenha tido mais sucesso é a ciência de ficção. 31% dos jovens entre 15 e os 24 anos  passaram a ler mais livros deste sector.

No entanto a grande novidade editorial talvez seja, de facto, o regresso dos “livros de bolso”. Em França, em cada dois livros comprados, um é de bolso.  Mesmo para as obras dos grandes autores. O preço e o fácil manuseamento deste tipo de livro (há muitos anos todos vivemos esta mesma moda) têm acelerado a transformação do livro grande para o livro pequeno. E as coleções enriquecem-se com esta “nova” moda.

Os nossos editores são hábeis e estão atualizados nestas matérias. Estes novos desafios não lhes vão passar ao lado. Já têm aparecido lançamentos de coleções com estes novos formatos mas , tudo leva a crer, a reviravolta editorial vai ser ainda mais marcante. Para que o livro se continue a vender e toda a gente se habitue a ler mais. Escolham o género que quiserem mas as grandes obras, mais ou menos clássicas, também lá estarão em formato de bolso.

 

Um pensamento sobre “Os Editores e o Mercado

  1. Muito do que aqui foi dito, faz-me pensar, como a realidade actual se mostra alheada, do valor que um bom livro pode emprestar, para enriquecer o intelecto e o discernimento sobre a vida, nas suas múltiplas facetas. Se noutros tempos, não se lia, ou se lia pouco, porque a iliteracia era elevada, hoje, talvez o excesso de informática, passasse a ser o motivo da questão. Obras, mesmo que apenas simples histórias de ficção ou baseadas em factos reais, tantas vezes levadas ao cinema, com os êxitos que todos nós sabemos….! Quem não se lembra de ter lido e visto nos écrans do cinema ” As Vinhas da Ira ” , ” A Selva ” e ” Por Quem os Sinos Dobram “, ou ainda ” Onde os Abutres não Voam “, que tanto me incentivou a uma aventura pelo interior de África, nos meus insatisfeitos vinte e poucos anos ?

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