Esta designação não é minha, já foi utilizada muitas vezes para qualificar as ocupações e obrigações do Secretário Geral das Nações Unidas, o nosso compatriota António Guterres. Desde a criação da instituição o lugar nunca foi fácil, mas cada época tem a sua vida própria e a que estamos a viver não é particularmente sossegada. Apesar do chamado mundo ocidental, no qual nos inserimos, não viver as calamidades que se espalham e se vivem por outras zonas do globo, já ninguém fica indiferente a tudo o que acontece, diariamente, por esse mundo fora, tanto em termos humanos, amplamente sociais, ambientais, políticos, enfim, em todas as facetas de uma humanidade que ambiciona ser sempre mais feliz quando, na maior parte dos casos, ser mais feliz significa apenas viver em paz, comer e trabalhar. Parece coisa pouca mas não é. É vulgar dizer-se, nas nossas sociedades, que há mais empregos mas mal remunerados. É verdade. Mas há uma diferença essencial entre ter um emprego, mesmo reduzidamente remunerado, e não ter nenhuma forma de rendimento. Este “simples” facto acarreta sempre o desespero, a angústia, muitas vezes quase o desejo de desaparecer ou de fugir.
Sem pretender analisar os trabalhos ciclópicos desenvolvidos por imensas instituições internacionais, todos somos confrontados, diariamente, com acontecimentos e comportamentos que quase derrotam as nossas esperanças e o nosso otimismo. Por isso comecei por me lembrar de António Guterres e dos milhões de coisas que ele consegue fazer e dos outros milhões que ele não consegue fazer. Até porque a Organização de que é Secretário Geral precisaria ser profundamente alterada, missão, no entanto, que ele reconhecidamente não conseguirá cumprir. Disse-o, de forma clara, na grande entrevista que deu recentemente na RTP, com o conhecimento e a modéstia que se lhe reconhecem. Sou seu contemporâneo no IST e acompanhei os brilhantes resultados que ia obtendo. Ao longo da sua vida, as provas dadas foram muitas e a sua eleição para o alto cargo que ocupa foi claramente louvado em todo o mundo. Não admira, portanto, que tenha sido o primeiro português a ser galardoado com o Prémio Carlos Magno, como já o tinham sido Winston Churchill, Jean-Claude Juncker, Angela Merkel e os papas Francisco e João Paulo II. Não será, pois, por falta de aptidões que há missões consideradas impossíveis no seio da ONU. A começar pelo Conselho de Segurança onde domina o veto de países fundadores, hoje perigosamente dominantes no mundo. Mas mudar isso só com a aprovação deles…
E os perigos do mundo são realmente muitos: o clima, as migrações, a regulação dos 5 gigantes digitais, a defesa e a segurança são temas que preocupam todo o mundo e a nossa Europa também. Como disse Michel Duclos, embaixador francês em Damasco, “a guerra da Síria é um Chernobyl político”. E ele aí está, alimentando a subida dos populismos europeus personalizados por figuras como Matteo Salvini, em Itália, Orban na Hungria e muitos outros por esse mundo fora, como Farage, Trump, Bolsonaro e agora, finalmente, BoJo (Boris Jonhson) que os britânicos e nós vamos ter que aturar. E não sendo tão pessimista como George Orwell, é sempre bom lembrar o que ele disse nos anos 40 do século passado: “A guerra conduz à paz; a liberdade à escravatura e a ignorância à força”.
Temos agora a primeira mulher Presidente da Europa, Ursula Von der Leyen (médica obstreta e mãe de 7 filhos) amiga de Merkel, de quem muitos dizem mal e de quem muitos dizem bem. Que bom seria que ela fosse bem sucedida e começasse por não confundir a tolerância com a fraqueza. Goste-se muito ou pouco, o certo é que estamos na Europa e não se prevê que passe a ser de outra forma. Mas, no caso da França, já Pompidou dizia em 1969: “Basta olhar para a forma de viver dos franceses para nos apercebermos da sua incapacidade, profunda e natural, de serem governados”.
Por tudo isto (e muito mais) não se pode dizer (em sentido figurado, claro) que o “emprego” de Guterres seja fácil ou ambicionável à luz das nossas medianias. Mas o que vale é que há sempre muito boa gente para disputar o lugar e a honra!…
Por isso é reconfortante quando há gente simples, fácil, humana, pensadora, imaginativa que escreve poemas lindos, evoca momentos deliciosos das suas vidas, alarga as suas palavras e as suas frases até aos limites do sonho, da bondade universal e nos faz, por alguns e maravilhosos momentos, abstrair dos tantos infernos que se vivem no mundo. E, felizmente, neste blogue, têm aparecido textos encantadores que não me cansarei de recomendar para que se possa repensar o contraste entre o Mal e o Bem, entre aquilo que existe e o que gostaríamos que existisse. Boas leituras!
Guterres é uma pessoa cuja maneira de pensar, cuja preocupação pelos outros está à altura do alto cargo que desempenha. Infelizmente os poderosos pensam muito mais nos seus interesses que nos dos outros e portanto muitas das sua boas ideias não vão poder ser postas em prática. Mas é um Português, como alguns outros, de que nos podemos honrar
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Fiquei satisfeito por ler e saber que este assunto, está sendo apreciado, por pessoas dotadas de inteligência superior e de memoria sã, em contraste com tantos juízos de valor apressados, colocados numa postura anti-democrática, bem demonstrativa da ignorância crescente, que se está a evidenciar pelo país. Talvez, fomentados pela inveja e pela disputa fragmentada do partidarismo gratuito. Comentários às notícias, como também pela forma como a notícia é apresentada, propiciando pequenos debates, entre comentadores dos jornais digitais, alastrando-se aos Tweeters e Faces, evidenciado uma semi-ignorância e arrogância confrangedora. Simples ignorância ou ainda a maledicência habitual, de quem se sente incomodado pelo sucesso dos outros. António Guterres, está mostrando o que é capaz, e não terei dúvidas dos seus sucessos, neste imbróglio em que o mundo está metido. Infelizmente, nem todos têm o discernimento e capacidade, para o apreciar e apoiar. Muito menos, sentindo-se orgulhosos pelo destaque que isso representa para todos nós. O mesmo, está a passar-se com Mário Centeno, ainda que numa fase ainda prematura, que começou a enfrentar a oposição e a baixeza de uma certa opinião gratuita…!
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