A VERDADE DA NUDEZ E A NUDEZ DA VERDADE

“Sobre a nudez crua da verdade, o manto diáfano da fantasia”. Foi esta a frase retirada de “A Relíquia” de Eça de Queirós que terá inspirado Teixeira Lopes na realização da estátua que se encontra no Largo Barão de Quintela, ali à Rua do Alecrim, em Lisboa.

Mas não, não vou falar de Eça nem da agudeza dos seus chistes, numa época estival em que, geralmente, não há nada para dizer a não ser banalidades sem interesse e que, por isso, é conhecida em todo o mundo como a “silly season”. Os meus amigos, poetas e escritores, aproveitam a estação para se abrigarem nas profundezas familiares e, dessa forma, não serem acusados de  banais e vulgares. Mas como alguém tem que correr esse risco, cá estou eu a dizer umas coisas sobre um facto que muito me surpreendeu. Tudo isso para além das “pardalices” da época e da dança dos combustíveis: há, não há, cumpres, não cumpres… se não cumpres podes ir andando até à esquadra. É o vais!… Vou mas é trabalhar porque se não for,  sou despedido com justa causa e lá se vão as indemnizações de quase 20 anos que me faziam tanto jeito… Se o “pardal” acha que eu não devo trabalhar, ele que venha guiar o camião que eu não vou em conversas… Enfim, como os incêndios têm sido controlados tinha que haver outra coisa qualquer para nos distrair. E enquanto as “pardalices” não são engavetadas sempre nos vamos interrogando sobre a justeza das coisas e a temperatura da água do mar  (insuportável, este ano).

Mas o que me traz à liça com a nudez é o facto de os campos ou praias de nudismo, na Alemanha, estarem a ver muito diminuida a sua frequência. Durante anos os alemães exultaram com a maravilhosa liberdade de andarem nus e beneficiarem, em plenitude, dos raios solares. A coisa começou nos finais do século XIX, foi interrompida pela “pureza” de princípios do nazismo, regressando nos anos 40, depois da guerra. Os espaços eram, e são, claro, reservados mas as multidões de nudistas eram enormes. Em toda a Alemanha a Associação respetiva reune cerca de 32.000 nudistas, metade do que se passava em 1980. Praticam desporto, especialmente o volei e o ioga, mas a única proteção autorizada são joelheiras. O resto tem que estar tudo à solta…  Os sociólogos e sexólogos dizem que a coisa não interessa muito à juventude dos 20 aos 40 anos e volta a interessar a partir dessa altura. Também se tem verificado um “babyboom” apreciável durante essas práticas naturais o que levou os especialistas a deduzir que sempre sai mais barato pagar a quota que alugar um quarto de hotel…

Em Portugal, como em muitos outros países, também foram criados espaços e praias para nudistas mas, segundo informações recentes, a procura também tem baixado. Talvez porque a hotelaria esteja, por cá, mais acessível… A verdade é que a nudez expõe, inegavelmente, a verdade, física ou espiritual, e isso é, indiscutivelmente, uma vantagem essencial. O problema é que o contrário é mais problemático: quando se pretende disfarçar a verdade com a nudez das coisas. E aí lá voltamos nós às banalidades e “pardalices” da “silly season”, quando se pretende disfarçar um movimento concertado com um inusitado sindicalismo que “o manto diáfano da fantasia” já nos alertou para os perigos em jogo. Para um e outro lado.  E as leis, segundo consta, são a nudez em todo o esplendor da verdade.

Não levem a sério este pequeno texto porque, não se esqueçam, estamos na “silly season” e os meus amigos nem sei se vão ter tempo para o ler…

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