O JURAMENTO DE HIPÓCRATES

 

O juramento de Hipócrates é algo que os estudantes de medicina aprendem desde o seu primeiro dia de aulas. É, como se sabe, um compromisso ético regulador do exercício da profissão e manteve-se, ao longo dos séculos, como uma valiosa salvaguarda para os médicos no exercício da sua profissão e para os pacientes quando sujeitos às intervenções dos primeiros.  É um princípio universal e bem aceite por todos. Tem havido transgressões, claro, mas a base do juramento tem sido útil na punição dos incumpridores.

A drª Hanna Fry, professora associada de matemáticas na University College London, tem defendido e afirmou recentemente que “um juramento equivalente para matemáticos e engenheiros informáticos seria crucial para quem desenvolve tecnologias que moldarão, sem dúvida, o futuro das sociedades.”.  Fry vai discorrer sobre os perigos  e o poder das matemáticas modernas numa já tradicional conferência a realizar em Dezembro de 2019 no Royal Institution Christmas.  Estas sessões ficaram célebres e prestigiadas desde a sua criação, em 1825, por onde passaram cientistas como Michael Faraday ou Carl Sagan.  Em sua opinião estas medidas revestem-se de extrema urgência porque a multidão de estudantes nas áreas em causa (matemáticas e engenharia informática)  é muito nova, ainda alheia, em grande parte, às responsabilidades diretas ou indiretas na sociedade. Durante os seus estudos nunca foram interrogados sobre problemas éticos nem foram solicitados a discorrer sobre as perspetivas de todas as outras pessoas que passarão, ou já estão a ser, os alvos das suas descobertas e desenvolvimentos técnicos. A própria Hanna Fry chama a atenção das pessoas para os riscos que correm com o uso do seu Facebook ou para os falsos endereços do correio eletrónico.

Já muitos de nós vivemos esta nova ameaça e sabemos que ao carregar num simples botãozinho no nosso computador estamos a dar pistas intermináveis para conhecerem as nossas vidas desde que nascemos até ao que fizemos ontem à noite. O que vale é que a maior parte de nós não tem o menor interesse para ninguém, porque nos portamos bem e só reportamos banalidades. Mas os que tenham alguma coisa a ocultar é melhor contratarem um especialista, um desses maravilhosos informáticos, para que lhes arranjem um sistema eficaz de encobrimento. Claro que não vai chegar, porque do outro lado estão outros maravilhosos informáticos que descobrem o sistema e lhes continuam a complicar as vidas.

É aqui que a sugestão e a luta de Hanna Fry ganham expressão e valor. Um juramento ético, condicionador da profissão, talvez melhorasse os comportamentos algorítmicos dos novos “aprendizes da sociedade” e talvez desse mais instrumentos legais para punições justas dos infratores.  O juramento não se poderá chamar de Hipócrates mas terá outro nome qualquer, até porque o nome é o que menos importa.

Cuidado!!!!

2 pensamentos sobre “O JURAMENTO DE HIPÓCRATES

  1. Estou de acordo, não só os que se dedicam às matemáticas aplicadas e aos programas informáticos deveriam ter um juramento, tipo Hipócrates, mas muitas outras talvez todas !

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