Desta vez o louro Trump (não confundir com o outro louro) resolveu ir às compras, mas não para comprar fatos azuis ou gravatas encarnadas compridas. Nem sequer fixador para o cabelo, coisas, aliás, que os fabricantes lhe mandam entregar em casa em doses maciças. Também não precisa de conjuntos novos de tacos de golf porque os tem em abundância nos seus “resorts” e, claro, a primeira dama Melania já tem vestidos que cheguem para todas as aparições em que diz adeus ao povo que, como se calcula, a aprecia desbragadamente desde os seus tempos de vencedora do concurso mundial de “misses” (representando o seu país de origem, claro).
Não, a ida às compras de Donald baseia-se nas profusas e enviezadas opiniões estratégicas dos seus conselheiros. Ele propôs-se comprar a Groelândia, a maior ilha do mundo com os seus mais de 2 milhões de quilómetros quadrados e que, por acaso, pertence à Dinamarca. O governo autónomo da Groelândia e o governo central da Dinamarca responderam com diplomacia e fúria dizendo, claro, que: “Não estamos à venda! Tudo isto se deve tratar de rescaldo do Dia das Mentiras!” Mas a proposta não é inocente. Trump tem programada uma visita oficial à Dinamarca no próximo dia 2 de Setembro durante a qual será recebido pela recentemente eleita primeira ministra Mette Frederiksen que fará, por coincidência, a sua primeira visita oficial à Groelândia na próxima semana. Na reunião que vier a ter com Trump, a ministra não deixará de ter de falar sobre esta tão “aliciante” proposta comercial.
Só como apontamento é oportuno relembrar que a população da Groelândia é de 56.000 habitantes, 90% dos quais vivendo em aldeamentos dispersos. 80% da sua área de mais de 2 milhões de quilómetros quadrados está coberta de gelo. A sua capital é Nuuk, com uma população de 18.000 habitantes. É uma região com autonomia desde 1979, mas sem independência por causa das sua evidentes debilidades económicas. A Chefe de Estado é, claro, a Rainha Margrethe II. Não tem política militar, estando a Defesa e os Negócios Estrangeiros entregues ao governo central dinamarquês. Tem também (é bom não esquecer) 14 aeroportos construidos entre os anos 1940 a 50 pelos Estados Unidos como contributo para a defesa da Dinamarca do regime nazi. Já no passado, em 1917, a Dinamarca vendeu territórios seus, com a aprovação dos seus habitantes, por 25 milhões de dólares, territórios que são atualmente as Ilhas Virgens dos Estados Unidos.
As razões estratégicas de Trump são por demais evidentes. A próxima localização polar da ilha tem, no mundo de hoje, uma importância crucial para o controlo e domínio da região. E ninguém nos diz que um destes dias, nos seus passeios de compras, Trump não queira comprar também a Madeira e os Açores. Lá teremos que preencher mais umas petições e fazer umas greves para que o homem desista depressa de se meter nos nossos sarilhos. Lá iam o Marítimo, o Nacional da Madeira (se ainda existir) e o Santa Clara dos Açores jogar no campeonato americano.
Esperemos que a Dinamarca se aguente para não criar precedentes e para que ele não nos venha “chatear” um dia com as suas paixões insulares. Talvez os americanos corram, antes, com ele, fenómeno em que começo a não acreditar muito, atendendo aos milhares de “rednecks” que não dispensam a sua pistolazita de bolso.