Já não há dias que cheguem no calendário para celebrar e dedicá-los às coisas boas e más que existem ou acontecem no mundo e nos acompanham na vida. Talvez vos tenha escapado que hoje, 1 de Outubro, é, desde 1975, o Dia Mundial da Música e, desde 1991, o Dia Internacional do Idoso.
Duas coisas que nos acompanham por toda a parte. Não sei bem a partir de que idade é que se passa a beneficiar do “título” de Idoso e parece haver sobre o tema uma grande variedade de interpretações e teorias. Por mim não tenho dúvidas, sei que já “navego por essas águas” e não me queixo por isso. Nem todos têm a sorte de adquirir esse estatuto com condições que lhes permitam apreciar o tempo que vivem. Com o meu “nobiliário” de Idoso aprecio, como muitos, as benesses com que convivo, mas sofro por todos os que ficaram pelo caminho e pelos que, tendo percorrido o caminho, se encontram em condições de limitação que os impedem de acompanhar as tais benesses. Parece-me que o Dia Internacional do Idoso foi criado e é dedicado a uns e a outros, mas talvez a data nos leve a pensar mais nos segundos que nos primeiros. Um “idoso” que consiga levar a sua vida normal, queixando-se apenas de que não se lembra bem do nome de um filme (para se recordar dele passado algum tempo) é um idoso feliz e acha graça ao Dia Mundial que lhe é dedicado. Mas o verdadeiro espírito deste Dia vai ao encontro dos outros, dos que não se apercebem da “graça” do Dia, dos que não têm familiares que, pelo menos, lhes lembrem e falem deste dia ou daqueles a quem já não vale a pena explicar nada porque, não sabendo quem nós somos, só nós sabemos quem eles são. São a solidariedade, a amizade e o reconhecimento os mais reais sentimentos que este Dia nos deve recordar. Dia Internacional do Idoso, sim, para que nos consigamos lembrar daqueles que mais precisam do espírito do Dia.
O Dia Mundial da Música é “outra música”. Esta coincidência de data é curiosa e um pouco mágica. Se o dia celebra a Música em todo o mundo, celebra todo o tipo e estilo de música. As gerações, como sempre aconteceu, repartem livremente os temas musicais que mais apreciam. Com a tal Idade que a vida me concedeu já fui alimentado por gostos musicais que hoje só existem em registos históricos e sou agora confrontado com novos estilos a que me tenho habituado com mais ou menos apreço. De uma forma geral gosto de tudo o que seja Música mas isso depende muito, como se sabe, do clima espiritual em que nos encontramos em momentos diversos. Um sábio da Música dizia, há muitos anos, que se “nos apetece ouvir música mas não sabemos qual, o melhor é ouvir jazz”. E muitas vezes lhe dei razão.
Com o lastro da idade com que caminho (mas de que não me queixo) reconheço o meu lamento por nunca ter aprendido música. A ouvi-la, sim, sempre tentei ouvi-la cada vez melhor. E não me tenho arrependido. A chamada “música clássica” sempre acompanhou as minhas preferências. E hoje, para comemorar o Dia, dispus-me a ver no YouTube a 9ª Sinfonia em Dó menor, opus 125, de Beethoven, executada, em 2015, pela Orquestra Sinfónica de Chicago, dirigida por Ricardo Mutti. Aqui vos deixo uma sugestão. Para os que gostarem do género, vejam que não se arrependerão. Para os que não gostarem do género fica o alerta para que evitem o pior…
Sabem… talvez pela coincidência e pela magia da data apeteceu-me dedicar esta audição aos idosos que já não a possam ouvir. O “Hino à Alegria” desta Sinfonia é-lhes, de certeza, dedicado.
É verdade, que o conceito que se tem por idoso, varia consoante a educação e a forma como se vê o ser humano. O desgaste de uma vida inteira, ou a oxidação sistemática e forçada, de uma vida que se repete. Com um certo humor, muitas vezes fico a pensar sobre a existência e muitas vezes me pergunto, em que grau de oxidação me encontro, ao confrontar-me com outros idosos como eu…! E o melhor que se pode dar a um idoso, é levá-lo a agir e a pensar que ainda é útil à família e à sociedade, fazendo-o esquecer um pouco o patamar em que se encontra, com os bicos de papagaio a pedir umas sessões de fisioterapia e a falta de ouvido a obrigar as pessoas a repetir a última frase, porque a primeira, já quase que instantaneamente esqueceu, ou deixou de lhe interessar…!.
Muitas vezes, dizem-me que estou a ficar surdo. Mas, muitas vezes, ainda me dano por ouvir o que não quero ouvir. Talvez, o cérebro, não acompanhe, tão prontamente, o código dos sons, recebidos pelo ouvido. E isso, é outra coisa…! E, ser avô ? Ser companheiro de conversas interessantes com jovens bem mais evoluídos em novas tecnologias, dando atenção ao valor dos seus conhecimentos, em comparação com os métodos do antes e do anterior ao antes, e do desperdício de tempo, com coisas de nada…! E tanto, que há para conversar sobre o passado e o futuro. Talvez ainda mais, do que está para vir.
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