A Menina Do Mar

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in A MENINA DO MAR – Ática, 1958; Figueirinhas, 2002 
No dia do seu 100º ANIVERSÁRIO (Nasceu a 6 de Novembro 1919 no Porto – Faleceu a 2 de Julho de 2004, em Lisboa).

(Excerto )

[…]
…No dia seguinte, logo de manhã. o rapaz foi ao seu jardim e colheu uma rosa encarnada muito perfumada. Foi para a praia e procurou o lugar da véspera.
– Bom dia, bom dia, bom dia – disseram a Menina, o polvo, o caranguejo e o peixe.
– Bom dia – disse o rapaz. E ajoelhou-se na água, frente da Menina do Mar.
– Trago-te aqui uma flor da terra – disse; chama-se uma rosa.
– É linda, é linda – disse a Menina do Mar, dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.
– Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice da rosa e respirou longamente. Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
– É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e até um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
– Isso é por causa da saudade – disse o rapaz.
– Mas o que é a saudade? – Perguntou a Menina do Mar.
– A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.
– Ai! – Suspirou a Menina do Mar olhando para a terra. Por que é que me mostraste a rosa? Agora estou com vontade de chorar.
[…]

Publico já um pouco tarde, de passagem (desculpem), neste dia, mas para mim, sempre (re)lembrada por tanto, por tudo… sempre a tempo, neste tempo… 

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