Para o dia seguinte, que era sábado – e o sábado no Egipto em matéria de actividades é equivalente ao nosso sábado – combinámos uma volta por algumas partes do Cairo durante a manhã ( 40 € ). Não visitámos os locais mais típicos, nem as igrejas, as mesquitas e os monumentos mais belos do Cairo, mas mesmo assim acho que valeu a pena.
Começamos por uma igreja católica, uma construção com dignidade situada numa larga praça mas muito sóbria interiormente ( fotos não autorizadas ) e seguiu-se o que o Jamal chamou o túmulo da rainha …( não fixei o nome e não encontrei posteriormente referência ao edifício no guia turístico que tinha comprado ). Para isso, enveredámos por uma parte pouco interessante da cidade e parámos à beira dum edifício que, visto por fora, poderia de facto ser um mausoléu. Logo à entrada dei de caras com uma mulher ainda relativamente nova, vestida de roxo e preto, avantajada em 2 dimensões : largura e espessura . Era obviamente uma velha conhecida do meu guia e cumprimentaram-se com alegria. O espanto surgiu quando passamos à primeira dependência : uma sala com uma cama e uma mesa estreita encostada à parede e onde a mulher estava a cozinhar num fogareiro de campismo com a comida em pratos espalhados pelo chão ! Muito provavelmente a personagem vivia no local com uma criança de 5 ou 6 anos que saltitava à nossa volta. Ao fundo havia um pátio com umas inscrições em árabe na parede. Depois de mais algumas palavras trocadas entre eles, passamos à sala onde alegadamente estava o túmulo. Segundo espanto : ao centro uma grande caixa de madeira, num ambiente sujo e com algum entulho. Perguntei ao Jamal onde estava o túmulo e ele respondeu que estava por baixo da caixa! E que estavam em curso obras de melhoria do local. Não consegui acreditar, mas se calhar estou a ser injusto. Fui tirando fotos para documentar o sítio. À saída a guardiã do túmulo (?!) não deixou de pedir a inevitável gorjeta, que eu propositadamente reduzi a um mínimo. Ela ia começar a reclamar mas o Jamal mandou-a calar. Possivelmente compensá-la-ia posteriormente. Em jeito provocatório, perguntei-lhe logo se aquela era uma das suas “girl-friends”. Negou com ar ofendido e puxou do telemóvel onde me mostrou a foto duma egípcia, talvez quarentona mas ainda bonita, bem vestida e coberta de jóias, aparentemente de ouro, mas que poderiam ser de imitação . Como se adivinhasse os meus pensamentos, acrescentou que ela era bastante rica.
De seguida propôs-me uma visita a um parque-jardim elevado de onde se poderia ver grande parte do Cairo. Aceitei, tirei fotos, bebemos café mas não achei que tivesse valido a pena. A vista mais interessante foi a da zona da Fortaleza cujas muralhas foram mandadas construir pelo histórico Saladino.
A paragem seguinte foi na mesquita de al-Azhar , fundada em 970 mas cujo edifício original sofreu modificações ao longo dos séculos. Entrámos, descalçámos os sapatos e lá fui ver o interior. As únicas dependências que vi foi o pátio principal e o recinto das orações, enorme . A nível da decoração, o interior é pobre e o mais interessante que achei foi o desenho do tapete que cobria toda a área. No recinto das orações vi turistas muçulmanos ouvindo o seu guia e grupos de crianças ouvindo explicações dum professor. O meu guia não acrescentou nada ao que estava à vista.
Dali seguimos para o bairro dos cristãos coptas onde visitei uma igreja anexa a um mosteiro de monjas. Medidas de segurança : mostrar o passaporte e controlar eventual posse de armas. Fui acompanhado por uma senhora que fazia voluntariado na congregação e que me mostrou um pouco da igreja ( grande parte estava fechada para restauro ). A imagem duma Santa Catarina copta (mártir para defender a sua virgindade) em pastilhas cerâmicas e pinturas dos 3 arcanjos, foi o que mais interessante observei. Mas uma ocorrência merece ser referida : Quando saímos da igreja para ir ao salão restaurante público do mosteiro tomar um chá, a minha acompanhante viu uma rapazito a deitar uma papel para o chão ( que estava asseado ) e de imediato chamou-lhe a atenção e com palavras fê-lo apanhar o papel e ir colocá-lo num cesto de papeis. Uma lição de limpeza portanto. Quando já estávamos no restaurante, apareceu um fulano com aspecto de ocidental ( vim a saber depois que era canadiano ) que tentou ralhar com a senhora por ela ter obrigado o garoto a apanhar o papel do chão. A senhora deu a resposta devida, mas não convenceu o homem de que de facto ( ela ) tinha dado noções de civilidade à criança . Não pude deixar tentar consolar a senhora dizendo-lhe que incivilizados e arrogantes existem em todos os pontos do planeta ! E pensei para comigo se no Canadá ele teria tido idêntico comportamento.
A última visita da manhã foi ao Palácio do Barão. Explicando quem foi este barão, de acordo com os livros de viagens que li : o Barão Edouard Empain ( 1852-1929 ) foi um abastado empresário belga que teve a ideia de construir uma cidade jardim, na altura separada do Cairo, mas muito perto deste, destinada a gente endinheirada que pudesse apreciar e comprar as belas construções erigidas segundo uma mistura de estilos europeu e mourisco. Para si mandou construir um palácio cujo estilo arquitectónico lembra o templo de Angkor no Cambodja. Com a expansão do Cairo, que absorveu e transformou em bairro este território, os belos edifícios foram substituído por outros ou entraram em decadência. O próprio Palácio do Barão e os seu jardins estavam em obras de restauro e só puderam ser vistos e fotografados de longe.. Voltámos para o hotel, paguei a quantia acordada ( 40 € ), sem gorjeta extra, e despedimo-nos amigavelmente.
Resolvi aproveitar a tarde, a última tarde no Cairo, para, com o auxílio do mapa da cidade que tinha comprado, ir a pé ver um mercado de rua já dentro do bairro de Heliópolis . Na zona do mercado, vi dois ou três dos tais edifícios do tempo do Barão com ar decadente e utilizados não consegui perceber para que fins. O mercado de rua era sobretudo de roupas e artigos de decoração doméstica, que me lembre, sem “comes e bebes” , com a excepção de um vendedor ambulante de maçarocas de milho assadas. Não tentei contactar nenhum dos vendedores de rua, mas acabei por comprar lenços iguais aos que as muçulmanas usam para tapar os cabelos numa loja da especialidade. Ao manusear os lenços, verifiquei que alguns deles diziam “made in Turkey” e portanto questionei o vendedor, que falava bem o inglês, se não tinha lenços de algodão do Egipto, fabricados no Egipto. Ele respondeu-me que eram todos de produção local, mas que punha a etiqueta para poder vender mais caro ! Conversámos um pouco e fiquei a saber que ser caixeiro era um recurso, que tinha um curso universitário de informática. Perguntou-me então se não haveria uma oportunidade de emprego em Portugal e deu-me o endereço de e-mail para poder ser contactado. Não prometi nada, claro, e despedimo-nos.
Impressões gerais : nunca senti qualquer sensação de perigo ( também não andei noite avançada nas ruas ) embora houvesse bastantes medidas de segurança nos hotéis e noutros locais ; há 3 tipos de polícia, civil, militar e turística ; na zona à volta da qual andei mais, bastantes guaritas com homens ou mulheres armados ; fotografar na rua não é fácil, pois as pessoas não gostam ; não vi pedintes embora tenha visto uma ou outra pessoa sentada a tentar vender coisas que ninguém queria ; trânsito muito complicado e uma aventura quando se quer atravessar a rua ; a gorjeta é quase sempre necessária; a alimentação não é cara.
Conclusão final o Cairo é uma cidade que tem muito que ver, mas ,para tal, a solução é decidir de antemão o que se pretende visitar e escolher uma boa agência turística .
Lisboa, 10 de Novembros de 21019