CRÓNICA DO CAIRO – 1º Parte

De 8 a 13 de Outubro de 2019 estive no Cairo por duas razões :                                        Participar no Mundial de Esgrima para Veteranos e fazer um pouco de turismo. Neste pequeno texto não falarei do aspecto desportivo mas sim do que foi dado sentir e apreciar em contacto com a cidade e os seus habitantes

Quando cheguei à saída do Aeroporto do Cairo tinha esperança de ter um transporte para o hotel à minha espera, pois assim tinha pedido. Tal não aconteceu e como não consegui telefonar, – por descuido meu ao não ter assegurado a possibilidade de usar o  telemóvel no Egipto – resolvi apanhar um táxi, ou o equivalente. No átrio da saída havia muitas pessoas a oferecer esse género de préstimos e escolhi uma. Vim a perceber que não era motorista de nenhum carro mas um angariador de serviços – ao qual tive de dar a primeira gorjeta da minha estadia. Combinado o preço com o motorista, dentro do que esperava pagar, lá seguimos para o hotel. O tráfego era intenso, como sempre foi durante os outros dias e todos os condutores buzinavam com frequência para avisar os outros da sua presença. A atitude é “quem tem unhas é que toca guitarra”. Como é expectável, muitos carros tinham a lata amolgada.

No hotel que escolhi, e penso que em todos os outros, as malas, antes de entrar, têm sempre de passar numa câmara de Raios X e o conteúdo das bolsas de mão tem de ser mostrado. Medidas de segurança.                                                                                                    Feito o registo de entrada, instalei- me. Reparei que à saída do elevador que deixa os hóspedes no seu andar, estava  um segurança, com o seu telemóvel, o seu lanche e o seu tapete de orações. Mais uma medida de segurança. Seguidamente, a primeira coisa que fiz foi perguntar na Recepção onde poderia arranjar maneira de pôr o telemóvel operacional. Indicaram-me que um determinado empregado fardado, o Sr. Aimed,  poderia ajudar. Falei com ele e fui informado de que havia  uma loja Vodafone nas proximidades ( gorjeta ) ; lá fui e comprei  um cartão SIM.                                                         ( Com isto os meus problemas de comunicação não ficaram resolvidos mas não acho que tenha interesse falar neles ).                                                                                                             Não deixei de notar que nos 3 quarteirões que andei a pé até à Vodafone a grande maioria de lojas por que passei era de telemóveis e de assuntos relacionados com informática. Tabacarias, quiosques de jornais, livrarias, zero. Tentei comprar um mapa da cidade nas 2 estações de serviço pelas quais passei, mas nada. Devo acrescentar que só consegui um mapa da cidade, aliás bom, na loja do Museu do Cairo.                                    O hotel ficava situado a norte do Complexo Desportivo do Estádio Internacional de Futebol, relativamente perto do local do Campeonato , numa zona turisticamente falando muito pouco interessante. Por isso os passeios a pé que fiz apenas serviram para  ter uma ideia de como os locais viviam. Pareceu-me ser uma zona de classes média e média baixa, porque alem das lojas de que falei acima, e de outras de artigos para casa  de aspecto caro e de roupa interior de senhora muito ocidental, também pululavam pequenas oficinas de reparação de automóveis, ( bate-chapas e pneus ) e uma ou outra loja de comida com fraca aparência. Minimercado  de artigos alimentares e de higiene havia um perto do hotel. Muitos prédios  a precisar de manutenção.

A organização do Campeonato de Esgrima apenas conseguiu organizar uma visita guiada, concretamente ao Museu do Cairo.                                                                                   O museu está instalado na bem conhecida Praça Tahir (onde tudo o que é importante acontece)    desde 1903 e é um museu envelhecido, que não faz sobressair devidamente os tesouros que alberga. ( está em construção, longe do Centro, um edifício para onde será mudado todo o espólio existente já em 2020 o qual, aliás, vi ao longe numa das voltas que dei de carro).                                                                                                                         O mais impressionante do que está exposto são as múmias dos faraós numa sala devidamente climatizada. Em concordância com a época em que viveram, quase todos eram de baixa estatura e morreram à volta dos 30 anos de idade. Excepções são uma múmia com mais de 1,80 m e outra pertencente a um faraó que viveu mais de 70 anos. Na Sala de Tutankhamon lá estava o revestimento em ouro puro da múmia e outros artefactos também em ouro. Medidas de segurança não muito rigorosas mas que impediam a fotografia.                                                                                                                           A visita,  apressada pois o tempo disponível era pouco, em geral não deu para observar pormenorizadamente e ler as informações sobre cada peça , mas deu para ficar impressionado. Alguns dos visitantes incluídos no grupo iam preparados com livros guia e fizeram perguntas pertinentes às quias o Guia (egipcio) respondeu com segurança.

Para visitar o planalto de Gizé ( pirâmides e esfinge ) pedi ajuda no hotel e indicaram-me novamente o Sr. Aimed, pois não tinham qualquer ligação com agências turística. Falei com o dito e acordamos numa visita de carro ao planalto por 30 €.                                      No dia seguinte, à hora combinada, apareceu o Sr. Jamal ( Jimmy para os estrangeiros ) com um  carro particular, a sua vontade de agradar e o seu inglês para turista. Pelo caminho foi-me contando que o seu nome era Jamal José, que era filho dum emigrante negro angolano e duma mãe cairota, mas que não falava português. O pai tinha chegado ao Egipto em 1961 ou 1962 para trabalhar na Embaixada de Angola (?)  ( provavelmente na Embaixada de Portugal ), onde em (in)determinadas circunstâncias conheceu a mãe ; apaixonaram-se, ele converteu-se ao islamismo e casaram. A mãe nunca quis saber de falar português nem que o filho aprendesse. Aproveito para acrescentar que no dia seguinte, numa volta turística de demos pelo Cairo ele se declarou um pouco cansado porque tinha não só uma mulher legítima como duas “girl-friends” e que as egípcias eram “muito quentes e muito exigentes”… O Sr. Jaimal, não obstante, é um crente praticante e durante as nossas voltas pediu licença por 5 minutos para numa determinada hora entrar numa mesquita e fazer as suas orações. Também pediu licença para ir a uma loja de comida comprar cus-cus pois a legítima tal lhe tinha  pedido. Não soube mais da vida dele porque estava mais interessado no que poderia observar da janela do carro do que na conversa sobre a sua vida particular. Não me falou de política, nem eu puxei o assunto pois nada sabendo das suas ideias, a não ser que era crente praticante, não me arrisquei a uma conversa que poderia tornar-se desagradável.              Passamos o Nilo ( paragem para foto ) e a Cidade dos Mortos ( grande cemitério islâmico ) e antes de chegar às pirâmides paramos num local que ele me anunciou como “museu do papiro”. Assim que entrei vi logo que não se tratava de museu, mas duma oficina onde pintavam papiros para vender aos turistas.. O artesão, o Sr. Marcelino cristão copta, explicou e exemplificou como se faziam as folhas de papiro a partir do papiro planta e depois passou à apresentação do material que tinha para vender : cenas dos tempos dos faraós, cenas da religião islâmica e cenas da religião cristã. Preços conforme o tamanho da peça. Claro que acabei por comprar uma pintura representando uma declaração de amor e a sua aceitação, ou seja o jovem enamorado apresenta um ramos de flores à sua bela e se esta pegar no ramo significa que a declaração é aceite ( e podem ir tratar dos papeis, perdão dos papiros ). O exemplar foi datado à minha frente, alegadamente para lhe conferir autenticidade. Sem errar muito, penso que o meu guia terá tido uma percentagem no negócio.                                                                                                                Pouco depois chegámos finalmente à entrada do sítio das pirâmides e pagámos o ingresso.                                                                                                                                                  Como a entrada é longe das pirâmides, para não subirmos a estrada sem sombras a uma temperatura de 32º C, o Jamal sugeriu que alugássemos uma carruagem de 2 lugares puxada por uma mula a um fulano que ele conhecia e que fazia um bom preço Paguei o aluguer ( alem de ir a pé, as alternativas eram alugar um camelo ou um cavalo ) e fomos para junto das pirâmides. Apesar de ter visto inúmeras fotografias e lidos imensas coisas sobre elas, não deixei de me sentir verdadeiramente emocionado com a sua grandeza e de me maravilhar com o trabalho de construção civil com meios mecânicos rudimen- tares que a sua erecção representou. Mais fotos.                                                                      Naquele dia, 6ª feira ou seja o equivalente ao nosso domingo, os muito numerosos visitantes eram constituídos por jovens alunos acompanhados pelos seus professores. Turistas estrangeiros, muito poucos. Não visitei o interior da grande pirâmide . Mais fotos junto à esfinge e voltamos. Claro que tive de dar gorjeta ao condutor que, aliás tinha sido um tipo simpático  . No regresso ao hotel o Jamal pediu a tal licença para uma paragem numa mesquita para  rezar as suas orações. A mesquita escolhida situava-se num local pobre e, segundo Jamal, junto da partida dos autocarros para Cartum ( difícil de acreditar se pensarmos que em linha recta Cartum dista cerca de 1600 km do Cairo, mas posso ter percebido mal ). Enquanto esperei vi de facto chegar um autocarro, o menos turístico possível, para onde entraram grupos de pessoas pobremente vestidas e ajoujadas com trouxas e outras bagagens.                                                                              Voltámos para o hotel onde descansei boa parte da tarde

Lisboa, 9 de Novembro de 2019

Nota: Daqui a alguns dias publicarei a 2ª Parte desta Crónica

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