Os bancos, como é sabido, são organizações com fins lucrativos que se dedicam ao comércio de dinheiro. Recebem dinheiro dos clientes-depositantes e emprestam dinheiro a esses ou outros clientes. Mas o negócio tem uma particularidade , entre várias outras, que o diferencia dos outros negócios – e que não posso deixar de considerar bizarra.
Explicando:
Enquanto que na generalidade das actividades comerciais, e para exemplo tomemos o comércio de pão , o padeiro compra a farinha e outros ingredientes aos seus fornecedores, paga por isso e depois vende com lucro os pães fabricados aos seus fregueses, com os bancos, no nosso tempo, acontece o contrário.
Ou seja os fornecedores de dinheiro aos bancos, os acima referidos depositantes, não só não recebem nada por isso, mas muitos deles têm de pagar para ter dinheiro nos bancos ( as chamadas comissões ). É um negócio de pernas para o ar !
E tem uma agravante : é que de facto só pagam comissões os pequenos depositantes, os que têm pequenos depósitos, mas os têm contas à ordem acima de determinado valor ( variável de banco para banco ), não pagam a comissão de manutenção da conta ! Não posso deixar de considerar que esta decisão relativamente recente dos bancos portugueses ( que são os únicos que conheço ) se integra num dos paradigmas do capitalismo neo-liberal : é preciso que os pobres paguem para os ricos para que estes continuem ricos !
Nesta altura, pensando bem no que escrevi, devo substituir o adjectivo bizarro por indecente !
Uma ideia à consideração do Sr. Governador do Banco de Portugal ou de quem autoridade para regulamentar os bancos: se os presidentes dos conselhos de administração dos bancos se limitassem a ter um ordenado igual ao do Sr. Presidente da República, se os presidentes executivos auferissem tanto como o Sr. 1º Ministro, se os directores bancários não ganhassem mais que os Directores Gerais na Função Pública e se não pagassem reformas exorbitantes, considerando os anos de trabalho e os descontos feitos, a antigos administradores, talvez os bancos não tivessem necessidade de esmifrar os pequenos depositantes nem de cobrar comissões a operações bancárias a que no passado não cobravam !
Lisboa, 15 de Novembro de 2019