SINFONIA RESGATADA

Empreiteiros desconhecidos de Varsóvia, na Polónia, descobriram há alguns anos , durante a recuperação de uma casa destruida na 2ª guerra mundial, uma pasta contendo manuscritos e pautas musicais que, com imensa cautela, entregaram à guarda da Biblioteca Nacional da Polónia onde permaneceram esquecidos durante anos.  Acabou por se descobrir que os manuscritos tinham sido enterrados pelo compositor Ludomir Rózycki, bisavô de uma economista atual, de seu nome Ewa Wyszogrodzka. A pasta com os documentos tinham sido enterrados pelo autor durante os bombardeamentos nazis a Varsóvia, em 1944,  na Segunda Guerra Mundial. O compositor tinha sido solicitado pela Gestapo a  assinar um documento no qual se comprometeria a aceitar todas as regras do novo regime. Não o aceitou e teve tempo para fugir e refugiar-se no estrangeiro, em diferentes paradeiros.  Ewa lembra-se de a sua bisavó lhe contar muitos destes pormenores. O compositor morreu em 1953 e a bisavó de Ewa voltou a casar embora também já tenha falecido.  A pedido de Ewa e com o apoio do Conservatório de Varsóvia,  o mais importante violinista clássico da Polónia, Janusz Wawrowski, foi convidado a recuperar a enorme peça musical de Rózycki, iniciado como concerto para piano. As pautas instrumentais da sinfonia estavam dispersas e Janusz levou mais de dez anos a trabalhar na composição e na integração de todas as partes ainda separadas.  E finalmente o Concerto foi estreado pela Orquestra Filarmónica de Szczecin (a noroeste da Polónia), dirigida pelo maestro Norbert Twórczynski e com a brilhante intervenção em violino de Janusz Wawrowski.  Dizem os críticos  que a exuberância do concerto é comparável às composições de George Gershwin ou Erick Korngold.  Na estreia da peça a bisneta do compositor, como se calcula, chorou. Chorou pelo resgate da sinfonia e “por pensar que as peças poderiam ter ficado perdidas para sempre”. Wawrowski já gravou a sinfonia  em Londres com a Royal Philharmonic Orchestra, dirigida por Grzegorz Nowak, e pensa, no próximo outouno, fazer uma maior divulgação da peça.

Rózycki foi  um dos maiores compositores polacos dos anos 1920 a 1930, só vendo interompida a sua carreira pelos incidentes da guerra. Estudou piano e composição no Conservatório de Varsóvia, continuando os estudos  em Berlim com o compositor Engelbert Humperdinck.  O seu “ballet” Pan Twardowski foi representado internacionalmente e mais de 800 vezes em Varsóvia.  E a sua peça Pieta foi tocada em 1942, embora o manuscrito original tenha desaparecido durante a guerra.

Como se compreende a felicidade da bisneta Ewa e do violinista Janusz é enorme. Esta pequena história dos nossos dias alerta-nos para a importância de investir em áreas aparentemente dispiciendas mas cujos resultados, se os trabalhos são feitos com cuidado, profissionalismo e paixão, se tornam extremamente valiosos para a cultura dos países e dos povos. Haverá muita gente que nunca ouvirá esta Sinfonia mas estou certo que a Polónia ganhou um acervo importantíssimo para a sua cultura, para a história do seu passado e para o virtuosismo do seu futuro.

Nunca é demais apostar na educação e na cultura.

 

 

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