Fui, na passada 6ª feira, à inauguração de uma exposição de pintura no Centro Cultural de Cascais, com o patrocínio e apoio da Fundação D. Luis I. Nada disto seria especial ou teria grande novidade se todas as peças ali expostas não pertencessem à coleção de um bom amigo nosso, dizendo melhor, um casal muito nosso amigo: a Luísa e o Manuel Pedroso de Lima. No entanto, e infelizmente, a Luisa deixou-nos faz agora um ano e o marido, como homenagem àquela que sempre com ele participou, ao longo da vida, na progressiva escolha e aquisição daquelas peças, decidiu expô-las, dando a possibilidade aos seus amigos e ao público em geral, de fruirem os talentos e as obras que os acompanharam durante a vida. Há muitas maneiras de se homenagear alguém que nos é querido e que a vida, com os seus mistérios, nos roubou. Esta homenagem foi, no entanto, especial. Primeiro, porque nem todos temos a possibilidade patrimonial para o fazer; segundo porque se trata de externalizar coisas que nos são íntimas, nossas, porventura essenciais para o nosso exclusivo reduto moral.
Mas o Manuel, senhor de uma enorme inteligência e superior sensibilidade, entendeu, pelo contrário, que, fazendo a exposição e divulgando o seu acervo pessoal, prestava a homenagem mais bela à sua companheira de sempre e de todos os dias. Por isso esta exposição é tão especial, diferente de muitas outras que já todos visitámos, merecendo a apreciação das peças mas, acima de tudo, relembrando a alma sensível que tanto contribuiu para a existência desta coleção. Isto disse o marido num pequeno discurso quase lido em surdina para que a emoção não lhe embargasse a voz e conseguisse chegar ao fim do texto que, decerto com tantas recordações, havia elaborado.
A exposição tem o nome de Pintura democrática e exprime as fases e os diferentes sentimentos que ambos devem ter sentido ao longo da vida. Dar-nos a todos a possibilidade de os acompanhar é um privilégio que os amigos não perderão e que o público em geral poderá desfrutar. São dezenas de peças de autores portugueses famosos, adquiridos, principalmente, desde a década de 60 do século passado até há não muito tempo. São quadros de 32 autores diferentes, desde, por ordem alfabética, de Almada Negreiros a Vieira da Silva passando, claro, por muitos outros mas, muito fortemente, por Paula Rego. Acabei por saber que a coordenação e produção da exposição havia sido realizada por uma arquiteta que eu não conhecia mas que é casada com um amigo de quem fui vizinho de prédio durante 26 anos. Foi bom vê-los e relacioná-los com a homenagem que estava a ser prestada através da exposição.
Houve, claro, outros intervenientes responsáveis por todo aquele evento. Mas agora perceberão porque foi diferente, para nós, esta exposição. A beleza das peças e a forma artística como tudo foi organizado é o melhor argumento que aqui deixo aos meus leitores para irem até lá. A exibição é temporária mas quem for tentado a visitá-la ficará a compreender porque a considerei tão especial. Está em Cascais.