Pandemia Olímpica

A crise sanitária em que o mundo está mergulhado acarreta, como já é sabido, inconvenientes dramáticos em todos os domínios da vida. Cada um e todos em conjunto fazem o que podem,  para ir travando a epidemia de que tão pouco se sabe ainda. Os órgãos científicos internacionais travam uma luta contra o tempo tentando encontrar o ambicionado antídoto de modo a reduzir, na medida do possível, os efeitos negativos que já são sentidos por toda a parte.

Falo hoje, apenas, dos efeitos no Desporto, área a que estive ativamente ligado, como alguns saberão, durante 32 anos da minha vida. Conheço clubes, associações, federações e comités olímpicos (o de Portugal ao qual pertenci e outros). A realização de Jogos Olímpicos de Verão ou de Inverno, de 4 em 4 anos, são, desde há muito,  os eventos maiores para o Desporto e para os Atletas participantes. Pensando mais especificamente nos Jogos Olímpicos de Verão de 2020, a realizar em Tóquio, o período que atravessamos é extremamente delicado para quem os organiza e para quem decide sobre a sua manutenção ou adiamento. Sabemos que praticamente todos os grandes campeonatos internacionais de outras modalidades já foram adiados, no seguimento das recomendações de Organizações Internacionais de Saúde. Para os Jogos de Tóquio ainda não há decisão de adiamento. O facto de neles participarem 201 países de todos os continentes leva-nos a perceber que a importância desportiva, económica, logística e política deste empreendimento é enorme. Quando em título menciono a “Pandemia Olímpica” não me refiro a qualquer mal endémico dos Jogos. Tento dar a perceber o gigantismo desta organização e a forma como pode ser afetada pela real pandemia sanitária que nos persegue. A dimensão deste evento tem justificado estágios específicos para candidatos a doutoramentos nas Áreas de Gestão de Grandes Eventos, oriundos de diferentes universidades mundiais (conheço um desses casos com muita proximidade). Para os menos identificados com este fenómeno mundial posso referir que o número de atletas participantes nos Jogos são da ordem dos 10.000 a 12.000 (11.200 nos Jogos de Sydney 2000, (em que fui Chefe da Missão Portuguesa), o que correspondeu a cerca de 19.000 participantes, incluindo as equipas técnicas de todas as áreas. Só o refeitório principal estava apto a servir 1.900 refeições em simultâneo. Ora uma cidade , Tóquio, que, com o apoio de todas as instituições nacionais, preparou durante anos a realização deste evento, sente, com enorme apreensão, a excecional fatalidade de um cancelamento ou adiamento. Tal decisão (como se percebe, de tremenda responsabilidade) deverá ser tomada pelo Comité Olímpico Internacional, ouvidas todas as entidades que estejam ligadas a este tema. Até agora nada foi decidido e a famosa Cerimónia da Chama Olímpica já teve lugar em Atenas, com a assistência de poucos participantes. A chama foi acesa com o famoso espelho parabólico, pela mão da atriz grega Xanthi Georgiu. O Presidente do Comité Olímpico Internacional, Thomas Bach, médico de profissão, foi dos poucos que assistiu a esta cerimónia. A primeira portadora da chama na estafeta ali iniciada, que se prolongará até Toquio, foi a campeã de tiro Anna Korakaki. Espera-se que o Covid19 permita que a estafeta se complete e a 24 de Julho próximo os Jogos se possam iniciar. Mas, naturalmente, não há certezas. O Comité Olímpico Internacional promete uma decisão final até Maio mas os danos para muitos atletas, em todos os países, podem ser irreparáveis. Para além das épocas de treino ainda haveria provas de apuramento e qualificação que terão sido canceladas, impedindo, portanto, a presença de muitos atletas no evento desportivo com o qual mais terão sonhado na vida. Os Comités Nacinais estão, claro, dependentes da decisão final do Comité Internacional.

Como se diz, sibilinamente, no “The Guardian”:  “The Show must go on”… mas o Comité Organizador está, naturalmente,  muito apreensivo e já se  revelou disponível para um adiamento de um ou dois anos. Os investimentos são tremendos e antecipa-se mal os impactos financeiros que esta pandemia poderá acarretar. Neste momento já sei que os estágios de doutoramento, previstos para dois meses durante os Jogos, foram cancelados pelas Universidades.

A pandemia existente do vírus é, sem qualquer dúvida, de enorme gravidade e só pode ser combatida pela ciência, nas enormes investigações que anda a realizar, e pelos cidadãos de todo o mundo, por todos nós, cumprindo as regras oficiais que nos forem sendo transmitidas, sem atropelos nem pânicos desnecessários. Curiosa a predileção de grande parte da população em açambarcar papel higiénico… É, sem dúvida, um bom “study case” para os doutoramentos…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

2 pensamentos sobre “Pandemia Olímpica

  1. São como os tempos de guerra, semelhantes em muitos casos, de contenção e privação, que uma grande maioria das populações desconheciam. Uma chamada à realidade, dos muitos outros casos em que se vive, na outra face obscura da Terra…!

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