Fui roubar este título, a um filme que agradou bastante, pelas peripécias entre um garoto e um assaltante. Creio que era este, o assunto, desenvolvido com muita arte e que nos prendia à cadeira, cheios de nervos, pelo receio de acontecer alguma coisa ao garoto traquina…! Pois, sozinhos em casa, desta vez, não se refere a um filme, mas à conjuntura dos dias que vamos levando, até que o tal virus se canse de nos fazer mal.
E, retidos no nosso espaço, vamos levando o tempo a resolver as urgências do dia a dia, em circunstâncias tão diferentes do nosso habitual. Fugidas à farmácia, porque o álcool esgotou, ou as máscaras, que entendemos ser uma defesa necessária, embora não muito convincentes, convenha serem substituídas. Também, uma corrida pouco demorada, ao supermercado, seguindo uma lista de artigos, que normalmente deixávamos para o dia seguinte, sem pressas, apenas para repor os stocks da dispensa. Uma desolação, sentida, há alguns dias, pela visão de prateleiras vazias, nos supermercados, apanhados de surpresa, pela vaga sucessiva de consumidores assustados com o panorama.
Todo esta corrida, traz-me à memoria, os meus tempos de garoto, ainda em Coimbra, sob os efeitos de uma guerra que nos envolvia economicamente. Das filas para o pão, fiscalizadas pela Intendência, ( parece-me que era assim que se chamavam os funcionários que faziam cumprir as regras do racionamento ), junto dos balcões da padaria. Pequenos traumas que me acompanharam por muitos anos, até que a guerra teve o seu final. Maus sonhos, que me acompanharam durante muitos anos. Austeridade, onde o açúcar, a farinha e outros produtos necessários à vida, eram escrupulosamente racionados, por senhas, per capita, mesmo que houvesse dinheiro para os comprar. Tempos de guerra, que nos tiravam a alegria, onde tudo faltava, e que só o alheamento da juventude, ainda que momentaneamente, fazia esquecer…!
Uma guerra diferente, a que hoje atravessamos, com um inimigo invisível, que não nos obrigando a racionamentos, nem a colar fitas de papel nos vidros das janelas, contra estilhaços de vidro, provocados por hipotéticos bombardeamentos, ou a pintar de azul, os faróis dos carros, ou ter que fechar todas as luzes da cidade e das casas, durante os exercícios militares, ao som de sirenes arrepiantes, que nos traumatizavam os poucos anos de vida, nos obriga a encerrarmo-nos voluntariamente, em nossas casas. Razão porque me impressiono, com a visão dos dramas diários, que se passam com as populações do Médio Oriente, sem que se vislumbre uma pequena luz de inteligência e entendimento…! Novos tempos, agora, numa guerra diferente, mas perigosa, que iremos ganhar, dentro de algum tempo, se as populações cumprirem o que lhes é aconselhado. Uma questão de tempo, até que a ciência descubra a arma eficaz, de combate a um inimigo que não se mostra à luz do dia e nos destrói por dentro, sem declarações de guerra e sem motivos. Sozinhos em casa, ( eu e minha mulher ) vou, pela minha parte, fazendo o normal, porque o espaço, permite entreter-me, fazendo exercício, jardinar, cortando relva, recolher-me a ler ou a escrever. Conversar com os meus amigos, pela Internet, com as minhas netas inglesas, ou os meus primos da Alemanha já de terceira geração, ou ainda com sobrinhos de França, também já em terceira geração, em paz, combinando encontros para o próximo Verão, ainda que perturbados pela pandemia que atinge todos, numa guerra apocalíptica, sem sabermos bem, qual dos quatro cavaleiros irá ser abatido primeiro…!
Não irá ser fácil, a reconstrução das economias, mais débeis, num mundo que irá desequilibrar-se, como todos os seus monumentos tivessem de servir de muralha de defesa, onde o desemprego voltará a estar em destaque, até que tudo recomece de novo. Talvez com outras atitudes humanas, aprendidas numa guerra diferente…!