AMEAÇAS OLÍMPICAS

Os Jogos Olímpicos são, como se sabe, a maior festa mundial do Desporto.  Para além de ser o maior evento desportivo do mundo, estudado e acompanhado pelos maiores especialistas internacionais, os Jogos são, desde sempre, a competição mais ambicionada pelos atletas de todos os países. A simples participação nos Jogos é o vértice supremo para qualquer praticante desportivo. Se conseguir atingir a plataforma mágica das medalhas as suas recordações serão eternas. E tudo isto em ambiente de festa, de magia, de paz e de superação física e mental.

Contra todas estas maravilhosas razões há, de quando em quando, tentativas assassinas de perturbação do ambiente dos Jogos e dos seus participantes. Os responsáveis e o mundo horrorizam-se  e tentam proteger-se, a todo o custo, de futuros e prováveis incidentes. Ficaram na história  três acontecimentos nos tempos mais recentes: o primeiro foi em Munique, em 1972. A Organização Setembro Negro atacou e matou a maior parte da equipa israelita. O mundo tremeu e, a partir daí, as organizações passaram a controlar, em modelo militar, todo o envolvimento e preparação dos Jogos. Apesar disso  nos Jogos de Atlanta, em 1996, um americano de extrema direita radical, Eric Rudolph, ocultou uma bomba que rebentou e fez dois mortos e cem feridos. Mas os Jogos realizaram-se, provando que a paz e a harmonia venceram o terror e o crime. Em 2008, quatro dias antes do início dos Jogos de Pequim, um grupo de separatistas muçulmanos matou 16 polícias em Kashgar, numa zona afastada de Pequim. Mas mesmo sem incidentes, todos os Jogos têm sido muitíssimo acautelados. Assisti e vivi pessoalmente o que se passou nos Jogos Olímpicos de Sydney 2000. Os controlos e a segurança cumpriam todas as regras militares. As chegadas de delegações ou atletas individuais passavam por todas as revistas possíveis, incluindo o controlo  pessoal,  de Raios X, tudo acompanhado por militares armados. E, felizmente, não aconteceu nada para além da grande festa que era a essência dos Jogos.

Tudo isto a propósito dos próximos Jogos de Tóquio 2020. Desta vez o perigo maior não serão as tentativas do tipo das já aqui descritas, o que não as torna, no entanto, improváveis. O perigo mais evidente é, infelizmente, o do Codiv19. A organização japonesa maldiz este inesperado problema e tenta, a todo o transe, preservar os custos e trabalhos fenomenais que tiveram lugar nos últimos anos. Para maior agravamento da situação o Japão não foi poupado á propagação do vírus a partir da China, segundo parece, e desencadeou uma ação de contenção e combate que parece ter sido  razoavelmente sucedida, numa primeira fase. O próprio primeiro-ministro apressou-se a fazer, recentemente, um discurso dizendo que Tóquio estaria em condições de garantir toda a segurança durante os Jogos. Teve o azar, dias depois, de um membro do Comité Olímpico Japonês ser infetado pelo Covid. O Comité Olímpico Internacional, através do seu Presidente, Thomas Bach, projeta as suas decisões finais para o mês de Maio. Entretanto, alguns países e atletas, individualmente, já anunciaram a sua recusa em se apresentarem nos Jogos. Trata-se, como se compreende, de decisões muito difíceis e arriscadas, tanto sob o ponto de vista da idoneidade dos Jogos  como do terrível balanço financeiro que está em causa. Mas o que verdadeiramente importa é a garantia sanitária de atletas que se deslocarão de 201 países diferentes em direção a Toquio. Nem Tóquio poderá, muito provavelmente, assegurar a inexistência de qualquer contaminação viral nem, também, todas as delegações poderão garantir a cem por cento a ausência de perigo de todos os seus componentes. Nesta altura, a cerca de 4 meses dos Jogos, só cerca de 50% dos atletas obtiveram o seu apuramento legal para os Jogos. As restantes vagas, na ausência de provas classificativas entretanto suspensas, não poderão ser preenchidas de acordo com os regulamentos oficiais. Há Comités que sugerem qualificações administrativas o que, reconheçamos, invalida a equidade e lisura de todos os procedimentos que os atletas esperam do Olimpismo em geral. Muitos responsáveis olímpicos internacionais já sugeriram e propuseram o adiamento dos Jogos para 2021. Claro que isso tem que merecer a aprovação do COI e a assunção de responsabilidades financeiras que serão, na realidade, sempre de grande monta mas incomparavelmente menos graves que qualquer incidente de contágio que lá ocorra. É fundamental que não se deforme nem se degrade o símbolo que, desde há séculos, serve de bússola à maior manifestação desportiva de Paz e de Comunhão dos Povos.

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Gravura de M. Silva

É este, desta vez, o perigo maior para a realização dos Jogos. Ninguém esperaria por esta pandemia e por isso não existirá contrato que a cubra. Mas as ocasiões fazem os Homens e as decisões mais arriscadas têm que ser tomadas nas alturas próprias e excecionais. Espero que  ninguém esqueça que os Jogos Olímpicos são, na sua essência, o maior evento e a maior Festa do Desporto Mundial.

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