Nos tempos que vivemos ficamos disponíveis para ver e ouvir as notícias que nos fazem chegar. É natural. É dessa maneira que vamos acompanhando os males que nos perseguem , que nos ameaçam e que temos, a todo o custo, que evitar. É saudável recebermos a informação correta, embora nem sempre possa ser agradável. Mas é a verdadeira. Para além dessa há, no entanto, como é sabido, uma multidão de notícias falsas ou de boatos lançados com despudor, relativamente aos quais é indispensável que criemos as proteções necessárias. Parece não haver forma de toda a gente se focar no que é verdadeiramente essencial, a luta contra o vírus, e deixar para mais tarde as quezílias de grupo, de partido, de corporação. O que já é tão difícil de correr bem, devido à falta da tal evidência científica ou das carências de fornecimento internacional, é constantemente perturbado pelas opiniões de comentadores de ocasião que mal sabem do que falam, ou dos outros, que sabem do que falam mas que enviezam e contradizem as informações que acabam de ser apresentadas e que, no espaço de alguns minutos, conseguem dizer coisas que podem levar-nos a pensar em sentidos diferentes. A isto chama-se “desonestidade intelectual” e como não há forma legal de os censurar cabe-nos, no entanto, denunciar as aleivosias que por aí campeiam. É difícil, porque os meios de comunicação são galáxias turbulentas onde só gravitam as falsas estrelas de ocasião. Dizer coisas é fácil, fazê-las é, acreditem, muito mais difícil.
Mas do que é importante falar é das nossas “linhas da frente” que combatem esta pandemia, ao abrigo das melhores regras conhecidas, com esforço pessoal que transcende, em muito, aquilo que seria exigível. Mas cumprem e não é dessa gente extraordinária que se ouvem as queixas mais lamuriosas. Médico/as e enfermeiro/as são as nossas primeiras linhas desse combate e a todos eles se deve uma palavra de agradecimento e de louvor. Eles corporizam o que há de melhor nas heranças das suas profissões. Podemos, e julgo que devemos, falar aqui de alguns exemplos de gente que, como a de hoje, soube dar o seu melhor, muitas vezes até aos limites das suas vidas, em busca de salvações e remédios desconhecidos.
Podemos relembrar Louis Pasteur nas suas tarefas para descobrir a vacina contra a raiva; de Marie Curie, a primeira mulher a obter um Prémio Nobel, que morreu pela exposição excessiva às radiações com que trabalhava; de Luc Montagnier que descobriu o virus do HIV e que, por isso, recebeu o Prémio Nobel de 2008. Temos, entre nós, nos tempos atuais, cientistas que lutam pela resolução científica de muitos males ainda não resolvidos: Elvira Fortunato, Maria Mota, Carlos Folhiais, Luisa Corvo, Alexandre Quintanilha, António Damásio e muitos, muitos mais. Se nos virarmos para a enfermagem vem-nos imediatamente à cabeça o nome de Florence Nightingale, iniciadora da enfermagem de guerra na Guerra da Crimeia e que serviu de padrão ético para a sua profissão. Mas, entre nós, tivemos nomes famosos da enfermagem, como Maria Palmira Tito Morais, licenciada em Enfermagem pela Universidade Case Western Reserve, EUA, especializada em enfermagem de saúde pública pela Universidade de Toronto e com mestrado em Pedagogia Social pela Universidade de Columbia, N. York. Foi convidada para o quadro permanente dos Consultores da Organização Mundial de Saúde, em Genebra, onde inicia funções em 1951. Em 1972 passou a consultora do Conselho Mundial de Enfermeiras, da Federação Internacional de Associações e de Sindicatos de Enfermagem, com sede na Suiça. Após o 25 de Abril de 1974 regressa a Portugal para ser reintegrada no seu antigo cargo de Professora da Escola Técnica de Enfermagem, em Lisboa, de onde tinha sido demitida, por razões políticas, pelo antigo regime. Foi condecorada com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 1980, e com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade, em 1987. Faleceu em 2013.
É com gente desta linhagem que estamos a lidar atualmente. Eles estão entre nós, nos hospitais, nos centros de saúde, nas tendas de campanha improvisadas, nos lares de terceira idade, nas nossas casas se for necessário. Eles são a gesta heróica de todos os que atrás mencionei, vivos ou mortos, que lutaram ou lutam pelo futuro. Pelo nosso futuro. Eles não precisam do cerimonial diário de queixas, de lamúrias institucionais ou corporativas. Eles sabem que estão a trabalhar para a Humanidade, que os organismos públicos saberão acorrer-lhes em tudo aquilo que lhes for possível. Podem adormecer por cansaço, desmaiar por exaustão mas, ao reabilitar-se, irão para a “linha da frente” cumprir os deveres que juraram defender. Sem precisar que outros, dos seus poleiros, falem por eles.
O que aqui deixo é um grito de homenagem a todos esses profissionais que estão numa linha de combate onde muitos de nós já não podemos estar. Mas estamos aqui para os compreender, para os louvar, para os acarinhar quando estiverem, de novo, perto de nós.
( No turbilhão de informação que todos recebemos, vi hoje, enviada por um amigo, uma pequena nota que diz : “Avicena, médico e filósofo árabe, pai da medicina moderna, disse: “A imaginação é a metade da doença; a tranquilidade é a metade do remédio e a paciência é o primeiro passo para a cura”. É verdade? Não estou certo nem fui consultar a internet. Mas aplica-se bem ao momento que vivemos.)
Caríssimo Manuel Zé. Li com todo o gosto o teu comentário, muito bem escrito como sempre.
Gd abc
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Manuel José . Adorei ler o teu artigo ! Como tudo o que escreves está certo . Não posso com críticos ignorantes ! Obrigado pelas tuas palavras ! Gostei muito .
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