Conversas Imaginárias – 5

 

Depois das nossas “Conversas” com Pinheiro de Azevedo, Rómulo de Carvalho, Egas Moniz e Duarte Pacheco resolvemos, desta vez, trocar impressões com Pierre de Coubertin que, além de historiador e pedagogo, ficou célebre por ser considerado o criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna.

Pierre de Frédy nasceu em Paris a 1 de Janeiro de 1863, com origem numa família aristocrática descendente de Fernando III de Castela e sempre se dedicou à  História e à Pedagogia. O seu envolvimento maior foi o desenvolvimento dos sistemas de educação. Ficou conhecido pelo seu título nobiliárquico de Barão de Coubertin. Durante a sua vida imaginou uma competição internacional para promover o atletismo e, a partir daí, apercebeu-se do crescente interesse internacional pelos Jogos Olímpicos da Antiguidade, o que o levou a conceber o plano de recriar os Jogos Olímpicos.

image_F28CC534-E4CF-4368-9ED7-AB901A2485E9.9DC05BA1-36BE-4FF0-BB86-98097B580250A sua personalidade ficou para a História, principalmente pela recriação dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, embora a sua atividade pedagócica fosse sempre muito relevante. Vamos ter uma pequena “conversa imaginária” com Pierre de Coubertin pedindo desculpa aos nossos leitores por alguma gralha que surja no texto, na medida em que, tanto as perguntas como as respostas foram feitas feitas em francês e, só depois, traduzidas para português. Como de costume, as mnhas perguntas serão identificadas por P e as respostas, desta vez, por PC. Vamos a isso.

P. –  Barão Pierre de Coubertin, desculpe tratá-lo assim mas, como compreederá, faço alguma cerimónia… Devo dizer-lhe que participei diversos anos no olimpismo português e revejo-me, portanto, no que deve ter sido a sua aventura refundadora…

PC. –  Ah, também participou?   No Comité Olímpico de Portugal, claro… Que cargos desempenhou?

P. –  Durante os 12 anos em que lá estive fui vogal de Direção, Vice-Presidente e Secretário Geral… Atualmente sou Membro de Mérito… Fui Chefe de Missão em dois Jogos, uns de Verão, em Sydney, e outros de Inverno, em Vancouver…

PC. –  Que Presidentes do Comité Olímpico Internacional conheceu?

P. – Comecei funções com Juan Samaranch e a seguir com Jacques Rogge. Saí com o início do mandato de Tomas Bach. Bom, mas parece-me que sou eu quem faz perguntas… Posso? …

PC. –  Claro, desculpe, mas não é normal ter conversas destas com gente olímpica. Já me esqueceram…

P.  –   Pode estar certo que ninguém o esqueceu. É a imagem olímpica ainda mundialmente referida em todos os Comités.  Deixe-me perguntar: os seus estudos tiveram lugar onde?

PC. –  No Instituto de Estudos Políticos de Paris. Licenciei-me em História e Ciências da Educação.

P.    –   Indo diretamente ao assunto, pode dizer-me como pensou em recuperar os Jogos Olímpicos?

PC.  –   Sim, claro. Em 1894 tentei organizar uma competição internacional de atletismo quando estvam exatamente na moda grandes descobertas arqueológicas nas ruinas de Olímpia, na Grécia. E aí, com mais alguns amigos, pensei em recuperar os Jogos Olímpicos.  Organizei um Congresso internacional na Sorbonne, em Paris, em Julho de 1894. Aí propus a reinstituição dos Jogos Olímpicos, proposta que foi aprovada. Constituiu-se então o Comité Olímpico Internacional de que fui o primeiro Secretário Geral, de 1896 a 1925. Como Presidente ficou Demetrius Vikelas, grego,  e decidimos fazer os primeiros Jogos em Atenas em 1896. Decidimos também recuperar a Olimpíada, ou seja um período de 4 anos entre a realização de dois Jogos.  Os Jogos de 1896 foram um sucesso…

P.  –   Mas depois ficou como Presidente… E parece que houve dificuldades…

PC.  –   Sim, com a saída de Vikelas após os Jogos, fiquei como Presidente. Em 1900 e 1904 os Jogos e o Movimento Olímpico foram um pouco esquecidos devido à realização das exposições mundiais em que fomos integrados.  Mas em 1906, aproveitando os 10 anos da refundação dos Jogos, tornaram-se, de novo, um grande êxito. Que nunca mais parou até hoje, segundo creio… Eu saí do COI depois dos Jogos de Verão de 1924, em Paris e fui substituido no cargo por Henri de Baillet-Latour.

P.  –   Desde esse tempo tem aumentado muito o número de modalidades, muitas delas novas que não existiam no seu tempo. Qual a regra que adotou para inclusão de modalidades nos Jogos?

PC.  –   Primeiro a universalidade das modalidades, que tivessem lugar no maior número de países possível, e também a não profissionalização dos participantes. As regras da ética desportiva eram muito rigorosas mas eram respeitadas…

P.  –  Sabe que hoje já não é bem assim… Os partipantes são atletas profissionais, fortemente apoiados pelos seus países e as modalidades candidatas aumentam cada vez mais. Hoje critica-se um pouco o gigantismo dos Jogos e as cidades candidatas, no fundo para prestígio dos países, debatem-se com gravíssimos problemas financeiros…

PC.  –  Sim, já sabia desse facto  e de muitos outros problemas que mancham, por vezes, os atletas e os Jogos… A dopagem, as apostas falseadas, os “arranjos” que se fazem para obter a realização dos Jogos… Não concordo com nada disso. Aliás, arrepia-me. Nunca pensei nesses processos. Tem que se rever todos esses processos…

P.  –  Parece que está a ser esse o caminho… As cidades e os países começam a não poder ultrapassar as enormes dificuldades financeiras que os Jogos lhes impõem… Há modalidades, como por exemplo os e-games (jogos eletrónicos), que têm uma enorme difusão mundial e que garantem assistências e apoios que se traduzem em verbas imensas para o COI… Mas, mesmo assim, começa a haver movimentos de contestação à exorbitância das verbas gastas que, em grande parte, acabam por não beneficiar o país organizador. Que acha de tudo isto?

PC.  –  São problemas com que nunca me confrontei e não sei como decidiria numa situação atual. Lamento apenas que não seja mantida a pureza e a lealdade absoluta dos Jogos.

P.  –  Lamento vir incomodá-lo com estas novas histórias da modernidade…  Julgo que vamos interromper esta amável conversa prometendo-lhe que vou tentar divulgar o nosso texto por todos os que se interessam pelo Movimento Olímpico. Muito obrigado por esta enorme gentileza.

PC.  –   Tive imenso gosto… Espero que o Olimpismo consiga redescobrir o seu novo caminho, mais certo e menos discutível…

 

 

NOTA. –  COUBERTIN FALECEU EM 1937, EM GENÈVE. FOI SEPULTADO EM LAUSANNE (LOCAL DA SEDE DO COI) MAS O SEU CORAÇÃO FOI FOI SEPULTADO, SEPARADAMENTE, NUM MONUMENTO PERTO DAS RUINAS DA ANTIGA OLIMPIA.

PIERRE DE COUBERTIN FOI DISTINGUIDO COM A ORDEM DE ORANGE-NASSAU, ORDEM DA ROSA BRANCA DA FINLÂNDIA, ORDEM DA ESTRELA DA ROMÉNIA, ORDEM DE LEOPOLDO II, ORDEM DE FRANCISCO JOSÉ, ORDEM DA FÉNIX E ORDEM DA COROA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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