Li e retive com atenção o que o meu companheiro de blogue, F. Fonseca Santos, escreveu ontem sobre um tema político atual e da maior importância: Pagãos-democratas .
A sua abordagem refere-se, no fundo, à falta de ideologia política que atualmente campeia pela Europa e pelo mundo. Não há dúvida que o mundo tem vindo a mudar, oferecendo um oceano de novas possibilidades a todos os cidadãos espalhados pelos cinco continentes. Já por muitas vezes falámos neste local dos instrumentos sobre os quais os dedos e os olhos dos nossos jovens se concentram, ingerindo o que eles contêm sem capacidade, na maior parte dos casos, de recorrerem ao contraditório, à verificação da verdade, à interiorização do seu pensamento e ao julgamento próprio do que lhes é anonimamente disparado. E tudo isso assenta, como temos dito, nas debilidades da educação, da cultura, do saber viver em sociedade contraditória. Diria, em sociedade democrática. É fácil de perceber que as disciplinas de História, Humanidades e Ética têm vindo a ser preteridas pela maioria dos que vêem, nas artes técnicas, uma muito maior segurança profissional. Quando essas duas vertentes do Saber se juntam, aparecem os que são capazes de interpretar a realidade do mundo.
As filosofias políticas tiveram origem forte na Grécia Antiga mas não precisamos de ir tão atrás. Os especialistas fazem-no melhor que nós. Mas, infelizmente, a maioria dos políticos deste mundo ignora o papel da filosofia política nos “limites e organização dos estados”, nas “relações entre sociedade, Estado e Moral”, as “relações entre economia e política”, as questões “sobre a liberdade, a justiça e as ideias”. Tudo isto teve protagonistas históricos que difundiram as suas ideias, muitas vezes diferentes das de outros protagonistas, e que deram forma ao mundo de convivências, democráticas de há bastantes anos para cá mas também, muitas vezes, de poder concentrado ou ditatorial.
Nomes como J.J. Rousseau, Maquiavel, Karl Marx, F. Engels, Hannah Arendt, Raymond Aron e muito outros deviam ser, pelo menos, do conhecimento, do enxame de “políticos” que se pavoneia pelo mundo fora. Não seria mau que, entre nós, se discutisse e avaliasse, à luz do conhecimento e não da discussão estéril e absurda, as linhas de pensamento de Eduardo Lourenço, António Sérgio, Mário Soares, Álvaro Cunhal, Francisco Sá Carneiro, Freitas do Amaral. Pensamentos políticos que tantas vezes se encontraram e discorreram de tantas maneiras diferentes. Isto não é “arqueologia política”, é a base para o entendimento das realidades diversas, da aceitação e respeito pelo que é diferente, é o saber viver em democracia. Por isso o termo “Pagãos-Democratas”, utilizado pelo meu amigo, talvez se aplique bem aos tempos que vivemos. Tudo isso evitaria a miserável demagogia a que todos os dias assistimos, proferida e propalada pelos que têm assento para o fazerem, usando mensagens larvares que mais não são do que demonstração de ignorância e falta de escola. Sim, sabemos que muitos desses intervenientes seguem uma escola nova, a do populismo, das redes sociais, dos fretes às igrejas, das falsas mensagens que, pela vergonha do que dizem, até são renegadas ou eliminadas. Sim, sabe-se da forma de eleger Donald Trump, Bolsonaro, Orban e muitos outros que protagonizam o mundo. Mas se esse mundo tivesse ido mais à escola, tivesse percebido o que são a ditadura e a liberdade, tivesse pensado para além do muro do seu quintal e do rebanho que apascenta, talvez o mundo estivesse mais compaginado com o que nos diz, quase sem repercussão, de dentro das paredes de S. Pedro, o Papa Francisco.
Obrigado pelo teu artigo, Frederico Fonseca Santos.