A MAGIA DAS ARTES

As artes, sejam elas quais forem, são sempre mares de escolhos, de incompreensões, de caminhadas agrestes e quase sem fim, que só alguns, muito poucos, conseguem vencer. Quando se fala de artes fala-se, claro, de artistas, dos que materializam as artes, lhes dão vida e as transportam para o mundo real. Seja o canto, a literatura, a pintura, a música, a escultura, o teatro, o cinema ou a ópera, todas são disciplinas que vêm de dentro das pessoas e aparecem no mundo exterior para serem vistas, lidas ou ouvidas por muitos que nem sequer suspeitavam da sua existência. A Arte é quase o antagonismo de aprender o que vem de fora, é transportar para fora o que nasce dentro de cada um. É como uma pulsão de um sentimento íntimo que se materializa, que se educa, se melhora e se transmite para quem o possa compreender.

A Arte é como um acto de liberdade, é viver da esperança das emoções e “viver um tempo sem esperança é quase mortal” (assim o diz Bernard Henry-Lévy). Por isso os artistas cedem e trabalham as suas magias, sempre na esperança de enriquecer o mundo e que este lhes retribua o reconhecimento de que tanto precisam para continuarem e desenvolverem as suas magias.

Vem esta introdução a propósito de uma jovem artista pintora de quem tive o prazer de admirar alguns quadros seus numa exposição coletiva (3 pintores) na qual as suas obras ganharam espaço e nos propuseram interessantes interrogações. O espaço chama-se Valsa e situa-se na Rua Angelina Vidal, em Lisboa. Trata-se de uma jovem de 22 anos, filha de pais angolanos, ambos antigos bailarinos do Balet Nacional de Angola, em Luanda. Chama-se Filipa Bossuet e a sua irmã, Cirila Bossuet, é artista teatral, já com uma carreira encaminhada, com quem tive, aliás, o prazer de conversar neste mesmo blogue (podem ver essa conversa num vídeo que aqui publicámos no dia 27 de Março de 2020). Ninguém duvidará que se trata de uma família de artistas, a magia corre-lhes nas veias, e expressam-na de maneiras diferentes mas sempre com a esperança de melhorar o mundo.

A sua paixão levou-a a frequentar cursos de artes plásticas. Começou por ser jornalista e licenciou-se em Ciências da Comunicação mas o seu instinto e a sua personalidade de Mulher, Negra e Feminista levaram-na a defender as causas que são a essência da sua vida, escolhendo a expressão mágica da pintura para materializar esses seus sentimentos. Especializou-se em pintura a óleo, principalmente pastel de óleo, e os seus quadros transmitem a humanidade, o angustiado sentimento da vida, a expressão mais delicada e íntima de si própria e dos que a rodeiam.

A arrepiante naturalidade deste seu quadro expressa bem a força da sua técnica, a magia e a paixão da sua arte. Quem a conhece vê-a ali espelhada e quem conhece o seu pai (o antigo bailarino angolano) percebe que nada podia ser mais igual, na atualidade, à expressão de esse ex-artista retirado. Com este fantástico “Corte de Cabelo” o pai, a pedido da filha, participa na formação da sua expressão corporal e apoia-a nos desígnios aos quais se entrega e pelos quais combate: Mulher, Negra, Feminista.

Grandes artistas pintores viveram e lutaram contra enormes adversidades e só alguns (de entre os milhares que revestem as paredes de muitos museus e galerias) conseguiram ganhar o esplendor da eternidade. Van Gohg, que viveu de 1853 a 1894, viveu aterrado pelos seus problemas psíquicos, procurando o isolamento e suicidou-se praticamente no anonimato. Quando da sua morte havia cerca de 700 quadros seus, guardados no sótão de uma galeria de Paris sem que alguém os quisesse comprar. Isto serve apenas de apontamento para ilustrar o que é a luta de muitos génios que só às vezes, tarde, são conhecidos. Não vai ser o caso da Filipa (Pipa) Bossuet. O extravasar da sua magia já se iniciou. A força da sua Arte já é conhecida e a convicção dos seus ideais já têm ecos nas sociedades atuais.

Convido-vos a visitarem o espaço Valsa e a admirarem algumas expressões pungentes dos quadros da Filipa. Estou certo que nunca se acumularão centenas de quadros seus sem comprador, como aconteceu com Van Gogh. A Arte vive da Esperança de poder criar e esse continuará a ser o caminho para a Liberdade. Bernard Henry-Lévy já nos avisou.

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