Viajar é uma das atividades talvez mais compensadoras da vida. Claro que é preciso poder fazê-lo. Mas sair, partir, conhecer outros locais, outras terras, outros costumes é uma lavagem para os olhos e para a alma e, ao mesmo tempo, uma oportunidade enriquecedora de se poder dar mais valor a tudo o que está mais perto de nós e que, tantas vezes, nos passa despercebido. Viajar é isto, pura e simplesmente. Ir, vir e relembrar. Sermos assaltados tantas vezes pelos perfumes, pelas cores e pelos costumes com os quais convivemos, mesmo que brevemente.
Mas esta introdução, infelizmente, é intencional. Assistimos hoje, por todo o mundo e também entre nós, a viagens inesperadas, intrigantes e cujos objetivos acabam por se desenhar. São viagens sem retorno pacífico, com um único objetivo: o de fugir, escapar a responsabilidades, no fundo tornar-se um pária de si mesmo. Há muitos exemplos na História, antiga e recente, casos em que os “viajantes” se despojam, aparentemente, de si próprios mas que, na realidade, se vão encontrar com outros despojos acumulados, sabe-se lá como, deixando para trás a fugaz esperança de um retorno. A Leveza do Ser é, muitas vezes, Insustentável, como tão bem disse Milan Kundera no seu tão famoso romance de 1984. Nenhum dos seus personagens contava com a “Primavera de Praga” e os seus conceitos de vida alteraram-se por completo.
“O mito do eterno retorno afirma, através da negação, que a vida que desaparece de uma vez por todas, que não volta, é semelhante a uma sombra, não tem peso, está antecipadamente morta e que, tenha ela sido atroz, bela ou esplêndida, essa atrocidade, essa beleza, esse esplendor não significam nada.”
Toda essa gente, tenha viajado ou se tenha resguardado, nunca mais poderá recuperar o falso prestígio alguma vez alcançado. Será que conseguem dormir de noite? Não terão pesadelos que os perturbem? Talvez não. São os “clowns” das nossas sociedades, que se mascaram, iludem, forjam amizades e ambientes de soberbo domínio que nada trazem de sério e solidário às sociedades em que se acolhem. Por isso, uma vez descobertos, fogem. Não para qualquer sítio, antes para um local onde as autoridades de quem fogem, apanhadas pela surpresa, tenham mais dificuldades em os fazer regressar. Nunca passaram, afinal, de bobos da corte que sempre influenciam com as suas falsas verdades, com os seus arrobos de poder mas que nunca deixam de ser aquilo que sempre foram: bobos.
A insustentável leveza do ser é um tema filosófico que se aplica a quem tropeça nas adversidades e se vê obrigado a adaptar-se às ondulações da sua espinha dorsal. É fundamental que a leveza do ser, embora leveza, seja sólida e coerente. O problema é que, por toda a parte, os bobos pululam.
E, voltando à introdução, que se continue a viajar, quando possível, para repouso da alma e maior leveza do ser.