NA NORUEGA NÃO HÁ DISSO…

Duas séries recentes da televisão (RTP2) vieram abordar, de forma muito acutilante, casos de corrupção e vícios das altas sociedades, do tipo das que nós censuramos existirem seja onde for, entre nós também. Tudo baseado em factos reais, as séries vêm pôr a nu os podres e os esgotos das sociedades ricas que sabemos existirem mas para as quais raramente se encontram provas factuais indiscutíveis. As séries passaram entre nós com os título traduzidos de “Fina Finança” e “Caça às Bruxas”. Tudo se passa em Oslo, capital da Noruega, país “purificado” há anos pelo petróleo e sempre respeitado por ser um mediador acreditado para solucionar diferendos bélicos que se têm passado no mundo. Não parece que possa servir para arbitrar a barbaridade que está em curso na Ucrânia, por razões evidentes de política europeia. Mas regressando ao nosso tema é bom não esquecer que, com a pureza das suas instituições, também tem, desde sempre, partilhado as honras das concessões de Prémios Nobel. Enfim, “rapaziada” do norte que, embora simpática, sempre vai olhando cá para o sul com olhares desconfiados, em sintonia com o famoso holandês que propalou, em plenos areópagos europeus, que o nosso país andava sempre mais entretido com “meninas e vinho tinto”… Esse rapaz não acabou bem e ficou provado que a ingestão “per capita” de álcool em Portugal é bem inferior às dos países nórdicos. Deve ser por causa do frio que os atormenta e das suas cidadãs que vêm “passar férias” a Portugal.

Mas deixemo-nos de brejeirices e voltemos aos temas das séries referidas. Numa delas (Fina Finança) são relatadas histórias verdadeiras de super ricos da elite de Oslo através de quatro amigos, banqueiros de investimentos, que se arrastam em vidas dissolutas num mundo paralelo de sexo, drogas e violência que os levam a extremos de imoralidade e de desracionalização pessoal. Partilham casas luxuosas, passeiam-se por arranha-céus e casas de férias no seu país e no estrangeiro, tudo como duplicidade às suas vidas domésticas bem reconhecidas na sociedade. Histórias e dramas amargurantes que os meios de comunicação noruegueses se sentem na obrigação de relatar.

No outro caso (A Caça à Bruxas) o drama não é menor. Uma competentíssima diretora financeira de um gigantesco consórcio de advogados de Oslo descobre um complicado esquema financeiro que pode trazer graves consequências à empresa. Ao tentar clarificar a situação percebe que todos os sócios têm conhecimento dos factos e os tentam escamotear das formas jurídicas mais elaboradas. A perseguição de que é alvo, numa luta aparentemente sem saída de uma mulher contra um mundo de homens, culmina com o seu despedimento ao abrigo de falsas acusações laborais. Ela sabe, como também muito bem sabe a autoridade fiscal de Oslo, que toda aquela gente vive e é comandada por um super-financeiro norueguês com os tradicionais paraísos fiscais e as falsas faturações que dava aos membros da administração da empresa os meios necessários para vidas super luxuosas. A luta daquela mulher, aparentemente derrotada na opinião pública, leva-a a pôr uma ação judicial contra a empresa e ser ela, pessoalmente, a defender-se perante o juri do tribunal. Conseguiu, com honra, ser ilibada pelo tribunal e a empresa obrigada a pagar-lhe uma verba altíssima pela forma incorreta como tinha sido conduzido o caso laboral. Apenas o caso laboral, porque a essência dos crimes praticados não foram dados como provados e a empresa continuou a trabalhar, escapando à inevitável falência. O tal super-financeiro que sempre foi acompanhando o caso e ameaçando gravemente testemunhas fundamentais, quando interrogado pela administração sobre o seguimento de um enorme projeto de urbanização que estava em causa, respondeu de forma lapidar: “Vamos esperar. Na próxima primavera já ninguém se lembra disto, e toda a gente sabe que na Noruega não há coisas dessas, casos de corrupção…”

É assim o mundo. Na Noruega, como em muitos outros países, essas coisas não existem… Deve ser por isso que há tantos super-milionários, ou oligarcas, a passear-se por todos os paraísos deste nosso pobre mundo.

Um pensamento sobre “NA NORUEGA NÃO HÁ DISSO…

  1. Demasiada riqueza pode levar a abusos e corrupção para obter mais riqueza. E não é consolação dizer que não levam o dinheiro para a cova!. Continua a ser muito difícil a uma sociedade de pessoas honestas defender-se desses fulanos. Na vida real, poucos terão a coragem da personagem da série

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