JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA

Faz hoje, 23 de Junho de 2022, 128 anos sobre a iniciativa de Pierre de Coubertin de proclamar o restabelecimento dos Jogos Olímpicos. Fê-lo a 23 de Junho de 1894 numa sessão solene no anfiteatro da Sorbonne. Criou a entidade do Comité Olímpico Internacional (CIO, de acordo com a designação francesa de Comité International Olympique) e passou a designá-los por Jogos Olímpicos da Era Moderna. E no encerramento desse discurso Coubertin proclamou a célebre frase : “E à noite, a electricidade transmitiu por toda a parte a novidade que o olimpismo helénico tinha reentrado no mundo depois de um eclipse de vários séculos.”

Desde essa época o olimpismo tem-se desenvolvido imenso seguindo, de início, os seus lemas de amadorismo, e de respeito pela máxima : “mais rápido, mais alto, mais forte”, criada pelo padre Henri Didon, amigo do Barão Pierre de Coubertin.

Ao longo dos anos praticamente todos os países do mundo foram criando os seus próprios Comités Olímpicos Nacionais e passaram, dessa forma, a integrar o espírito e a prática olímpicos. O mundo tem vindo a mudar, mudou mesmo muito relativamente ao ano de 1824. As modalidades desportivas foram-se sofisticando, uma multidão de novas modalidades foi surgindo e o Comité Olímpico foi acolhendo essas novas expressões desportivas no quadro das suas intervenções. Ao longo dos anos as cidades candidatas à realização dos Jogos (tanto os de verão como os de inverno) foram aumentando. Os processos de seleção foram sendo cada vez mais complexos e as cidades organizadoras (no fundo apoiadas pelos governos dos seus países) foram criando cerimónias e apresentando espaços dedicados cada vez mais volumosos e, portanto, dispendiosos. Nestes últimos anos os países começam a revelar uma muito maior prudência nos custos das organizações. Já não há uma multidão de candidatos, já começaram os interesses políticos e de visibilidade a interferir nos processos de candidatura. Novas e modernas modalidades, como , por exemplo, os E-Games, candidataram-se oferecendo excelentes vantagens financeiras para a sua rápida inclusão. O Comité Olímpico Internacional não tem desdenhado essas vantagens financeiras que bem jeito lhe fazem para fazer face aos constantes pedidos de apoio por parte dos Comités candidatos. A inspiração frugal e ideológica de Coubertin tem sido reformulada em função dos tempos, dos poderes de decisão, dos terríveis mecanismos administrativos que se foram criando para poder fazer face ao vulcão desportivo em que os Jogos se têm vindo a transformar. Digamos, com rudeza, que o dinheiro tomou conta do olimpismo.

Os atletas que aspiram a participar em Jogos Olímpicos vivem essa experiência, e muito bem, como o vértice superior dos seus esforços, das suas lutas , das suas esperanças. Esses, os atletas, continuam a ser a matriz fundadora de Coubertin. Procuram e exigem apoios que são escassos e nunca suficientes para as jornadas de treino a que têm de se dedicar durante anos.

Outros e diversos males têm vindo a criar enormes problemas éticos e legais no mundo do Desporto, não só dos Jogos. E criam-se cada vez mais instituições para controlar, monitorizar, investigar tudo o que de menos bem se faz no Desporto. E os custos aumentam, é a vida que os impõe.

Tenho esperança que os maiores responsáveis olímpicos estejam a amadurecer estes conceitos. Não basta receber comendas e outras prebendas. Mesmo confrontados com os impulsos dos tempos de hoje não seria dispiciendo que fossem avaliadas estas novas condicionantes e apresentados moldes inovadores para o futuro desempenho do “olimpismo helénico”. Pelo que me é dado observar são muitos os congressos, assembleias, comissões de trabalho para multidões de assuntos que, de uma forma geral, colaboram em aumentos de despesas cada vez mais inconciliáveis com as realidades desportivas da maioria dos países.

A data de hoje poderia muito bem ser o sinal de alerta para essa reflexão. Se Coubertin vivesse hoje que proporia ele? Uma pergunta para a qual seria interessante encontrar respostas. O Comité Olímpico Internacional não se pode transformar na Assembleia Geral das Nações Unidas.

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