ASSASSINADOS

No seu livro acabado de ser publicado em França, com o título de “Assassinés” (Editora Tempus), o diretor-adjunto do Figaro Magazine, Jean-Christophe Buisson, leva-nos a pensar na importância que diversos assassinatos de chefes de estado, ao longo da História, tiveram no desenrolar dos acontecimentos posteriores e futuros. Começa por relembrar o que disse o Primeiro Ministro inglês Disraeli, quando do assassinato do Presidente Abraham Lincoln: “Nunca nenhum assassinato mudou a história do mundo”. Disraeli enganou-se como a História veio a provar ou, mesmo na época dele, já teria mostrado.

No livro agora publicado Buisson enumera dezasseis tragédias que mudaram o mundo. São bons exemplos disso o assassinato de Julio César, em Roma, que acelerou o processo de destruição da República; ou o de Robespierre que pôs fim à época do terror em França, a época mais cruel da Revolução Francesa; ou o do Arquiduque Francisco Fernando que precipitou todo o continente europeu para a Primeira Guerra Mundial.

No fundo, como sugere Buisson, Marx tinha razão ao dizer: “A violência é a face inteligente da História”. Mesmo nas nossas democracias , durante muito tempo preservadas depois da brutalidade de 1945, acabamos por perceber que esses “anos frívolos” já passaram. Apesar das boas declarações , dos direitos do homem e do estado de direito, a violência regressou ao ocidente. E no seu livro Buisson relembra , para além dos já referidos, os casos de Henrique III de França que, depois de suportar, durante o seu reinado, 4 guerras religiosas e terríveis crises políticas e económicas, acabou por ser assassinado em 1589, esfaqueado pelo dominicano Jacques Clément. De pouco lhe valeu ser conhecido pelo rei “Incorruptível”. Mas aponta também o caso da Imperatriz da Áustria, Isabel da Baviera, mais conhecida por Sissi, que, depois de todas as atribulações do seu reinado e dos desgostos familiares que a levaram a grande depressão, acabou por ser morta, numa viagem a Genève por um anarquista italiano chamado Luigi Lucheni. E continua com o exemplo de Maximiliano I do México, irmão mais novo do Imperador Francisco I da Áustria, que aceitou a oferta de Napoleão III de França para ascender ao trono mexicano. Em 1864 foi declarado Imperador do México, recebendo o apoio de potências europeias, como a Rússia, a Áustria e a Prússia. Os Estados Unidos nunca o reconheceram e com o fim da Guerra Civil americana, em 1865, a situação ficou insustentável com a saída das tropas francesas do México. Acabou por ser capturado e executado por forças do governo republicano mexicano em 1867.

Em tempos mais recentes é relembrado o caso de Nicolau II, da família dos Romanov, último czar russo, morto em conjunto com a sua família. Mais perto de nós temos os casos do nazi Heydrich, do africano Lumumba ou de Sadate. O autor assume por vezes o ponto de vista da vítima, outras vezes a do carrasco. O seu trabalho concentra-se no momento extremo de uma trajetória política. Estes assassinatos são muitas vezes negligenciados pelos biógrafos. Quem conhece a estranha personalidade de Jacques Clément, o jesuita que matou Henrique III? Quem se interessa pelas razões dos assassinatos do chanceler Dollfuss ou de Patrice Lumumba? Não deixa de referir o caso de Zoranc Dindic, da oposição sérvia, abatido por um “sniper” pago pela mafia.

Todos estes factos históricos interrogam-nos sobre a questão filosófica do “tiranicídio”, prudentemente legitimado pelos jesuitas e, com muito menos reservas, por multidões de revolucionários de salão que se manifestam livremente, aproveitando a democracia que não ajudaram a criar mas à luz da qual se abrigam dos seus desmandos. Os tempos de hoje provam-nos que os assassinatos , pessoais ou de carácter, são algo com que as democracias têm de lutar, enquanto tiverem força para o fazer, claro!

Deixe um comentário

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s