A História colonial portuguesa foi realmente muito longa. Foram séculos de permanência em territórios descobertos e conquistados, foi uma epopeia marítima tão destemida, que muitos já a compararam às aventuras extra-terrestres dos tempos modernos. Como sempre foi a Ciência que permitiu o arrojo das navegações com rumo, com instrumentos novos, com visionários e homens de ação que, em conjunto, grande parte das vezes sem expectativas de regressso, conseguiram chegar a terras desconhecidas, dar forma aos mapas da Terra, implantar as suas crenças religiosas, relacionar-se com os povos nativos e, finalmente, fazer comércio de tudo o que na sua terra natal não existia e era soberanamente negociável. Foi tudo isso que fez de Portugal, deste pequeno país onde nos encontramos, um país exuberantemente importante durante os séculos das descobertas. Tudo isto consta de tratados desenvolvidos e foi alvo dos maiores estudiosos dos últimos séculos. Estas linhas são apenas a introdução para uma História mais próxima, menos gloriosa mas muito verdadeira para muitos dos portugueses ainda vivos.
Os tempos tudo mudam, a ciência política ensina-nos que é preciso estar atento às primeiras brisas soprando de quadrantes diferentes e foi essa ciência que nos faltou há cerca de 60 anos para que tivéssemos tido êxito e modernidade nessa mudança do azimute da brisa que se transformou, rapidamente, em tempestade. A História desses territórios descobertos e que governámos durante séculos é uma epopeia de que nos devemos orgulhar pelo contributo civilizacional que trouxe ao mundo. Quando a tal brisa já não era brisa mas vento forte, não soubemos compreender o novo planisfério em que vivíamos. De colónias, como lhes chamávamos, passámos a apelidá-las de “províncias ultramarinas” imaginando que essa transformação ortográfica acompanharia os tais ventos fortes antes de se transformarem em tufões como veio a acontecer.
E a partir dos anos 40/50 do século passado esses territórios, maiores ou mais pequenos, quiseram ser independentes ou talvez as tais ventanias lhes tenham sugerido essa tal libertação. Foi só nos anos 60 que, por inviabilidade negocial, esses territórios iniciaram lutas ferozes de libertação e independência que tiveram, como resposta, um reforço militar recrutado na metrópole, composto por muitos militares e toneladas de materiais que prolongaram os tempos de luta e foram, progressivamente, empobrecendo o país. Uma guerra inútil, sem fim à vista, que foi dizimando uma ou duas gerações de militares, recrutados à pressa e despachados para os teatros de luta, com mais alma de sobrevivência do que experiência de combate. Muitos por lá ficaram, muitos conseguiram regressar, muitos com danos físicos da guerra de que, ainda hoje, muitos se queixam. Uma guerra desastrada que durou cerca de 13 anos seguidos e que martirizou uma população, os que ficavam e os que partiam. Só com a chegada do 25 de Abril de 1974 se resolveu o problema, talvez com alguma precipitação mas libertando um povo que há muito se “considerava amordaçado”.

Em muitas terras de Portugal essa angústia e as lágrimas das partidas foram devidamente representadas. Vejo, há anos, a solução encontrada em Tavira para esse “Adeus Colonial”.
Tavira era uma cidade com um importante regimento militar de onde sairam muitos dos seus militares para as diversas frentes de combate. Em Janeiro de 2001 a Câmara Municipal decidiu mandar construir um arranjo escultórico, da autoria de Francis Tondeur, junto à estação de combóios da cidade, que exprime bem o que se passou naquela terra e por todo o país. Naquele “Adeus” da jovem tavirense lêem-se ou suspeitam-se as furtivas lágrimas de desespero por ver partir alguém, que lhe era querido e pela alma de quem conflituavam as esperanças de voltar, com as dúvidas de um regresso incerto. Felizmente muitos voltaram e ainda estão vivos. Estou certo que passarão por lá, de quando em quando, e lembrarão os seus próprios casos. Espero que esses pais e avós saibam contar aos filhos ou aos netos uma parte importante das suas vidas que muitos deles talvez nem sequer suspeitam.
Um país e um povo que sofreu o que os portugueses sofreram nunca deixará de existir da comunidade mundial, pelo exemplo que deu e pela insuspeitada coragem com que se disporá a enfrentar todas as vicissitudes que os “profetas” anunciam. Quando passarem por Tavira vão até à estação dos combóios.
Também já tirei fotografias a esse, direi comovente,. grupo escultórico. A guerra colonial foi a tragédia da nossa geração, como dizes e muito bem, por incapacidade política de dirigentes ditatoriais que não conseguiram perceber a evolução da humanidade
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Muito interessante, este texto. Fiquei cheio de saudades de Tavira. A ternura de uma cidade, que os tempos de namoro, me deu a conhecer. Sempre que lá passávamos, estas duas criaturinhas esculpidas em bronze, eram o motivo de conversa entre minha mulher e eu. Histórias de grandes amizades, que se espraiam na suavidade do seus dias calmos…!.
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