Não sou algarvio de nascença mas sou algarvio por afetos. Nascido e criado em Lisboa fui pela primeira vez ao Algarve em 1957. Fui em demanda do sotavento algarvio, o lado para onde sopra o vento dominante naquelas paragens, mais concretamente a Monte Gordo, onde se encontrava o “objeto” das minhas peregrinações. Essas minhas incursões prolongaram-se ao longo dos anos pelo facto do tal “objeto” se ter transformado na mais forte razão da minha existência. Não é difícil adivinhar do que se trata. Dessa forte razão surgiram outras três fortes razões que, por sua vez, nos contemplaram com mais nove fortes razões. Ninguém se admirará, portanto, que tenha passado a apelidar Monte Gordo de “Capital do Mundo”. Por lá continuamos cada vez mais radicados, rodeados de amigos que já o eram, desde há muito, do tal “objeto” transformado em “cara metade”, mas que fazem o favor de também me franquearem a sua amizade. Sem qualquer dúvida, Monte Gordo é, para nós todos, o albergue mental e espiritual para todas as estações: para as de calor sufocante e para as de horroroso frio húmido que nos deixa os lençóis como que molhados ao entrarmos na cama. É assim o sotavento, é assim Monte Gordo.
Ao lado de Monte Gordo, a escassos quatro quilómetros, está a sede do concelho, a linda cidade de Vila Real de Santo António. E nessa cidade está a sede do Jornal do Algarve, periódico que, tendo sido fundado em 1957, faz agora o seu 60º aniversário. Perante estas coincidências de vidas (a da minha primeira ida àquela terra, com a da fundação do jornal) não poderia, naturalmente, deixar passar em branco esta data sem uma referência amistosa.
Não conheço pessoalmente nenhum dos membros do Jornal do Algarve mas sou seu leitor fiel desde há muitos anos. Somos assinantes e recebemos todas as semanas, sem falhas, o aparentemente modesto exemplar do jornal com todo um conjunto de notícias que interessam à terra, aos seus habitantes e, em termos gerais, a todo o Algarve.
Podemos apelidar este jornal de um órgão sério de comunicação social. Tem sempre artigos interessantes, escritos por gente de muito valor, tem artigos de defesa dos interesses algarvios, infelizmente tantas vezes descuidados, inclui também as notícias da terra que interessam, naturalmente, mais aos que a conhecem mas onde sempre encontramos uma referência a qualquer coisa ou pessoa que nos é familiar. O primeiro número do Jornal do Algarve foi publicado no dia 30 de Março de 1957, três meses antes da minha primeira visita àquela terra. Pernoitava-se, nessa altura, na Pensão da Espanhola, único simulacro de “petit” hotel que lá existia. Aí se encontravam todos os que, como eu, demandavam aquelas paragens e daí nasceram amizades que ficaram para a vida. Toda essa gente se encontrava à noite, no velho Casino de Monte Gordo, onde hoje se encontra um mamarracho que deixou de ser provisório para passar a ser, assim receio, definitivo.
Todas as histórias da época e tudo o que, desde então e até agora, se tem vivido e passado na região foi relatado pelo Jornal do Algarve. Sei que tem superado enormes crises financeiras mas não de identidade. Sei que se tivesse muito mais assinantes a sua vida seria um pouco mais desafogada. Mas sei que a sua missão e a sua ética editorial se têm mantido ao longo dos anos. Por isso insisto para que meus amigos algarvios daquela terra assinem o Jornal do Algarve. Lê-se em meia hora mas respira-se durante toda a semana. O Jornal e eu fazemos os mesmos anos de vida em Vila Real e Monte Gordo. Isso bastaria para ficar feliz. Mas acho importante dar daqui os Parabéns ao Jornal e aos seus mentores, dar-lhes ânimo para que continuem a sua enorme missão. É assim que o país poderá notabilizar-se. Dando-se a conhecer e dando a conhecer uma parte tão importante e tão deslumbrante do Algarve, o seu Sotavento.
Parabéns ao Jornal do Algarve!
Achei sublime, a forma de descrever o motivo de tanta devoção, que o levou, feito peregrino, cheio de fé, àquele cantinho do Sotavento Algarvio. Uma moira encantada, que de moira, não tinha nada…! Talvez, descendência de um Cruzado, que por aquelas terras se fixou, após a reconquista do Afonsos ou do Sancho, como nos reza a história…! Curiosa coíncidência…! Também as areias escaldantes de Monte Gordo, foram testemunho das minhas cruzadas, na conquista de um coração da moirama. Eram uns olhos negros, pele trigueira, e um sorriso, não escondido sob um véu. E assim, foi a minha odisseia, entre as Areias de Portugal e a Fonte dos Amores, se acaso me é devido parafrasear Camões.
Também, ainda desse Algarve, que nos encantou e ainda nos encanta, gostei muito do elogio, ao esforço que os jornais regionais fazem em prol das suas terras. É interessante, ler naqueles jornais periódicos, um pouco a vida e os progressos do quotidiano das suas regiões, sem o aparato das notícias de última hora, dos grandes vespertinos, que sabemos muito bem, que já deixaram de o ser. Pela qualidade dos assuntos, passei a ser um atento leitor deste Blog !
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